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correio do estado Editorial desta segunda-feira: 'Ferrovia ainda na UTI' Editorial desta segunda-feira: 'Ferrovia ainda na UTI' 7 MAI 2018 • POR • 03h00

Governo federal elegeu investimentos ferroviários como prioridade para este ano. Espera-se que esta não seja mais uma das promessas não cumpridas. 

Atravessando o território de Mato Grosso do Sul de leste a oeste, a Ferrovia Noroeste do Brasil foi essencial para o desenvolvimento do Estado no início do século passado. Inaugurados em 1917, os trilhos do trem trouxeram comerciantes, imigrantes e produtores, todos em busca de um futuro melhor.

Foi no entorno das estações ferroviárias que surgiram muitas cidades, ainda em território mato-grossense, e também foram por esses trilhos que passaram gado, minério de ferro e tantos produtos para exportação. O que, no passado, foi o principal meio de escoamento da produção do Estado, hoje, a ferrovia – desgastada pela falta de manutenção – luta para sair da UTI. 

Esse processo de precarização deu-se após a entrega da malha ferroviária à iniciativa privada. Trata-se de um dos meios de escoamento de produção mais competitivos do mercado, desperdiçado por aqui.

A briga para manter ativa a malha ferroviária é antiga e foi intensificada quando a concessionária Rumo, hoje responsável pelo serviço, praticamente suspendeu o transporte ferroviário no Estado.

Entre os produtos exportados pelos trilhos do trem, o destaque está na celulose, produzida em Três Lagoas, saída para o Estado de São Paulo. Poderia ser muito mais, não fosse o processo de sucateamento pelo qual foi submetida toda essa estrutura e que custou não apenas trilhos e dormentes, mas terminais, locomotivas e até mesmo empregos – nos últimos anos, foram mais de 300 demissões no Estado.

Por isso, a inclusão dos investimentos ferroviários como prioridade na agenda deste ano reacende a expectativa de que Mato Grosso do Sul volte a ter uma rede ferroviária competitiva. Nesta semana, como mostra reportagem do Correio do Estado, o Ministério dos Transportes anunciou a prorrogação de cinco contratos de concessões de ferrovia, incluindo a malha de Corumbá a Santos (SP).

Essa contrapartida vem ao encontro das ações para a reativação desse transporte, hoje praticamente inexistente. Para investir na malha, a empresa Rumo pediu – ainda em 2015, quando deu-se início a uma série de discussões entre governos do Estado e Federal e a companhia, para que a ferrovia continuasse a operar no Estado – prorrogação do prazo para que o investimento necessário fosse viável. 

São necessários nada menos que R$ 2 bilhões para recuperar a ferrovia em Mato Grosso do Sul, e a esperança é de que, com a prorrogação, a concessionária possa antecipar esses investimentos. Um passo foi dado: a Rumo pretende investir na recuperação e na modernização da malha paulista, que deve beneficiar a região leste do Estado. Que este seja o primeiro passo, não o único. 

Elegendo como agenda prioritária de 2018 investimentos no Centro-Oeste (Ferrogrão) e Ferrovia da Integração, o governo federal pode transformar MS em entreposto do maior corredor de escoamento de grãos do Brasil.

A esperança é de que esses projetos, incluindo o da Ferrovia TransAmericana – que pretende ligar o porto da cidade de Ilo, no Peru, ao porto de Santos (SP), passando por MS –, saiam do papel. Porque já foram muitos os projetos de recuperação dessa ferrovia ao longo dos anos.