Apesar de nascido de uma carência do poder público, o trabalho dos moradores destas cidades do interior é um bom exemplo e sugere um dos caminhos a ser tomado pela sociedade
O brasileiro já está tão acostumado, em alguns casos desalentado, pelas deficiências do poder público na prestação de serviços em todas as àreas que em muitas situações exalta o cumprimento das obrigações por parte daqueles que o representa e, em outros casos, acaba ajustando o foco nos problemas e se esquece de que, em uma sociedade civil, também cabe a ele fazer a sua parte.
Nesta edição, trazemos uma reportagem que mostra os exemplos da população. Em várias cidades da região Nordeste de Mato Grosso do Sul, os moradores se uniram, seja na forma de vaquinhas ou contribuições, para não permitir a atuação dos bandidos que ficaram conhecidos como novos cangaceiros.
O trauma que estes assaltantes deixou nos moradores destas cidades ainda não foi superado, o que é compreensível. Os criminosos, em todas as ações de roubo em banco ou caixas eletrônicos, sempre se apresentaram com um poder de fogo superior ao das polícias, tanto em armamentos, quanto em número de veículos utilizados nos assaltos. Em vários casos, explodiram as agências bancárias, sendo que algumas tiveram de ser reconstruídas.
Se a forma mais eficiente do poder público mostrar seu poder de coerção é por meio da polícia, e da apresentação de seu aparato ao limitar os direitos daqueles que não cumprem a lei, nestas cidades, União e estado se mostraram fracos. Os bandidos acabaram levando a melhor.
Como toda ação provoca uma reação, a população das cidades do interior teve uma boa iniciativa de não esperar pelas polícias, e se proteger dos criminosos. Os bandidos do “Novo Cangaço”, diga-se de passagem, têm acumulado inúmeros sucessos frente às polícias do estados das regiões Centro-Oeste e Sudeste. Eles exploram justamente o ponto fraco das forças de segurança pública estaduais: a infraestrutura insuficiente para combater crimes complexos em cidades do interior.
A ação dos cidadãos das cidades do interior de Mato Grosso do Sul lembra muito a forma como as polícias se organizam em pequenas cidades norte-americanas, em que a população local têm grande responsabilidade na prevenção e combate ao crime, deixando para as autoridades de outros entes federativos, o combate ao crime organizado de uma forma ampla.
Apesar de nascido de uma carência do poder público, o trabalho dos moradores destas cidades do interior, além de um bom exemplo, sugere um dos caminhos a ser tomado por toda a sociedade civil. A participação na vida em sociedade se dá de várias formas, e a mais importante é contribuindo, de alguma forma, para o bem comum. Esperamos que a polícia faça a parte dela, mas os cidadãos dos municípios que foram alvo do Novo Cangaço, estão de parabéns.