Com atendimento de radioterapia sendo oferecido somente no Hospital de Câncer Alfredo Abrão (HCAA), o número de pacientes na fila pelo tratamento cresce a cada novo diagnóstico de câncer. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), são aproximadamente 370 pessoas aguardando vaga para fazer o procedimento em Campo Grande. No último dia 30 de julho, este número estava em 277, o que significa que em 18 dias, houve um crescimento de 33,5% na fila de espera.
O motivo para o aumento foi que a Santa Casa da Capital encerrou o convênio que tinha com a clínica Radius, empresa terceirizada que fazia o atendimento de radioterapia, e somente o HCAA passou a fazer o procedimento.
Como solução para diminuir esse número, o órgão de saúde municipal quer que pacientes viajem 229 quilômetros até Dourados para fazer a radioterapia, já que na cidade a demanda é baixa.
Outro fator contribuinte para a decisão é que a Oncoclínica, local onde os enfermos podem fazer o procedimento, recebeu isenção de imposto de R$ 750 mil do Governo do Estado para um equipamento e em troca receberá os pacientes que precisam de radioterapia, de acordo com a diretora de atenção à saúde do Estado, Mariana Croda.
A vaga é oferecida, mas a escolha é do paciente, porém, a Prefeitura de Campo Grande não oferece nenhuma hospedagem ou subsídios, além de transporte. Cada tratamento requer diferentes doses de radioterapia, que deixa o paciente debilitado, então faz-se necessário a estadia e uma companhia durante o tempo que ele ficar na cidade para o tratamento.
De acordo com a Coordenadora do Conselho Municipal de Medicina da Capital, Maria Auxiliadora Fortunato, nenhum paciente foi até Dourados para fazer o tratamento ainda. “Muitos não querem ir porque não tem como custear. É preciso uma casa de apoio. Muitos tem que ficar 25, 40 dias lá. A prefeitura [de Campo Grande] disse que estava conversando com o [Governo do] Estado e que eles que iam providenciar uma casa de apoio”, disse ela ao Correio do Estado.
Na fila esperando para tratar uma metástase óssea, consequência de um câncer de mama, Ivone Vargas está há cinco meses na fila de espera, convivendo diariamente com as dores da doença. “Tem dias que eu nem consigo sair da cama de tanta dor. A metástase provoca dor em todo o corpo, mas eu sinto principalmente no peito”, disse Ivone.
Em seu diagnóstico médico consta que o caso precisava de atendimento com urgência, porém a espera já dura meses. “O médico disse que quando eu fizer a radioterapia as dores vão passar, mas enquanto eu não fizer, tenho que ficar tomando remédio de 6 em 6 horas. São quatro caixas de remédio por mês que eu tenho que tirar dinheiro do meu bolso para comprar”, contou Ivone.
Cada remédio custa R$ 45 reais, ou seja, são R$ 180 com remédio por mês. Ela revelou que há alguns meses começou a tomar dipirona junto com a medicação, por indicação do médico. “Ele disse que a dipirona ajuda a potencializar o efeito”, explicou. Ivone é uma dentre as 370 pessoas que precisam de atendimento
DANOS MORAIS
Pacientes que estão na fila de espera há mais de 60 dias podem receber até R$ 60 mil por danos morais, devido a sentença proferida na 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos da Capital.
A Justiça julgou parcialmente procedente ação civil pública, movida pela Defensoria Pública, determinando que o Governo do Estado e a Prefeitura de Campo Grande mantenham pacientes na fila de espera para tratamento de radioterapia pelo prazo máximo de 60 dias, sendo indenizados os que esperarem um prazo além do estipulado.
Atualmente, os réus (Governo do Estado e Prefeitura de Campo Grande) podem recorrer da decisão.