Desde o início do segundo semestre deste ano letivo, quando a Secretaria Municipal de Educação (Semed) trocou os Auxiliares Educacionais Especializados (APEs) pelos Assistentes Educacionais Inclusivos (AEIs), pais de crianças com transtorno do espectro autista (TEA) tem reclamado do trabalho desenvolvido pelos novos servidores. Mães ouvidas pela reportagem dizem que algumas crianças tiveram regressão no comportamento e na aprendizagem e outras estão sem acompanhamento em razão das trocas constantes de profissionais.
Davi, 9 anos, tem TEA severo e, desde a troca do profissional especializado para os AEI, apresentou mudanças no comportamento, de acordo com a mãe e estudante de pedagogia Jusley Alves de Abreu, 30 anos. “No primeiro momento que a AEI chegou o Davi, começou um comportamento inadequado: chorando muito, não queria ela por perto. Depois que o APE foi embora, que só ficou ela, meu filho todos os dias chega chorando em casa, bravo, [comportamento] que ele não tinha com o APE anterior. Ele regrediu muito”.
A mãe conta que a AEI que é responsável por Davi o entregou com fezes na roupa, algo que nunca havia acontecido. “Eu tenho relatos de pessoas que ficam com ele na escola – que estão com ele desde que ele entrou lá, há quatro anos – de que ele se joga no chão, chora, por conta que ela não entende o que ele quer. Ela não tem capacitação, só tem o normal médio, e não está sabendo lidar com o comportamento do meu filho. Ele é uma autista não verbal e é um autista severo. Teve um domingo que ele passou o dia todo chorando e não era dor, era por conta de tudo isso que está acontecendo”.
Por conta de todos esses problemas, Jusley entrou na Justiça para que o filho volte a ter acompanhamento especializado. “Se não for o que já estava com o Davi, que seja uma pessoa que tem capacitação para lidar com ele”.
O mesmo drama é vivido por Keile Rodrigues de Lara, 40 anos, que é mãe de um menino de 6 anos com TEA leve, também chamado Davi. Ela relata que desde o início desta semana o filho está sem o acompanhamento de um assistente inclusivo porque a Semed decidiu pela troca do profissional que atuava com a criança. Por conta da falta de alguém que cuide da criança, a mãe optou por não levá-lo à escola.
“Meu filho já teve quatro AEI depois das férias e regrediu na escola. Não tem como eu levar porque ele não pode ficar sem acompanhamento, não dá. A Semed demora para mandar, e quando manda são totalmente despreparados”, reclamou. O menino começou a estudar na Rede Municipal de Ensino (Reme) este ano, após a mãe ter conhecimento do trabalho dos APEs.
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REGRESSÃO
De acordo com um dos APEs que foi demitido pela Semed, que preferiu não ter o nome divulgado, manter a rotina bem estruturada e acompanhamento especializado é importante na vida de uma criança com TEA. Caso isso não aconteça, o reflexo é a regressão do estudante. “Todo o processo pedagógico no caso de um TEA severo é muito lento de aprendizagem”.
Com pós-graduação em Educação Especial e Inclusão, o profissional conta que teve contato com a pessoa que iria lhe substituir durante um tempo para apresentar como era o trabalho com a criança. “Eu apenas tive contato com a AEI que me substituiu, e vi que ela não tinha conhecimento nenhum para trabalhar na área da educação. E, no momento, fiquei bem frustrado, porque todo esse despreparo dos AEIs reflete na regressão dos alunos”.
Em nota, a Semed afirmou que todos os alunos estão “adaptados aos assistentes educacionais inclusivos”. Para a secretaria, “o manejo correto desses instrumentos pedagógicos, conforme a necessidade do aluno, não está ligado ao nível de formação acadêmica do profissional de apoio, mas, sim, à capacitação realizada pela Divisão de Educação Especial da Semed”.
“Lembramos ainda que a Secretaria de Educação constantemente realiza em seu Centro de Formação – CEFOR – cursos, palestras, oficinas e formações com técnicos especializados no seguimento, com o intuito de oferecer qualificação contínua aos profissionais que atuam na área de educação especial. A contratação dos AEI esta embasada no processo seletivo simplificado de contratação temporária, do edital de número 09/2019-01, publicado no Diário Oficial de Campo Grande – Diogrande, de número 5.614, do dia 2 de julho de 2019. Na publicação, constam todas as regras e exigências para a ocupação do cargo”, finalizou a secretaria.