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BRUTALIDADE NA PORTA DA ESCOLA Família fala em erro médico e promete ir à Justiça por Gabrielly Em velório, tentativa é entender como ninguém descobriu o que matou menina agredida 7 DEZ 2018 • POR RAFAEL RIBEIRO E RENAN NUCCI • 08h15

Descaso e erro dos médicos. É dessa maneira que os familiares de Gabrielly Ximenes de Souza, 10 anos, tratam a sua morte. Para tentar esclarecer os fatos, além da investigação da POlícia Civil, prometem ir à Justiça.

"Não vai trazer ela de volta, claro. Mas vai impedir que outras crianças morram do mesmo jeito. Não tem como uma briga na escola terminar em morte", disse o comerciante Célio Vilela, 42 anos, tio da vítima.

Vilela atendeu a imprensa durante o velório de Gabrielly, ocorrido na manhã desta sexta-feira (7), no Cemitério das Palmeiras, região norte da Capital.

Lotada, a despedida da menina descrita como "gentil, educada e prestativa" foi marcada pela comoção, de uma vida tão promissora ser retirada de maneira brutal, e revolta, pelo que os familiares e amigos consideram uma suceção de erros médicos, descaso, que não identificaram a real condição clínica de Gabriela a tempo de evitar a sua morte.

Por conta disso, Vilela diz que percorrerá todos os hospitais e pronto-socorro onde Gabriela foi atendida afim de buscar os laudos e prontuários. Quer comprovar a tese de descaso desde que a menina foi agredida por duas colegas na porta da Escola Estadual Lino Villachá, no Nova Lima, região norte.

O tio, Vilela: família promete ir à Justiça "para que ouras crianças não morram" (Fotos: Valdenir Rezende)

Para o tio, os erros começaram logo no atendimento. Acionada, a ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) teria demorao mais de uma hora e meia para chegar. O motivo, contaram aos familiares: a ausência de maca, retida com outra equipe.

Levada à Santa Casa naquela quinta-feira, Gabriela ficou em observação e recebeu alta sem, segundo os familiares, receber qualquer tipo de medicação ou exame mais aprofundado.

Liberada mesmo com reclamando de constantes dores nas pernas e virilha, Gabrielly foi levada na segunda-feira (3) à Unidade de Pronto Atendimento do Coronel Antonino, onde recebeu uma dosagem de dipirona, na tentativa médica de suavizar as dores.

Gabrielly foi encaminhada então à Central de Especialidades Médicas da prefeitura no dia seguinte. Já dizia não sentir as pernas e tinha dificuldades em andar. Teve então os membros imobilizados com uma tala, novamente sem nenhum exame mais detalhado, conta o tio.
     
Sem nova melhora, Gabrielly voltou à Santa Casa na quarta (3). Foi quando começou a apresentar as paradas cardíacas. A última, às 6h, foi fulminante.

MOTIVAÇÕES

Nem mesmo a escola estará livre de ação, garante Vilela. Segundo ele, as circunstâncias são estranhas. E há testemunhas que garantem que a briga começara dentro da unidade educacional.

Mas qual a motivação. Vilela suspeita de inveja. Dias antes encontrara a sobrinha na porta de uma loja do bairro. Estava triste. Tinha apenas R$ 4 em mãos e queria comprar um presente para a professora. "Mas tudo nessa loja custa mais de R$ 10 tio", disse ao familiar, que de imediato lhe deu a autorização para que escolhesse o que quisesse pois ele iria pagar.

O relato faz Vilela se emocionar. Descrente que algo tão brutal possa ter ocorrido com uma criança bondosa. Que há seis meses se convertera junto dos familiares ao evangelho e tinha na sua religião os dogmas para uma vida de bondade e carência. Sem dúvida qualidades que os presentes no velório tentaram levar em um mundo a cada mais brutal e não digno de esperança.