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ESCRITÓRIO DE PISTOLAGEM Vereadores e deputado são citados em ação contra milícia Em processo, Ministério Público mostra cheque de ex-governador e diálogo de vereadores e deputado 2 OUT 2019 • POR YARIMA MECCHI • 07h50

Valdir Gomes (PP) e Ademir Santana (PDT), vereadores de Campo Grande, o ex-deputado federal e ex-governador de Mato Grosso do Sul José Orcírio Miranda, o Zeca do PT, e o deputado estadual Jamilson Name (PDT) estão citados no documento de representação de prisão preventiva do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), na Justiça do Estado, o qual pede as prisões preventivas e temporárias de empresários, guardas municipais, policiais civis, millitares e federais envolvidos em um suposto esquema de milícia investigado na Operação Omertá, deflagrada na sexta-feira (27), em conjunto com o Grupo Armado de Repressão a Assaltos e Sequestros (Garras). 

De acordo com o documento anexado à ação que tramita no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), os empresários Jamil Name e Jamil Name Filho são líderes de uma milícia que contém diversos integrantes (da ativa e aposentados) da segurança pública envolvidos em organização criminosa voltada à prática dos crimes de milícia armada, porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, homicídio, corrupção ativa e passiva, entre outros. Jamil é pai do deputado da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALMS), Jamilson Name. 

O processo com mais de mil páginas traz também nomes de políticos conhecidos no Estado e na Capital. Cheques, fita de gravação, nota promissória, cadernos, dinheiro e celulares estão entre os objetos apreendidos na casa de Jamil Name, preso na sexta-feira (27). 

Conforme relatório do Ministério Público Estadual (MPE), um dos cheques está em nome de José Orcírio Miranda dos Santos, no valor de R$ 100 mil, e outro, de um desembargador, no mesmo valor, totalizando R$ 200 mil. 
Ambos os papéis estavam no quarto do apontado como um dos chefes da organização criminosa envolvida em execuções em Campo Grande. 

Ainda, uma nota promissória de R$ 150 mil estava no cômodo. No quarto de Jamil Filho, além de cadernos, havia R$ 137,3 mil em espécie. Na gaveta da sala de estar, estavam R$ 6,3 mil e, em um cofre no escritório, R$ 20 mil e 640 euros. Três celulares também foram apreendidos. 

O nome do deputado estadual, filho e irmão, respectivamente, dos acusados de serem os líderes do suposto grupo, Jamilson Name, aparece em uma conversa telefônica atribuída, de acordo com o MPE, ao advogado criminalista Renê Siufi, em que o defensor teria sugerido que seria melhor Jamil Filho “rapá o pé”, fugir. Jamilson faz a interlocução entre o advogado e a família. 

A conversa é após a prisão do guarda municipal Marcelo Rios, que mantinha sob sua custódia arsenal bélico, consistente em fuzis calibres 762 x 39 e 556, pistolas, revólveres, espingardas, munições e acessórios de armas de fogo, além de equipamentos usados em ações de inteligência policial, como bonés com câmera oculta e bloqueadores de sinal eletromagnético (tornozeleira eletrônica) e silenciadores de fuzis. 

Com relação aos vereadores, Valdir Gomes é citado durante uma suposta fuga de Name Filho para Ponta Porã. Gomes vai à cidade e se encontra com o investigado, conforme mensagens atribuídas ao vereador e à mãe e esposa dos presos, Tereza Name, também ex-vereadora. Ele diz a Tereza que esteve no cassino em Ponta Porã e teria conversado com seu filho e fala que Jamilzinho, como é conhecido, teria ganhado R$ 66 mil.  

Gomes conta também o resultado da votação do projeto da Previdência encaminhado pelo prefeito Marcos Trad (PSD), Valdir fala que sete vereadores votaram contra. E ela destaca que falou com o vereador Ademir, citado em outro momento no envolvimento de compra de uma chácara e que tem uma casa registrada em seu nome que foi utilizada por um militar rformado, que teria participado de agiotagem e comércio ilegal de munições em envolvimento da família Name, de acordo com o Gaeco. 

Conforme o MPE, um servidor público que devia ao suposto agiota estaria fazendo um negócio de compra e venda de uma chácara, “cujo de fato o comprador seria Jamil Name, porém, a aquisição seria escriturada para a pessoa conhecida como Ademir, o qual  estaria encarregado de lhe repassar o valor que lhe coubesse no negócio”. 

Sergundo ligação interceptada durante a investigação, o servidor diz para o agiota que já sabe como pagar o que deve. “Chegou à solução, nós vamos receber do seu Jamil Name, tá? O nosso dinheiro. Qual a solução: eu vou passar um hectare de terra do Miguelzinho Bueno pro Ademir e vai pagar oito de R$ 5 mil pra mim. Eu telefonei para ele agora e não atendeu o telefone e não sei se ele está viajando ou não, aí ele vai ficar do lado do velho. Aí segunda-feira eu já vou ver se passo a escritura para ele, ele topando uma de cinco aí te passo R$ 5 mil e não te devo mais nada”, diz o documento que a área é na saída para Rochedo. 

Por meio da assessoria de imprensa da Câmara Municipal, o vereador Ademir afirmou que a casa onde o militar reformado residia não estava em seu nome. O parlamentar diz que possui sim uma residência na mesma rua onde o militar morava, porém, quem reside no local seria sua ex-esposa e que esse imóvel não tem relação com o local de moradia do referido policial. O vereador também garante que não atendeu ligação e não fechou nenhum negócio com relação a fazenda de R$ 5 mil.

Gaeco

Foram presas na Operação Omertá 19 pessoas, entre elas, empresários, policiais civis, guardas municipais, militar da reserva do Exército e policial federal. Em poder dos investigados foram apreendidas mais armas de fogo, munição, aparelhos celulares, computadores, documentos e cerca de R$ 160 mil.

Matéria editada para acréscimo de informação no dia 3 de outubro, às 12h.