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CORREIO DO ESTADO Confira o editorial desta sexta-feira: "Dívidas que preocupam" Confira o editorial desta sexta-feira: "Dívidas que preocupam" 5 JUL 2019 • POR • 03h00

O alto número de pessoas endividadas na população adulta e a natureza das dívidas indicam que só a queda dos juros e mais investimentos poderão melhorar a economia.

As pesquisas e os levantamentos são importantes porque servem como espelho da nossa economia e das dificuldades que o mercado vive. Nesta edição, trazemos um dos retratos da realidade: o altíssimo endividamento da população. 

Este é o maior sintoma das dificuldades de crescimento econômico que o Brasil vive no momento: a falta de liquidez no mercado, que impede que as pessoas que estão na ponta do processo consigam pagar suas contas em dia. O estudo que publicamos nesta edição é feito pela empresa Serasa Experian, ligada diretamente aos bancos e ao sistema financeiro: ou seja, os dados são precisos, porque são analisados por quem lida com eles diariamente. 

Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, informamos que 38,7% da população adulta está endividada. O número está próximo da média brasileira, o que é ainda mais preocupante.

Quando a inadimplência é alta, significa que as pessoas que precisam consumir enfrentam dificuldades para tal. Boa parte da população usa o crédito bancário para complementar a renda. A grande diferença é que o dinheiro utilizado como crédito é empregado no consumo de itens de subsistência, como alimentação, água, energia elétrica e comunicação; o sinal é preocupante: demonstra que o que as pessoas estão ganhando não é suficiente para que possam sobreviver.

O aumento do crédito pode até gerar um autoengano em quem consome e também nos que vendem (indústria e comércio), mas, se não houver investimento constante no mercado – seja a partir dos setores públicos ou privados, interno ou externo –, as dificuldades voltarão de uma forma ainda mais intensa assim que os recursos do crédito acabarem. Crédito sem investimento dificilmente amplia a renda, gera uma dívida futura que alguém terá de pagar. 

O primeiro passo para a diminuição desse endividamento seguramente seria a redução da taxa de juros – começando pelo Banco Central e, consequentemente, forçando uma redução do spread bancário – e, na sequência, uma ampla renegociação de dívidas nos setores público e privado. 

Mas o mais importante mesmo é o investimento. Sem ele não haverá nem no curto nem no médio prazo um aumento da renda média da população, e o problema do endividamento se perpetuará, com pessoas emprestando dinheiro dos bancos para pagar contas de consumo de água e energia elétrica: ambas concessões públicas.