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PESCA E TURISMO Dourado de volta aos rios e Cota Zero por vir animam setor em MS Na avaliação de empresários, retração inicial deve dar lugar a crescimento de 40% do ramo, em médio prazo 29 JUN 2019 • POR SILVIO ANDRADE • 09h00

Com a moratória do dourado e a proibição da captura e do transporte das demais espécies de peixes das bacias dos rios Paraguai e Paraná por pescadores amadores, a partir de 2020, Mato Grosso do Sul poderá se tornar o maior polo de pesca esportiva do Brasil, hoje um dos segmentos que mais crescem no País, aliado às belezas do Pantanal. 

Será um destino diferenciado, unindo a esportividade do “rei” do rio (dourado) e a exuberante fauna e flora do bioma com mais de 80% de sua área preservada. Esta perspectiva está sendo desenhada não apenas pelo governo do Estado, que proibiu a matança do dourado por cinco anos e zerou a cota de pesca, mas pelo trade turístico e especialistas em pesca esportiva. A moratória do dourado já surte efeito nos rios da bacia pantaneira, onde a espécie voltou a predominar, e o mercado da pesca trabalha com um cenário otimista para a temporada de 2020 quanto ao fluxo de pescadores no Estado. 

“Tem ocorrido desistência de pacotes pela falta do peixe e não por causa da Cota Zero. Diminuiu o número de pescadores porque você fica cinco dias no rio e não pega um peixe nobre. Foi assim que perdemos o mercado para outras regiões e para a Argentina, que saiu na frente na preservação do dourado”, afirma o empresário Luiz Antônio Martins, um dos pioneiros em pesca amadora em Corumbá, principal destino desse esporte no Estado.  

A avaliação do empresário é unânime entre os operadores: pode ocorrer uma queda de 20% no movimento de pescadores no Pantanal, no próximo ano, mas em médio prazo estima-se um crescimento do setor em mais de 40%. “Essa queda será compensada com o aumento do estoque pesqueiro. O dourado já reapareceu nos rios, todo barco de Corumbá pesca o nosso ‘rei’ do rio e vamos atrair esse turista brasileiro que vai para a Argentina”, aposta Martins. 

Com uma das maiores estruturas fluviais – são 60 barcos operando, entre pesca e esporte e recreio –, Corumbá reduziu seu fluxo turístico nos últimos anos por conta da dificuldade de se pescar dourado, pacu, pintado ou jaú, principais espécies. No ano passado, a cidade recebeu 20 mil pescadores, metade do registrado há dez anos. “Metade dos nossos clientes não leva mais peixe. A Cota Zero vai mudar o perfil desse pescador”, diz o empresário, atual presidente da Associação Corumbaense das Empresas Regionais de Turismo (Acert). 

FOMENTO

“Mato Grosso do Sul é o único destino de pesca que tem uma biodiversidade como a do Pantanal, cuja riqueza ambiental deve ser mais explorada e integrada a esse segmento esportivo”, afirmou o secretário-adjunto da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Ricardo Senna. 

Ele participou da elaboração da nova legislação de pesca decretada pelo governador Reinaldo Azambuja.  “Vamos promover o Pantanal como um lugar onde se pesca e se faz safári fotográfico”, disse. 

Para atrair o turista brasileiro e estrangeiro para esse santuário ecológico, segundo Senna, é preciso garantir o peixe, que já não se captura como há uma década. “Com o apoio do trade turístico e das associações de pescadores à Cota Zero, vamos inserir Mato Grosso do Sul na rota dos grandes negócios da pesca e do ecoturismo, diversificando a nossa economia”, frisou. 

O secretário-adjunto apontou que o Estado “é um mercado em potencial dentro da pesca esportiva, para atrair os 70 mil brasileiros que vão em busca do dourado em Corrientes, na Argentina, gastando em média dois mil dólares por viagem e gerando meio bilhão de reais por ano”. Ele destacou, ainda, que hoje apenas 50 mil pescadores vêm ao Estado, deixando R$ 200 milhões. “É o mesmo rio [Paraná], mas lá [Argentina] o pescador pega e solta; aqui, ainda se mata o peixe.”