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OMERTÁ Operação contra pistolagem terá outras fases, dizem investigadores Integrantes da força-tarefa afirmam: conteúdo de celulares e pen-drives apreendidos na sexta é farto 1 OUT 2019 • POR EDUARDO MIRANDA • 09h19

As informações contidas nas dezenas de celulares, pen-drives e discos rígidos apreendidos na sexta-feira (27 de setembro) por policiais do Grupo Armado de Repressão a Assaltos e Sequestros (Garras) e do Grupo de Atuação Especial na Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) levarão a novas fases da Operação Omertá, informaram fontes ligadas à investigação. Para os integrantes da força-tarefa, que investiga pelo menos três execuções comandadas pelo grupo de extermínio, a riqueza de detalhes do material apreendido formou uma “bola de neve”. “Igual foi com a Lava Jato”, comentou. 

A análise de conversas por meio de aplicativos de mensagens, retiradas de telefones celulares de pessoas envolvidas com a suposta organização criminosa, e também a perícia em documentos digitais apreendidos com os agora ex-guardas municipais Marcelo Rios, Robert Vitor Kopetski e Rafael Antunes Vieira e também do motorista Flávio Narciso de Morais foram essenciais para que os investigadores da força-tarefa tivessem as provas necessárias para fundamentar os mandados de prisão preventiva e temporárias, além dos mandados de busca e apreensão, cumpridos na sexta-feira. 

Na operação da semana passada foram presos preventivamente os empresários Jamil Name e Jamil Name Filho, apontados como os chefes do grupo de extermínio, e ainda outras 17 pessoas, entre funcionários da família, policiais civis e guardas municipais. Só não foram presos na ação policial o ex-guarda municipal guarda municipal José Moreira Freires e o auxiliar Juanil Miranda Lima – apontados como os executores dos assassinatos investigados pela força-tarefa e foragidos desde abril, quando as investigações começaram a avançar –, além do advogado Alexandre Fransolozo, cujo mandado de prisão temporária (suspenso no domingo pelo Tribunal de Justiça) nem chegou a ser cumprido. Ontem, Gaeco e Garras distribuíram cartazes pedindo informações dos foragidos. Até o fim da tarde, a recompensa oferecida era de pelo menos R$ 2 mil (valor que, segundo eles, poderia aumentar).

Nas mídias digitais apreendidas em maio, junto de dezenas de armas (entre elas várias pistolas e seis fuzis AK-47) e milhares de munições em posse do ex-guarda municipal Marcelo Rios, os policiais encontraram imagens do empresário Jamil Name e conversas de aplicativos que faziam menção a ele e ao filho. As imagens teriam sido captadas por um boné com câmera oculta. Também foi por meio da análise das conversas que os policiais descobriram que o empresário Jamil Name Filho determinou a “limpeza” de seu apartamento, logo após a apreensão das armas e a prisão de Marcelo Rios.
Os promotores do Gaeco entenderam que a intenção de esconder provas, que o monitoramento dos investigados captou, foi fundamental para o desencadeamento da operação e para pedir a prisão preventiva dos suspeitos.

NOVAS ANÁLISES

Além do material apreendido na sexta-feira, que inclui dezenas de celulares, pen-drives e discos rígidos, foram encontrados R$ 160 mil em espécie e um taco de beisebol com arame farpado na ponta. Agora, a força-tarefa do Garras e do Gaeco já se prepara para analisar mais três telefones celulares, encontrados com os guardas municipais Robert Vitor Kopetski e Rafael Antunes Vieira e com o motorista Flávio Narciso de Morais.

Conforme nota técnica do Gaeco, foi necessário o apoio da Polícia Civil do Estado do Paraná para decodificar as mensagens trocadas via WhatsApp (que são criptografadas de ponta a ponta) entre os suspeitos. É porque os peritos locais não conseguiram decodificar as mensagens por meio do programa usado por aqui, o YoWhatsApp, e recorreram à corporação paranaense, que utiliza outro software, o MobileMager, para retirar as mensagens armazenadas no aparelho e na nuvem. 

ASSASSINATOS

O monitoramento eletrônico também está deixando os policiais da força-tarefa cada vez mais próximos de elucidarem dois assassinatos, cujas suspeitas recaem sobre o suposto grupo de extermínio, alvo da Operação Omertá. O ex-guarda municipal José Moreira Freires, por exemplo, foi várias vezes às imediações da casa onde morava o estudante de Direito Matheus Coutinho Xavier, assassinado no dia 9 de abril deste ano, antes de o crime ter sido consumado. A constatação só foi possível, porque Freires utilizava tornozeleira eletrônica. O aparelho forneceu as coordenadas para os investigadores. O ex-guarda usava o equipamento desde o ano passado, quando conseguiu recorrer em liberdade da condenação a 18 anos de prisão pelo assassinato do delegado Paulo Magalhães – crime de 2013.

O trabalho de investigação ainda trouxe o envolvimento da dupla em outra execução: a do policial militar e ex-chefe de segurança da Assembleia Legislativa Ilson Martins de Figueiredo, em 11 de junho de 2018, em Campo Grande. As contas de Juanil no Google Drive armazenavam 26 fotografias da execução. Outro assassinato, o de Orlando da Silva Fernandes, o Bomba, ex-segurança de Jorge Rafaat, ocorrido em 28 de outubro do ano passado, também é investigado pela força-tarefa formada por Garras e Gaeco. Em outros depoimentos, uma outra execução, a de Marcel Costa Hernandes Colombo, o Playboy da Mansão, também é creditada por testemunhas a este grupo de extermínio.