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AMEAÇA AMBIENTAL Drenagem em nascente ameaça Rio Perdido, em Bonito Denúncia aponta que atividade rural pode prejudicar o curso d'água 7 MAI 2019 • POR LUANA RODRIGUES • 10h00

Principal “artéria” do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, o Rio Perdido está em risco. Um levantamento do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) identificou drenos nas nascentes do rio, ação da atividade agropecuária na região, que pode resultar no assoreamento e até sumiço do flume. 

‘Perdido’ em meio as matas de um dos mais importantes ecossistemas do Pantanal, o curso d’água corta pelo menos três cidades do Estado, mas nasce em duas fazendas da região de Bonito - Princesinha e Baia das Garças -, e é nestes locais que está o problema.

“Nós temos o projeto cabeceira e identificamos que 70% a 80% está em ótimas condições, mas lamentavelmente, a nascente que deveria ser prioridade para conservação, está sofrendo intervenções radicais que podem colocar em risco o rio todo”, explicou o coronel Angelo Rabelo, presidente do Instituto Homem Pantaneiro. 

Conforme Rabelo, a situação já foi denunciada aos órgão de proteção do Meio Ambiente e deve ser investigada. “Tem que ser feita uma perícia e, certamente, o Imasul [Instituto do Meio Ambiented e Mato Grosso do Sul] deve ir ao local para verificar se o que está sendo feito é crime ou se é necessária alguma adcionalidade, medidas complementares a legislação.  O nosso papel é comunicar às autoridades e esperar que eles adotem providências no sentido de, não só de proteger a nascente, como a própria propriedade”.

Titular da 2ª promotoria de Bonito, o promotor Alexandre Estuqui Junior, explicou que está a par da denúncia e irá apurar o caso. “Recebi a informação na sexta-feira (3) e já informei a Polícia Militar Ambiental. Eles vão verificar e, caso seja constatada alguma irregularidade, vamos instaurar procedimento”, explicou.

O Imasul foi procurado, mas até a publicação desta reportagem não houve retorno.

PARQUE NACIONAL

Criado em setembro de 2000, o Parque Nacional da Serra da Bodoquena foi a primeira - e, até o momento, a única - unidade de conservação de proteção integral federal implantada no Estado de Mato Grosso do Sul. A criação do Parque tinha como objetivo a proteção da maior área contínua de “Mata Atlântica” no Estado, que está localizada sobre um terreno com características geológicas especiais. 

O parque tem 76.481 hectares de extensão e foi transformado em área de utilidade pública pelo Decreto de Criação. Os dois principais rios do Parque Nacional são o Salobra, localizado no fragmento norte, e o Perdido, no fragmento sul. Assim como na maior parte dos cursos de água da Serra, esses rios apresentam águas muito límpidas, devido à ação das águas da chuva sobre as rochas existentes na região.

A dissolução de tais rochas no caminho de drenagem confere às águas propriedades como o gosto salobro e a dificuldade de apresentar partículas em suspensão. No decorrer do tempo, a interação das águas com as rochas foi a responsável pelo surgimento de numerosas cavidades naturais (cavernas, grutas, abismos, alagados ou não), muitas delas ainda por serem identificadas. 

O trajeto de muitos rios e córregos da Serra passa por cavidades. Alguns trechos do rio Perdido são subterrâneos e os pontos onde as águas adentram cavidades ou saem destas (denominados sumidouros e ressurgências, respectivamente) podem apresentar grande beleza cênica, como é o caso do sumidouro presente na área de onde se localizava a fazenda Boqueirão.

O  Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tem negociado a compra de propriedades abrangidas pelo parque. Até o momento, foram adquiridos aproximadamente 9.040 hectares (11,8% da área total). Nas áreas ainda não adquiridas, são permitidas as atividades agropecuárias em terras produtivas, mas qualquer forma de supressão ou exploração econômica nas áreas nativas está proibida.