O incentivo à agricultura familiar tem sido não apenas um forte estímulo ao consumo saudável, mas também um poderoso instrumento de fortalecimento da economia regional. E é de pensar que grande parte dos alimentos que chegam à mesa das famílias brasileiras vem dos pequenos agricultores. É pelas mãos de pessoas como Vanderlei Fernandes e da esposa, Maria Conceição, por exemplo, que produtos como alface, rabanete, beterraba, cenoura, abobrinha, cheiro-verde, brócolis, couve e rúcula são retirados da terra como alimentos prontos para consumo.
Madrugar para fazer as feiras de produtos orgânicos em Campo Grande é uma rotina que já dura dez anos para os dois, enquanto os filhos cuidam da produção de três hectares no Indubrasil. “Lá em casa, é eu, minha esposa, dois filhos e um sobrinho”, conta. Segundo ele, 100% da renda da família vem dos produtos orgânicos. “A única renda que a gente tem é essa. A gente trabalha com a produção e a comercialização”, descreve, enquanto atende a clientela.
O casal faz parte de um grupo de 580 famílias campo-grandenses atendidas pela Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), que, além da parte técnica, tem papel fundamental na qualificação e no suporte com equipamentos. “A Agraer tem sido um parceiro muito importante, principalmente na assistência técnica, né? Buscando emendas parlamentares para pequenos produtores, para maquinário”, afirma Vanderlei.
Desde 2015, a Capital já recebeu do governo do Estado equipamentos como rotoencanteirador, ensiladeira, plantadeira de mandioca, terraceador 14 discos e roçadeira hidráulica, além de seis patrulhas completas, totalizando investimentos de R$ 891 mil só em equipamentos para a agricultura familiar.
PRODUÇÃO
Comprar diretamente do agricultor incentiva a rede de produção e estimula o consumo sustentável. Com isso, as feiras são uma oportunidade não só de levar saúde para casa, mas também de estimular a economia regional.
Sempre que pode, Aline Nascimento deixa a filha na escola e passa na feirinha da Praça do Rádio para fazer a compra semanal. “Tenho dado preferência. Pelo menos nessa parte que a gente consegue achar orgânico. Porque não é tudo que a gente consegue comprar orgânico; arroz, feijão, essas coisas são mais difíceis. Então, o que tem orgânico eu procuro comprar. É acessível ao bolso também, né? Antes, era mais difícil, e aqui o preço é bom”, conta.
O músico Geraldo Espíndola é outro consumidor fiel dos orgânicos. “As feirinhas de orgânicos são iniciativas fantásticas. Porque acaba pegando todo mundo que está plantando em volta da cidade. Que trabalha com isso e necessita disso. A comida é pura, é orgânica, é isso que a gente precisa para ter equilíbrio biológico. Nem só de boi vive o homem, a gente tem de comer muita verdura e fruta”, diz o compositor, que esbanja saúde aos 66 anos.
ORGÂNICOS E SAÚDE
Luis Carlos Cobalchine trocou a medicina veterinária pela agricultura, após uma experiência que não deseja para ninguém. “Minha filha hoje tem 27 anos, mas, quando ela tinha 3 aninhos, eu quase a perdi, por intoxicação de moranguinho com agrotóxicos. E aí o tratamento médico, que a internou para tentar curar, estava acabando de matar por intoxicação medicamentosa. Eu falei: ‘Tá tudo errado!’ Aprendi tudo sobre doença como veterinário e não sei o que é saúde. Aí começou a revolução. Hoje, sou agricultor e trabalho pela saúde, oficialmente”, detalha o agricultor, que cuida de área com 140 canteiros no Rita Vieira.
Ele acredita que a sociedade está aos poucos adquirindo conhecimento. “A questão do orgânico, ela está acontecendo num processo de consciência, as pessoas estão entendendo aos poucos que a alimentação é metade da saúde delas. Podemos dizer hoje que, na Capital, com certeza, na pior das hipóteses, 20% da população quer ter acesso ao orgânico” avalia.
Ao ser questionado a respeito de viver da produção de orgânicos, Luis é enfático. “Eu vivo isso! Então, isso é o todo, é uma prática, é uma consciência, é um processo de integridade, é a minha resposta como cidadão a essa sociedade que está aí, de que a gente tem essa compreensão de que as coisas podem ter outro fluxo muito mais inteligente no uso de conhecimento e que a gente está aqui para viver bem melhor e usufruir a saúde”.