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TELEVISÃO Dez anos de "Viver A Vida", da Globo Novela que revelou o desgaste da "fórmula" de Manoel Carlos 22 SET 2019 • POR GERALDO BESSA/TV Press • 06h00

As ruas do Leblon, famoso bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, se tornaram o grande cenário para Manoel Carlos expressar o próprio cotidiano. A partir de sucessos ambientados na região onde o autor ainda mora, como “História de Amor”, “Por Amor” e “Laços de Família”, ele passou a desenvolver um universo folhetinesco todo seu, onde entrelaça grandes histórias de amor e ódio sob um viés totalmente prosaico. Manoel Carlos atravessou décadas com novelas bem semelhantes e que sempre tiveram boa aceitação do público. Entretanto, o estilo contemplativo, os intermináveis cafés da manhã com diálogos inspirados e até mesmo a icônica personagem Helena começaram a dar sinais de desgaste em “Viver a Vida”, novela que completa uma década de exibição este mês. “O ponto de partida desse trabalho foram as histórias de superação. Queria falar sobre figuras que conseguem passar por grandes dificuldades e seguir em frente. Foi um projeto com erros e acertos, onde consegui desenvolver bem a mensagem inicial”, ressalta o autor.

Na trama, Helena e Luciana, personagens de Taís Araújo e Alinne Moraes, são duas supermodelos com personalidades completamente opostas. Enquanto a primeira é paciente e mais contida, a segunda é mimada e temperamental. O destino das duas muda completamente quando Helena se envolve com Marcos, de José Mayer, pai de Luciana, um homem bem mais velho, e ele decide por fim ao casamento de 30 anos com Teresa, de Lília Cabral, para casar-se com ela. Durante um trabalho juntas na Jordânia, Helena é constantemente humilhada pela rival profissional. Por isso, Helena decide proibir que Luciana siga viagem no mesmo carro que ela, o que força a desafeta a tomar um ônibus. O veículo que Luciana está sofre um acidente no deserto e ela fica tetraplégica. A principal novidade em torno da divulgação de “Viver a Vida” era a presença de Taís Araújo no posto da protagonista. Por iniciativa do próprio autor, a produção teve pela primeira vez uma Helena mais jovem e negra. A personagem, entretanto, acabou não agradando o público e nem à própria intérprete, que foi duramente criticada na época. “Era uma oportunidade que tinha tudo para dar certo, mas não funcionou. Tive problemas com a personagem e não guardo boas lembranças. Dez anos depois, vejo que é um trabalho importante e que me fez ter jogo de cintura para momentos de adversidade”, avalia Taís.

Com uma nova condição física, Luciana fica com o coração dividido entre os gêmeos Jorge e Miguel, papel duplo de Mateus Solano. O relacionamento com Jorge entra em crise justamente por ele não saber como lidar com a nova situação da namorada. Ao mesmo tempo, Luciana acabe estreitando os laços com Miguel, médico bondoso que sempre foi apaixonado por ela e decide cuidar de seu caso pessoalmente. “Luciana era uma pessoa extremamente difícil e que, inicialmente, despertou o ódio do público. Aos poucos, a personagem foi se humanizando e ganhando outros contornos. Foi um processo complexo, mas extremamente gratificante”, valoriza Alinne, que roubou a cena e acabou como protagonista absoluta de “Viver a Vida”. Descoberto pela televisão após seu bom desempenho na minissérie “Maysa: Quando Fala o Coração”, Solano destacou-se ao interpretar os gêmeos que viviam em eterno clima de disputa. No meio da trama, obcecado por Luciana, Jorge tenta acabar com a carreira de Miguel o acusando de ter ultrapassado a ética entre médico e paciente. “Eu sabia que dois personagens me dariam muito trabalho. Mas a realidade foi muito além da expectativa. Gravava a mesma cena inúmeras vezes, por diversos ângulos e sempre com um dublê ao lado”, detalha o ator, que a partir deste papel foi alçado ao posto de galã da emissora.

Com elenco formado por figuras como Letícia Spiller, Thiago Lacerda, Giovanna Antonelli e Nanda Costa, entre outros, a produção de “Viver a Vida” são um símbolo de um tempo em que a Globo não fazia contenções para a ambientação de suas tramas. Com direção de fotografia de Affonso Beato, profissional renomado e parceiro de diretores como Pedro Almodóvar e Stephen Frears, as cenas iniciais da novela foram feitas em países como Jordânia, Israel e França. Por fim, a trama se desenvolveu entre a famosa cidade de Búzios, localizada no litoral fluminense, e os estúdios da Globo, no Rio de Janeiro. “Foram mais de 40 dias viajando entre as locações e fazendo cenas incríveis. Era minha segunda novela com o Manoel Carlos e o entendimento entre a gente foi incrível”, conta o diretor Jayme Monjardim. A sintonia entre autor e diretor, infelizmente, não reverberou com o público. Nem mesmo a história de Luciana foi capaz de fazer com que a novela bisasse o êxito de títulos como “Mulheres Apaixonadas” e “Páginas da Vida”, com repercussão abaixo do esperado pela Globo e audiência média de 35 pontos no Ibope. O autor, entretanto, enxerga um resultado positivo além dos números. “A questão dos cadeirantes foi amplamente abordada e discutida pela sociedade. Ganhei um prêmio da Unesco e diversas leis foram propostas. Fiquei muito satisfeito com esse trabalho”, assume Manoel Carlos.