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NOVO CORONAVÍRUS Saúde Mental: saiba lidar com a ansiedade em tempos de pandemia Especialista dá dicas importantes de qualidade de vida em meio à crise 14 JUN 2020 • POR Bruna Aquino • 13h00

Ansiedade, estresse, insônia, são um dos maiores malefícios de viver em meio a correria da rotina. No entanto, nos últimos dias, a pandemia causada pelo novo coronavírus deixou a vida de muita gente de cabeça para baixo, e assim, os malefícios que antes ainda eram considerados “leves” se tornaram doenças psicológicas graves diante da sociedade. 

E como lidar com isso tudo? especialista em saúde mental, a psicóloga Laynara Vilagra destaca ao Correio do Estado, os principais pontos importantes quando a ansiedade se torna doença e dá dicas preciosas de como vencer esse mal em plena pandemia do novo coronavírus. 

Dados apontam que o Brasil é o 16° país que mais sofre com ansiedade, segundo levantamento Tracking the Coronavirus, realizado semanalmente pela pesquisadora Ipsos com entrevistados de 16 países. 

Segundo a pesquisa, quatro em cada dez brasileiros (41%) têm sofrido de ansiedade como consequência do surto do novo coronavírus. As mulheres são as mais afetadas: enquanto 49% se declaram ansiosas, 33% dos homens estão lidando com o sintoma no momento. 

Os dados fazem parte do índice de 41% ranqueia o Brasil na primeira posição entre as nações mais ansiosas. Em segundo lugar, está o México, com 35%. Com 32%, o terceiro posto vai para a Rússia. Por outro lado, Japão (6%), Alemanha (7%) e Coreia do Sul (15%) são os menos impactados pela ansiedade a nível global, segundo os ouvidos do estudo. 

Para a psicóloga, a causa da ansiedade depende dos sentimentos e da história singular de cada pessoa. Seja pelas experiências pessoais e a maneira como é tratada, elas podem causar predisposições que determinam transtornos e doenças psicológicas. 

“Existem diversas causas que, sozinhas ou combinadas, podem vir a desencadear o transtorno de ansiedade, tais como: traumas, estresse, genética, doenças físicas e até mesmo a depressão. É comum o paciente alternar entre quadros de ansiedade e quadros de depressão, pois uma condição pode gerar a outra. Os sintomas são uma mistura de manifestações físicas, psicológicos e emocionais, como suor em excesso, falta de ar, indigestão, náusea, taquicardia, pânico, dificuldades para dormir, dores musculares, irritabilidade e tensão. Eles aparecem com maior intensidade durante uma crise”, explicou. 

No entanto, a ansiedade de vez em quando é comum em situações da vida que a pessoa precisa enfrentar algo, porém quando se torna doença, não tem idade e nem perfil, principalmente na crise em que o país vive, tanto econômica quanto na saúde pública.

“Há uma diferença entre este sentimento passageiro e o transtorno de ansiedade generalizada. O transtorno de ansiedade generalizada é uma doença psicológica caracterizada pela preocupação ou expectativa excessiva. Fantasias de eventos desastrosos antes mesmo da situação se desenrolar são comuns. Assim, a pessoa está sempre em alerta, esperando o pior. A maior diferença entre eles é que o Transtorno de Ansiedade Generalizada é crônico e, eventualmente, se torna parte da identidade da pessoa enquanto o segundo é um estado emocional”, disse Laynara.

Enquanto muitos brasileiros já sofrem desse mal todos os dias, depois do medo e a crise que a pandemia do novo coronavírus gerou, a situação ficou ainda preocupante e o volume de procura por ajuda psicológica ficou ainda mais frequente. 

Ao Correio do Estado, a especialista contou que nesse tempo de pandemia, algumas das demandas nesse momento é também em ansiedade em relação aos pensamentos invasivos e pessimistas, insônia e aumento da ingestão de alimentos. “Quando não se consegue ter condições de controle de previsão do que está por vir e a incerteza em relação ao futuro o nosso nível de ansiedade aumenta. Então, as pessoas estão experimentando sentimento desse tipo, e muitas vezes não sabendo lidar com eles”, contou. 

Ter que se reinventar e a incerteza do que vem pela frente desencadeou um nível de ansiedade maior no professor universitário Igor Domingos, de 28 anos. Sem aulas, o desafio profissional ficou ainda mais difícil e a ansiedade tomou conta da rotina que neste ano está diferente. 

“As mudanças das atividades escolares acaba sendo desafiador e gerou ansiedade e incertezas. Porque, o professor tem um papel como agente ativo fundamental no processo de formação de um cidadão, então diante disso, precisei reinventar nas transmissões de vídeos, gravações de conteúdos que também pode ser visto como algo positivo, mas hoje, eu tento ocupar a cabeça com atividades que me dão prazer e que diminuam o estresse do dia a dia e fugir dos pensamentos negativos”, contou

Como já utilizou bastante da terapia com psicólogos, Igor acredita que uma grande ajuda é buscar auxílio na psicoterapia. “As pessoas ainda enxergam a psicologia como tabu dando margem a visões preconceituosas sobre saúde mental e é importante falar sobre sentimentos, pois o psicólogo (a) irá ajudar a controlar a ansiedade e ter uma melhor qualidade de vida”, disse. 

DICAS

Se relacione: Para a psicóloga, é importante neste momento manter as relações, mesmo com o isolamento social, é possível manter contato com as pessoas por mensagens, ligações e chamadas de vídeo. “Manter nossas relações sociais e ver como estão às pessoas que são relevantes para nós, mesmo que estejam fisicamente distantes, pode ser uma forma de poder dividir nossas angústias e medos”, pontuou. 

Exercícios ajudam: Exercícios físicos ajudam a limpar a mente e organizar os pensamentos. “Priorize atividades agradáveis e praticar o amor-próprio, além de promoverem a saúde mental, aumentam a autoestima e a autoconfiança”. 

Se divirta: Fazer atividades agradáveis, hobbies, pode ser um escape para a ansiedade. “É fundamental ter uma rotina diária com elementos que geram bem-estar, prazer, nem que seja somente por 30 minutos diários”. 

Não se cobre tanto: “É importante também entender que nem tudo depende de nós, para não nos cobrarmos com coisas que não somos inteiramente responsáveis, faça o que esteja ao seu alcance nesse momento, isso serve para amizades, trabalhos e tarefas. Tudo bem errar, tudo bem não der conta, ninguém é perfeito, mas o importante é continuar tentando, e ter consciência de viver um dia de cada vez. 

Procure ajuda: “Não pense que sua ansiedade é frescura ou drama, em função do preconceito e do desconhecimento, é comum as pessoas não darem atenção à transtornos mentais como a ansiedade, que necessitam de tratamento psicológico e às vezes, psiquiátrico. Transtornos mentais não são frescura e podem atingir qualquer um. Não tenha vergonha de buscar ajuda profissional, se sentir necessidade”, finalizou. 

ATENDIMENTO

Em Mato Grosso do Sul, a Sociedade Psicanalítica (SPMS) tem atendimento gratuito para quem busca melhorar a saúde mental em meio a covid-19. Os atendimentos são realizados por por todos os profissionais da sociedade e podem ser solicitados pelo site, telefone  (67) 3325-7770 ou também pelo WhatsApp (67) 99141-4221 sem custo nenhum.