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ENTREVISTA Degrau por degrau Protagonista de "Bom Sucesso", Grazi Massafera se identifica com saga de personagem 5 AGO 2019 • POR LUANA BORGES/TV Press • 06h00

Grazi Massafera tem motivos de sobra para se orgulhar da própria trajetória. Com calma e inteligência, ela conseguiu conquistar um lugar de prestígio dentro da Globo. Depois de ficar conhecida do público através de sua participação no “Big Brother Brasil”, ela foi lançada como atriz e precisou lidar com duras críticas. Principalmente, da classe artística, que nutria um certo preconceito por dividir cena com uma ex-“BBB”. Porém, aos poucos, Grazi provou seu valor através das personagens que interpretou a cada trabalho. A primeira experiência em novelas foi como a doce Thelma, de “Páginas da Vida”, em 2006. De lá para cá, atuou em “Desejo Proibido”, “Negócio da China”, “Aquele Beijo” e “Verdades Secretas”, onde ganhou, definitivamente, o respeito de seus colegas por seu desempenho como uma modelo que se vicia em crack. Agora, a atriz reafirma sua força como protagonista à frente do elenco de “Bom Sucesso”. “Pronta, nunca me sinto e nem relaxada. Mas me sinto mais segura, sim”, afirma.

Na nova trama das 19 horas, Grazi interpreta Paloma, costureira, mãe de três filhos, que trabalha duro para dar conta da família e dos afazeres de casa. Mas a personagem vê sua vida virar de cabeça para baixo quando descobre que está com uma doença terminal e só tem seis meses de vida. Até que recebe a notícia de que seu exame foi trocado. E começa uma nova saga em busca da pessoa que está, de fato, passando pela situação que ela acreditou ser a sua realidade até então. “Se tem uma coisa que a gente tem certeza é da morte. O fato de Paloma ter uma data para morrer faz ela se transformar e viver uma vida mais intensa. É bom para a gente questionar: ‘está do jeito que eu queria?’”, aponta.

P – O que levou você a topar ser protagonista de “Bom Sucesso”?

R – O fato de poder fazer uma homenagem à minha mãe, que é costureira. Eu tenho ainda muita memória afetiva, lembro do barulho da máquina de costura quando fecho os olhos. É muita lembrança... Lembrei de quanto minha mãe trabalhava e como isso me ajudou a me tornar uma mulher forte e batalhadora.

P – Então você se identifica bastante com Paloma....

R – Sim. E tem um resgate de coisas populares e do público que eu fui durante toda uma vida. Agora, eu vivo dando entrevista, virei atriz de novela, saí desse lugar, mas carrego uma simplicidade. Estou amando fazer esse resgate e trazer essa coisa mais espontânea.

P – Atualmente, as discussões sobre o papel da mulher na sociedade estão em foco. Qual é a responsabilidade de interpretar uma personagem que sintetiza isso?

R – É grande porque acaba sendo uma homenagem a todas. A gente está vivendo um momento feminino muito bonito, com personagens interessantes. Me sinto com maturidade para fazer uma personagem assim e retratar a vida de mulheres, mesmo que na ficção.

P – Você já está preparada psicologicamente para, daqui a alguns anos, ser mãe de adolescente quando Sofia ficar um pouco mais velha?

R – Não estou (risos). Eu fui adolescente do interior. É outra coisa ser adolescente no Rio de Janeiro. Aqui, são muitos atrativos, então conto com o auxílio do pai e tenho muita conversa com ela, já estou desenvolvendo coisas desse tipo. Eu tinha uma coisa com a minha mãe de não conseguir mentir para ela. Tudo que eu dizia era verdade. Criamos uma relação de amizade e tento já ter isso com a Sofia.

P – E como você se organiza para dar conta de gravar um grande volume de cenas como protagonista de “Bom Sucesso” e cuidar da sua filha, que tem sete anos?

R – Tenho o luxo de poder contar com o auxílio de pessoas da minha família e anjos da guarda como funcionários. Conto com a ajuda dessas pessoas para ter um auxílio quando estou gravando novela. A Paloma e tantas outras Palomas que existem por aí têm uma situação muito mais complicada. Imagine ser mãe de três filhos e ter de dar conta da casa, lavar, cozinhar, passar e levar os filhos ao colégio? É tanta coisa. Quando são bebezinhos, é tudo mais fácil. Quando crescem, na hora de educar mesmo, é tudo mais complicado e estou sentindo um pouco isso na pele.

P – O que você acha que faria se, assim como sua personagem, soubesse que só terá seis meses de vida pela frente?

R – Talvez, algo parecido com Paloma. Tentar viver intensamente esses seis meses. Mandar tudo para as “cucuias” e viajar com a minha filha para tudo que é lado. Comer, beber, abraçar, beijar e agarrar minha pequena.

P – Na novela, sua personagem tem uma relação intensa com a leitura. Que lugar os livros têm na sua vida?

R – Lá na minha casa, eu pegava um livro para ler e minha mãe dizia: “você é vagabunda? Vai trabalhar”. Ler um livro significava não ter o que fazer. Para a maioria dos brasileiros, infelizmente ainda é assim. Não julgo minha mãe e minha família, mas é que tinha essa conotação para eles. Mas o hábito de ler tem de ser desenvolvido desde cedo. Hoje em dia, eu leio com a minha filha. Recentemente, eu li o livro “A Morte É Um Dia que Vale a Pena Viver”, de uma das consultoras da novela. Ela me deu de presente e de início pensei: “ai meu Deus, livro falando de morte”. Mas, quando você começa a ler, percebe que é sobre a vida, sobre a qualidade da vida, sobre como você vive os seus dias aqui. Porque a finitude existe para todos, mas seu tempo é diferente do tempo do outro. Se você tem uma doença, você entra em contato real com esse tempo.

P – Além disso, Paloma se envolve com o Carnaval. Esse aspecto da personagem fez você querer voltar a desfilar?

R – A personagem tem muitos pontos que me fazem reviver situações. Quando pequena, eu saía na escola de samba da minha cidade, depois passei a sair aqui no Rio de Janeiro. Eu amo desfilar, mas é muita função. Eu gosto do dia, mas a função toda faz deixar de ser Carnaval e vira trabalho. E para mim, Carnaval é Carnaval, não é trabalho. Fico meio confusa.

Rotina de cuidados
Grazi Massafera está sempre em dia com saúde e beleza. Fanática por praticar esportes e exercícios físicos, a atriz sempre dá um jeito de se movimentar em meio à rotina caótica de gravações. Uma das coisas que mais gosta de fazer é ioga. Volta e meia, inclusive, ela publica fotos suas em posições complexas da prática nas redes sociais. Mas, Grazi garante, é tudo uma questão de prática. “Eu brinco que é igual à comida japonesa: você come uma vez e acha ruim, mas depois vai gostando porque sente a diferença. Eu senti a diferença na minha vida e na minha profissão”, constata.

Além dos exercícios físicos, a atriz faz questão de ter boas noites de sono e tomar vitaminas para dar conta do ritmo puxado. Beber bastante água também faz parte de seus cuidados. “Levo dois litros de água todo dia para o estúdio. E meu maquiador me fala a hora de comer porque, às vezes, esqueço. Estou fazendo essas coisas para ficar bem”, conta.

Mais para frente
Apesar de ter se separado de Cauã Reymond em 2013, até hoje Grazi Massafera precisa lidar com boatos envolvendo seu nome e o do pai de sua filha, Sofia. Mas a atriz garante que mantém uma boa relação com ele. “Por que a gente não se falaria? O povo inventa umas coisas...”, observa.

Solteira, Grazi não descarta ter mais filhos. Só não pensa nisso por enquanto. “Deixa eu arrumar o pai, aí a gente decide”, brinca. No momento, a atriz jura ter foco total no trabalho. “Eu gosto de namorar, mas, nesse ritmo que estou, é impossível!”, reforça.

Instantâneas
# Antes de se tornar famosa, Grazi Massafera foi Miss Paraná, vendedora de cosméticos e manicure.

# Depois de protagonizar “Negócio da China” e “Flor do Caribe”, a atriz enfrentou duras críticas e pensou em desistir.

# Mas, depois de “Verdades Secretas”, ela percebeu ter ganhado respeito da classe artística por sua atuação como a modelo Larissa.

# O pai de Grazi é pedreiro e ela é a única menina de uma família com quatro filhos.