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MUNDO Papa diz em livro que padres gays devem largar o sacerdócio 'em vez de viver vida dupla' Papa diz em livro que padres gays devem largar o sacerdócio 'em vez de viver vida dupla' 2 DEZ 2018 • POR G1 • 17h42

Homens com tendências homossexuais não deveriam ser admitidos no clero católico, e seria melhor para os padres ativamente gays abandonar o sacerdócio em vez de levar uma vida dupla, afirmou o Papa Francisco em um livro que será lançado nesta semana.

Embora o Papa já tenha falado antes sobre a necessidade de uma melhor triagem de candidatos para a vida religiosa, o comentário sugerindo que padres que não podem manter seus votos de celibato devem deixar o sacerdócio é um dos mais enfáticos sobre o assunto até o momento.

Francisco deu a declaração em entrevista para um livro do padre espanhol Fernando Prado, que aborda os desafios de ser padre ou freira nos dias atuais. O título da obra é "O poder da vocação".

Francisco disse no livro que a homossexualidade na Igreja "é algo que preocupa". A Reuters obteve uma cópia da versão italiana da publicação.

"A questão da homossexualidade é muito séria", disse Francisco, acrescentando que os responsáveis pela formação de homens para serem padres devem ter certeza de que os candidatos são "humanos e emocionalmente maduros" antes de serem ordenados. Isso também se aplica às mulheres que queiram entrar em comunidades religiosas femininas para se tornarem freiras. Na Igreja Católica, padres, freiras e monges fazem votos de celibato.

Francisco disse que "não há espaço" para a homossexualidade nas vidas de padres e freiras e que a Igreja deve ser "exigente" na escolha de candidatos. "Por essa razão, a Igreja pede que pessoas com essa tendência enraizada não sejam aceitas no ministério [sacerdotal] ou na vida consagrada", afirmou.

'Melhor deixar a igreja'

Ele pediu que os homossexuais que já são padres ou freiras sejam celibatários e responsáveis para evitar criar escândalo.

"É melhor que eles deixem o sacerdócio ou a vida consagrada em vez de viver uma vida dupla", ponderou.

A entrevista aconteceu em meados de agosto. Menos de duas semanas depois, em 26 de agosto, o arcebispo Carlo Maria Vigano, ex-embaixador do Vaticano nos EUA, colocou a Igreja no epicentro de uma polêmica com uma declaração bombástica contra o Papa e autoridades do Vaticano.

Vigano disse que existe uma "rede homossexual" no Vaticano, cujos membros ajudaram a promover as carreiras uns dos outros na Igreja. Ele também acusou o Papa de ter ignorado suspeitas de má conduta sexual do ex-cardeal americano Theodore McCarrick, de 88 anos.

O Vaticano disse que as acusações de Vigano estavam repletas de "calúnia e difamação".

A Igreja Católica tem sido assombrada por milhares de casos de abuso sexual de menores de idade por clérigos em todo o mundo, em países que vão desde os Estados Unidos até a Austrália, Irlanda, Bélgica, Alemanha e Chile.

Freira 'desobediente'

Em outro trecho de "O poder da vocação", o Papa revelou que, há seis décadas, quando corria risco de morrer de pneumonia, foi salvo por uma freira que desobedeceu as ordens do médico.

Quando Francisco estava estudando para o sacerdócio na América Latina na década de 1950, ele pegou pneumonia, mas foi diagnosticado erroneamente pelo médico do seminário, que achou que era gripe, e um dia teve que ser levado para o hospital "a ponto de morrer", contou.

Um médico do hospital percebeu que era uma pneumonia e ordenou que os funcionários dessem ao jovem Jorge Mario Bergoglio dois tipos de antibióticos.

Mas uma freira do hospital, chamada Cornelia Caraglio, teve uma ideia diferente.

"Assim que o médico foi embora, [ela disse à equipe] 'vamos dobrar a dose'. Ela certamente era uma freira sábia. Ao ordenar que a dose fosse dobrada, ela salvou minha vida", disse ele.

Vários meses depois, o futuro papa retornou ao hospital para remover a parte superior de um de seus pulmões por causa de uma infecção.