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Sem sentido Sem sentido 9 ABR 2010 • POR • 20h13

Anunciar investimentos milionários ou projetos mirabolantes, sejam públicos ou privados, é uma das predileções dos homens públicos. O chamado PAC2 está aí para ilustrar esta máxima. E, neste mega-programa está prevista a construção de uma ferrovia ligando Porto Murtinho a Panorama, em São Paulo. O traçado inclui, entre outras, a cidade de Dourados. No mesmo pacote também está prevista a liberação de recursos para concluir os estudos de viabilidade econômica de uma ferrovia ligando Cascavel a Maracaju, também passando por Dourados.

Incontestável que estas ferrovias trariam benefícios inestimáveis à economia da região.
Curioso, porém, é que há quase um ano, em maio de 2009, quando o presidente Lula "inaugurou" o Trem do Pantanal, ele informou que já estavam previstos mais de R$ 2 bilhões para implantação da ferrovia entre Paraná e Maracaju. Agora, porém, o PAC2 previu verba para o estudo. Ou seja, aquele anúncio, à época encaminhado por escrito pela Presidência da República, não passava de uma bela promessa. E, com base nisso, as previsões de agora não devem passar disso.

O mais curioso, porém, é que aquele anúncio foi feito no mesmo dia em que o presidente percorreu trecho do Trem do Pantanal e afirmou que ainda em 2010 retornaria para inaugurar a outra parte, entre Miranda e Corumbá. O mandato está na reta final e não existe qualquer possibilidade de este trecho ser incorporado ao passeio turístico. À época, o presidente chegou a sugerir que os organizadores do passeio capturassem algumas onças, jacarés, capivaras, sucuris e aves para colocar dentro do trem, para dar emoção à viagem, que, segundo ele, era muito lenta e monótona. Embora em tom de brincadeira, ele fez uma crítica explícita à falta de condições de tráfego da ferrovia que existe há quase um século e que está subutilizada. Ou seja, ao mesmo tempo em que se aventuravam sobre sucateados trilhos, o presidente e uma infinidade de políticos falavam em construir ferrovias novas, embora não consigam manter o patrimônio que já existe.

As duas novas ferrovias, sendo que uma delas deve estar concluída em três anos, conforme promessa divulgada na última quinta-feira por políticos locais e de Brasília, passam por Dourados. A cidade, contudo, já é atendida há décadas pela velha Noroeste, que está absolutamente abandonada há mais de dez anos e, apesar das promessas, não existe previsão para sua reativação. O argumeto dos detentores da concessão é de que não existe demanda pelo transporte de produtos. Então, se isto é verídico, faz algum sentido investir em estudos, projetos e obras para levar duas novas ferrovias para a região? Alguém necessariamente está mentindo ou tentando enganar a população. Além disso, será que não seria mais barato recuperar aquilo que já existe do que fazer uma obra nova?