Uma preocupação que cresce a cada dia nas casas dos campo-grandenses: o número de pessoas socorridas após levar uma picada de escorpião aumentou cerca de 34% em Campo Grande, em 2019, comparado aos primeiros sete meses de 2018. De janeiro até o dia 22 de agosto deste ano, foram registrados pela Secretária Municipal de Saúde 544 ataques. No mesmo período do ano passado, os registros foram de 407 casos.
Esse aumento é sentido pela autônoma Maria das Flores Reis, 38 anos, moradora do Bairro Guanandi há cinco anos, que vira e mexe tem de matar escorpiões em casa. “Antes não era assim. Era difícil ver escorpião aqui em casa. Eu tenho uma filha de quatro anos e tenho que ter cuidado redobrado. Só nesse fim de semana, eu matei quatro escorpiões no quarto da minha filha”, explica Maria Reis.
Outro que sofre com a infestação de escorpião é o educador físico Luís Fernando Martins, 33 anos, morador do Bairro Universitário. “Eu fui picado semana passada. Foi um descuido bobo. Eu fui calçar meu tênis para ir dar aula e, quando calcei, fui picado por um escorpião vermelho. Foi uma dor incrível, mas, mesmo com dor, eu fui dirigindo até a UPA Universitário, fui medicado e agora eu olho duas vezes quando vou vestir roupa e calçar sapato”, afirma Martins.
A médica-veterinária e especialista em escorpiões do Centro de Controle de Zoonoses e Bem-Estar Animal (CCZ), Juliana Resende Araújo, explica que, no mês de setembro, aumenta a incidência de escorpiões, pois os locais onde eles ficam, como tubulações, enchem de água, o que faz com que os insetos migrem para as casas.
Juliana Araújo orienta que, em caso de ser picado por um escorpião, é preciso procurar imediatamente uma unidade de saúde e, se possível, após ser medicado, levar o escorpião ao CCZ. “Se puderem levar o escorpião que picou até o CCZ é ótimo para saúde pública, pois podemos saber os locais onde está ocorrendo os casos de acordo com o tipo de escorpião que está com mais incidência. Com isso, podemos elaborar melhores estratégias para fazer o controle”, argumenta.
A médica-veterinária enfatiza que a prevenção é fundamental. Limpeza de terrenos, manter o lixo em sacos fechados, além do ambiente como um todo limpo, principalmente sem baratas, que é o alimento deles. “Fazer barreiras físicas é um jeito de prevenir a picada dos escorpiões, como ralinhos abre e fecha e protetores de porta. Não precisa comprar algo caro, é só colocar um pano molhado na porta, que já serve como barreira”, explica.
Juliana Araújo frisa, ainda, que o CCZ tem uma equipe especializada de orientação e combate ao escorpião. “Nós temos uma equipe que vai até os locais e orienta o que se deve fazer. Muitas vezes, a equipe não coloca o produto químico para combater o escorpião, pois o local não está preparado, sem barreira físicas e com espaços que possam servir de abrigo. A equipe orienta e volta depois de alguns dias para colocar o produto”, argumenta.
ATAQUES
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2018, foram contabilizados 141,4 mil casos de acidentes com escorpiões no Brasil. Em 2017, foram 125 mil registros. Em 2016, foram 91,7 mil notificações. Em relação às mortes, 115 óbitos foram registrados em 2016 e 88 em 2017.
Conforme a cartilha do Ministério da Saúde, das 1.600 espécies conhecidas no mundo, cerca de 25 são consideradas perigosas. No Brasil, onde existem cerca de 160 espécies de escorpiões, as responsáveis pelos acidentes graves pertencem ao gênero Tityusque, que tem como característica, entre outras, a presença de um espinho sob o ferrão.
COMO EVITAR ACIDENTES COM ESCORPIÕES
- Usar luvas de couro para manipular entulho e material de construção;
- Não mexer em lixo ou entulho acumulado;
- Limpar terrenos baldios próximos à sua casa,
- Colocar telas nos ralos, pias e protetores nas portas;
- Evitar acúmulo de lixo;
- Olhar antes de calçar sapatos e botas;
- Evitar a presença de baratas em casa (alimento dos escorpiões);
- Não deixar grama alta ou mato;
- Evitar manipular escorpiões e, quando necessário, usar pinças e material adequado;
- Manter limpos os comedouros e bebedouros de animais.