Mariana Trigo, TV Press
Um casamento em conflito e observado com uma irônica lente de aumento é o tema central de "Separação?!", que estreia no próximo dia 9 na Globo. O novo seriado, protagonizado por Débora Bloch e Vladimir Brichta nos papéis de Karin e Agnaldo, mostra o cotidiano de um casal que, após oito anos de casamento, começa a perceber que tudo que enxergava de virtude no outro vira um grande defeito. Daí para as sucessivas brigas, xingamentos e ofensas mútuas é um pulo. É justamente nesse momento delicado da relação que se inicia a produção assinada por Alexandre Machado e Fernanda Young, mesmos roteiristas de "Os normais".
No comando das cenas eletrizantes do seriado, sempre com um humor ágil e piadas ferinas, o diretor José Alvarenga Jr. acompanha de perto cada detalhe das tomadas dos episódios. Como o que vai ao ar no dia 16 de abril, quando Karin se desespera com a indiferença de Agnaldo num restaurante. "’Os normais’ era um casal doido que tentava a normalidade. Esse é um casal normal que vai ficando doido. Isso faz uma diferença muito grande no modo de conduzir", avalia Alvarenga.
A perspicácia do diretor, já acostumado com o texto veloz dos roteiristas, faz toda a diferença durante as gravações. Na cena gravada em um cenário de restaurante, Alvarenga repete insistentemente para que haja rapidez numa câmera sobre trilhos e nos movimentos de Débora, na pele de Karin. Tudo para dar um gestual mais engraçado a uma cena que é trágica para o casal, mas banal para quem avalia de fora. Na tomada, Agnaldo entra rapidamente no restaurante, nem encara a mulher e já vai dizendo: "Quero um medalhão com arroz à piamontese. É a única coisa que presta nesse lugar!", quando a personagem de Débora retruca: "Dane-se a comida, Agnaldo! Você acha que te chamei para almoçar porque estou com fome?". No instante seguinte, Alvarenga grita: "Mais velocidade Brichta! Chega correndo! Fala correndo! Débora, pega o rosto dele com força! Com raiva! Mais rápido!".
No desenrolar da cena, sem nenhum caco inserido pelos atores, velocidade é a palavra mais ouvida por toda a equipe, inclusive os cameramen. Ao longo da temporada do seriado neste ano, os personagens vão sutilmente entendendo a gravidade da crise no casamento. "Leva-se muito tempo para se separar, até chegar ao momento do desprezo na relação. E eles ainda se amam. São ligados pelas raivinhas, pela irritação. Mas são infantis e imaturos, nunca param para conversar sobre o que realmente importa", analisa Débora.
"Ninguém se separa porque o outro mastiga alto. Eles estão sempre grudados numa casa de três quartos, precisam estar perto. Estão loucos para se abraçar ou cair no tapa. No fundo, os dois gestos querem dizer: eu preciso de você", filosofa Brichta. No decorrer dos episódios, a mixagem entre o amor e ódio dos protagonistas influencia e "contamina" os demais personagens, como a nova chefa de Agnaldo, Anete, vivida por Rita Elmor, ou a dona da escola em que Karin trabalha como professora, a diretora Cinira, de Cristina Mutarelli. Esta vira uma espécie de conselheira sentimental. Mas quem sofre mesmo com as desavenças do casal são os "pombinhos" Gilda e Delgado, de Cláudia Ventura e Marcelo Várzea, amigos íntimos de Karin e Agnaldo que sonham em ter um filho. "A implosão do casamento deles vai destruir a relação da Gilda e do Delgado também. Esse programa mostra uma contemporaneidade, uma velocidade explícita nas relações, uma deterioração do moralismo. Isso dá o tom da comédia", valoriza Alvarenga.