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Política OMS alerta para os riscos da automedicação OMS alerta para os riscos da automedicação 7 ABR 2010 • POR • 20h02

SCHEILA CANTO

 

Hoje comemora-se o Dia Mundial da Saúde e o alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) é para os riscos que envolvem a automedicação, um problema sério em diversos países, entre eles o Brasil. Dados da OMS mostram um percentual superior a 10% das internações hospitalares ocasionadas por reações ao mau uso de medicamento. No Brasil, 80 milhões de pessoas têm o hábito de se automedicar, segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas – Abifarma. Outra constatação é do Centro Integrado de Vigilância Toxicológica de Mato Grosso do Sul (Civitox) é de que a maioria das intoxicações são causadas por uso indiscriminado de medicamentos, superando a incidência com agrotóxicos e animais peçonhentos.

Quem pratica a automedicação não sabe, por exemplo, que uma mistura inocente entre um anti-inflamatório e um descongestionante nasal pode provocar uma parada cardíaca. Mulheres devem ficar ainda mais atentas. Aquelas que tomam anticoncepcional podem ficar grávidas sem saber o porquê. Basta ingerir o anticoncepcional combinado com antibióticos para que a pílula perca sua eficácia.

No dia a dia, essas combinações perigosas são mais do que comuns e para os especialistas elas têm um nome: interação medicamentosa. Quando tomados combinadamente as drogas podem causar reações drásticas no organismo e em alguns casos até mesmo a morte. "Os efeitos adversos de um medicamento que constam na bula, podem aparecer quando tomados sozinhos, mas não são os mesmos em caso de combinação com outros medicamentos", explica o presidente do Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul, Ronaldo Abrão.

Combinar dois ou mais medicamentos sem orientação médica ou alterar as doses previamente estabelecidas, por conta própria, ingeri-los com leite, suco ou chás, também podem causar sérios problemas, alerta o farmacêutico. Os remédios para emagrecer combinados a antidepressivos, podem provocar cardiopatias. Outras drogas, se tomadas com doses aumentadas, alteram a pressão e elevam o risco de infarto.

Outro problema bastante comum é o paciente não revelar ao médico que está fazendo uso de medicamento por conta própria e associá-los à receita recebida na consulta. Ou ainda, buscar uma segunda opinião médica e conjugar as duas receitas. "Dependo das substâncias, essas combinações podem matar em vez de curar. Exemplo: se a criança estiver usando antiespamódico (contra cólica) e descongestionante nasal e fizer o uso de broncodilatador com nebulização, corre o risco de ter uma parada cardíaca, pois terá os batimentos do coração dobrados", alerta.

Segundo Civitox outra medicação frequentemente tomada sem orientação médica são os diuréticos, que podem levar a graves complicações como desidratações, hipotensão, hipopotassemia e arritmias.

O médico Paulo Celso dos Santos Moreira relata que, na prática clínica, é bastante comum o uso abusivo e contínuo de anti-inflamatórios não-hormonais, que aliviam a dor e a inflamação, porém acarretam inúmeros danos à saúde e ao tratamento.

"A maioria de nossos remédios pode matar se usados de forma inadequada ou excessiva. Um exemplo disso é a medicação usada para aumentar o poder de contração do músculo cardíaco, os digitálicos. A intoxicação leva o paciente a anorexia crescente, seguida de náuseas e vômitos. Posteriormente, aumentam as arritmias cardíacas de maior complexidade, até as potencialmente fatais", adverte o cardiologista.

Uma solução para reduzir os riscos da automedicação seria um maior rigor na venda destas substâncias, com retenção das receitas nas farmácias, sugere doutor Paulo Celso. "Entretanto, lamentavelmente, a maioria dos medicamentos é vendida livremente, sem nem precisar de prescrição médica", finaliza.