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CORREIO DO ESTADO Confira o editorial deste sábado/domingo: "Atenção à segurança" Confira o editorial deste sábado/domingo: "Atenção à segurança" 2 SET 2017 • POR • 03h00

O cidadão que paga corretamente seus impostos, já é obrigado a ficar enclausurado para fugir da onda de violência.

O momento é de tensão. Em meio a índices assustadores de roubos, furtos e dos absurdos casos de execuções na guerra de facções criminosas, policiais militares ficaram aquartelados durante 24 horas. A adesão à paralisação foi pequena e muitos mantiveram a rotina normal de trabalho. Mesmo assim, a preocupação permanece porque o Governo Estadual ainda não sinalizou atender às reivindicações de reajuste salarial. Há possibilidade de novos manifestos ou redução de serviços, situação agravada pelo  efetivo já deficitário e “corrida” por novas aposentadorias. O cidadão que paga corretamente seus impostos, já é obrigado a ficar enclausurado para fugir da onda de violência que cresce a cada dia. Agora, teme que essa insegurança agrave-se ainda mais pela inércia do poder público. 

Na madrugada de sexta-feira, antes do início previsto para suspensão de atendimento a ocorrências, um caixa eletrônico foi explodido na região do Indubrasil. No Jardim Centro Oeste, mercado foi alvo de assaltantes; dois deles foram baleados e um morto. Não se sabe se já há co-relação com o anúncio de aquartelamento, mas os casos servem como amostra da falta de segurança arraigada no dia a dia dos moradores de Campo Grande. Impossível não lembrar, neste momento, do caos vivenciado no Espírito Santo em fevereiro deste ano, quando policiais militares ficaram nos batalhões durante uma semana. Cidades capixabas tornaram-se “terra sem lei”. Agências bancárias não funcionaram, hospitais pararam de atender, aulas foram suspensas, pois a população não conseguia mais sair às ruas. O caos tomou conta. 

O movimento de ontem foi bastante reduzido. O atendimento a ocorrências em Campo Grande e em cidades do interior do Estado funcionou normalmente. Isso, porém, não exime a necessidade de a gestão estadual refletir sobre as definições adotadas na hora de conceder reajustes salariais. Policiais militares queriam, obviamente, aumento maior e mais investimentos em pessoal ou em viaturas. Mas, reclamam também da discrepância em relação ao índice concedido aos policiais civis, de 7%. O dos PMs varia de 3,55% até 5%. É preciso, nas negociações, avaliar o histórico de benefícios e justificar os valores para que injustiças não sejam cometidas e resultem em tumulto. 

Esse convencimento sobre as dificuldades financeiras torna-se, sem dúvida, mais complicado quando surgem escândalos envolvendo denúncias de corrupção e desvios com dinheiro público, a exemplo do recente esquema da cúpula do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul (Detran/MS). Por isso, a transparência é fundamental. As prioridades não podem ser enfatizadas somente na campanha eleitoral. Hoje, o setor da segurança foi duramente castigado pelo contingenciamento de investimentos, inclusive do Governo Federal, que negligencia o problema da falta de efetivo na região fronteiriça. 

É preciso atenção com ações que coloquem em risco o interesse público. Os policiais militares precisam de perspectivas melhores de valorização na carreira em consonância com a expectativa dos moradores que desejam mais proteção. Independente de “greve”, há uma lista enorme de mudanças pendentes na área da segurança, que merecem mais atenção.