A tendência comum das pessoas, por mais esclarecidas que sejam, é a de serem servidas e bem servidas. Principalmente entre pessoas de classe alta não é comum alguém se dispor a servir. Existem os funcionários e outras pessoas designadas para tal fim.
Se é difícil espontaneamente alguém servir, o mesmo não acontece com o servir-se. Por vezes, chega a provocar um certo tumulto em razão da pressa, ou da ganância, de alcançar o melhor, o mais precioso e o mais elevado.
Em muitos eventos, falta a delicadeza, o respeito e a paciência. O pensar comum é de que, quanto mais rápido se servir, mais possibilidades de se sentir satisfeito.
Essas são manifestações que revelam o comportamento humano de nossa sociedade. Expressam uma realidade não muito edificante, pois deixam entrever a ansiedade de ser o primeiro, de ser o melhor, o maior e o mais bem-sucedido. Esquece-se da delicadeza de respeitar as limitações dos demais.
Põe por terra a grandeza de alma em poder apreciar o olhar de gratidão de alguém surpreendido por um gesto de generosidade.
Demonstra claro o atropelo com que age a maioria. Tem pressa em tudo que faz e em tudo que está para receber. Mesmo sabendo que a pressa é inimiga da perfeição, existe quem não comungue a delicadeza e a alegria de se colocar a serviço, seja no ambiente familiar, seja no ambiente social, seja no ambiente religioso.
Enquanto isso acontece, a felicidade continua batendo à porta, aguardando que alguém abra para a acolher e celebrar. Feliz de quem descobriu esse segredo e abriu o coração, acolheu e se pôs a servir alguém que apareceu em seu caminho.
Às vezes, será alguém açoitado pela dor, alguém afundado na angustia, alguém perseguido pela dúvida, ou martirizado pela revolta e até agoniado pela ansiedade. Ao acolher e servir um vivente desses, terá a surpresa de descobrir que acolheu e serviu ao próprio Deus.
Para as pessoas comuns, isso pode não significar nada. Mas para quem tem um coração sensível aos apelos da vida, isso será uma conquista e uma celebração permanente e feliz. Para quem decidiu amoldar seu viver ao viver de Deus, certamente terá gestos generosos de conforto e de esperança para esses corações sofridos. Sentirá em si essa grande verdade de que os gestos, por mais simples que sejam, engrandecem e santificam.
Essas pessoas são especiais. São raras em nosso mundo ganancioso, apressado e preconceituoso. São pessoas que admiramos. São pessoas queridas no ambiente. E a sociedade, porém, continua em seu jeito de ser e de fazer. Não decide sair do esconderijo egoísta, pois imagina que nele está segura e tranquila, muito embora surjam dúvidas e incertezas quanto ao futuro pessoal e da própria sociedade.
Somente pessoas que cultivam a humildade, alimentam a simplicidade e se deixam iluminar por Deus conseguem organizar seus sentimentos de solidariedade e de partilha e realizar o milagre de uma vida nova e saudável. Essas são pessoas privilegiadas, pois encontraram o tesouro de que o servir engrandece.