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CORUMBÁ Projeto interdisciplinar incentiva protagonismo feminino na ciência Alunas bolivianas também participam 28 MAI 2019 • POR NAIANE MESQUITA • 07h00

Ana Vitória Barbosa de Paula, 12 anos, descobriu o poder de encantamento do universo em apenas um mês, durante as oficinas do projeto de extensão Meninas Pantaneiras na Ciência e Tecnologia, realizado na cidade de Corumbá, interior de Mato Grosso do Sul. Antes, a adolescente nunca imaginou que, por trás das estrelas, existisse todo um conhecimento científico e matemático, que também pode ser transformado em profissão.

Bolsista, Ana Vitória frequenta as aulas do projeto de extensão no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS). Os encontros têm temas variados, que vão desde o empreendedorismo até as vertentes da astronomia. “Eu fiz uma aula com a professora de Astronomia e gostei bastante. É uma área de estudo que nunca tinha passado pela minha cabeça antes. Estou gostando muito de participar das oficinas”, afirma a adolescente.

Estudante do 8º ano do Ensino Fundamental, Ana Vitória participa do projeto ao lado de outras meninas, crianças, adolescentes e jovens, que têm a oportunidade de desenvolver o protagonismo por meio da ciência. “Ao todo, são 23 bolsistas; mas, durante os nossos encontros, costumam participar de 35 a 40 meninas”, explica a professora Paula Luciana Fernandes, idealizadora e coordenadora do projeto. 

Os encontros acontecem no IFMS e têm investimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto de extensão, que foi o único de Mato Grosso do Sul aprovado nessa seleção, recebeu o valor de R$ 90,4 mil para a execução das ações.

EXEMPLOS

Paula explica que o valor do edital foi utilizado para diversos fins, como a compra de cinco computadores para as escolas participantes, além de livros que incentivam a presença das mulheres no desenvolvimento da ciência no País e da concessão de bolsas de estudo para alunas e professores do projeto de extensão. “Compramos um kit com três livros para que as alunas pudessem ler e conhecer um pouco das histórias dessas mulheres. Tem cientistas que são do município de Corumbá, estão próximas da gente, e elas não conheciam. Isso precisa ser divulgado”, acrescenta a professora. 

Tecnóloga em Materiais pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), mestre e doutora em Engenharia de Minas, Materiais e Metalúrgica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Paula percebeu, ao longo dos anos, a presença maciça de homens no mercado de trabalho. “Sempre trabalhei com muitos homens e eu sei o quanto é difícil. É um exercício constante de mostrar que você tem voz, mas sem ter que precisar gritar. Sempre tive que mostrar que eu era capaz mais do que os outros. Eu percebo que isso não era só comigo, mas com outras profissionais de áreas científicas”. 

Para Paula, o projeto incentiva que as meninas ocupem mais os espaços da pesquisa. “Quero incentivar a participação de outras meninas em áreas que costumam ser ocupadas por homens, como a de processos metalúrgicos. Normalmente, o número de meninas é reduzido, mas senti que, nas últimas turmas, reduziu muito. Quero mostrar que existe uma área de atuação para essas mulheres nesse campo, na siderúrgica, em grandes empresas de Corumbá. Inclusive, estamos fazendo o resgate de convidar as meninas que já fizeram os cursos no IFMS para participar das oficinas e falar sobre a carreira que elas têm hoje”, ressalta.

A professora explica que o projeto também rompeu os limites da fronteira. Entre as instituições de ensino estaduais participantes, estão a Escola Rural Monte Azul e a Escola Municipal Barão do Rio Branco, ambas em Corumbá; a Escola Estadual 2 de Setembro, em Ladário; e a Escuela La Frontera, em Puerto Quijarro, na fronteira entre o Brasil e a Bolívia. 

O projeto já teve quatro encontros, sempre aos sábados. As estudantes e os professores envolvidos deverão apresentar os trabalhos desenvolvidos no projeto durante a Feira de Ciência e Tecnologia do Pantanal (Fecipan), que será realizada pelo Campus Corumbá do IFMS em outubro, durante a edição 2019 da Semana de Ciência e Tecnologia.

“Este projeto é muito importante para as  alunas, porque elas participam de palestras sobre as conquistas das mulheres e empreendedorismo, além de oficinas no laboratório de metalurgia e informática. Observo uma mudança no comportamento dessas alunas na escola, cada vez mais comprometidas com os estudos”, acredita a professora de Matemática da Escola Barão do Rio Branco, Roselene Franco Moreira.