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CONTÁGIO ACELERADO Saúde de Dourados está à deriva Entenda porque os casos de coronavírus na cidade dispararam 2.127% no intervalo de 1 mês 17 JUN 2020 • POR Eduardo Miranda • 08h45

Dourados consolidou-se como o epicentro do coronavírus em Mato Grosso do Sul no fim de maio, mas a pergunta que muitos fazem é: o que levou a cidade a ter um crescimento exponencial de casos? 

Conforme autoridades de Saúde ouvidas pelo Correio do Estado, problemas crônicos no setor mais importante durante uma pandemia, o de vigilância em saúde, a baixa adesão da cidade às medidas de isolamento, e nichos que impulsionaram a multiplicação dos diagnósticos positivos, explicam o avanço da Covid-19 na cidade.

A resposta da prefeitura de Dourados ao crescimento de 2.127% de casos em apenas um mês tem sido insatisfatória, queixam-se autoridades ligadas ao governo de Mato Grosso do Sul e a órgãos de defesa da sociedade, como o Ministério Público Estadual. Eles consideram que a cidade está à deriva, sobretudo, por causa da escassez de ações preventivas, como por exemplo, a insuficiência de equipamentos de proteção individual aos funcionários da Saúde e Assistência Social, e pela falta de controle sobre as pessoas que são diagnosticadas com doença.  

ESCALADA

Há exatamente 1 mês, Dourados tinha 58 casos de coronavírus confirmados e, dentre eles, um óbito. Ontem eram 1.292 pessoas com Covid-19, sendo que cinco delas, já mortas.  

O governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), que evitou falar sobre a situação em Dourados depois da disparada dos casos, disse ontem que a decisão sobre lockdown (fechamento total) caberia à prefeita da cidade, Délia Razuk (PTB), e que o melhor caminho para o município seria a união de esforços.  

“Tivemos reunião hoje com o Ministério Público Estadual, com a prefeita Délia e sua equipe, vamos buscar ações conjuntas e coordenadas”, disse Azambuja.  

A declaração do governador vai na contramão do clima de desconfiança e descontentamento gerado em órgãos como a Secretaria Estadual de Saúde e Ministério Público Estadual, nas últimas semanas. A gota d’água foi no último sábado, quando a cidade rompeu a barreira dos 1 mil casos confirmados. O promotor de Justiça, Ricardo Rottuno, deu 48 horas para a prefeita adotar medidas para frear o avanço do contágio da cidade.

Délia Razuk, nesta segunda-feira (15), proibiu consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos, realização de missas e cultos, e ainda limitou a operação das academias. Manteve o comércio intocado, mas obrigou todos os cidadãos a usarem máscaras.  

“É muito pouco, a cidade precisa de mais medidas”, afirmou o infectologista da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Fundação Oswaldo Cruz, Julio Croda.  

QUEBRA DE QUARENTENA

A falta de transparência da prefeitura de Dourados no setor de vigilância em Saúde motivou a desconfiança de integrantes do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, com a forma displicente que o município trata as pessoas com Covid-19 não consideradas recuperadas. Ontem, eram 866 nesta situação.  

“Há quebra de quarentena, muitas delas estão circulando livremente, sem qualquer fiscalização, e sem usar máscara”, denunciou uma autoridade que tem acesso às investigações, na condição de não ter sua identidade revelada.  

Outro exemplo da falta de cuidado das autoridades de saúde da cidade em impedir o avanço da doença foi a paralisação do serviço de testes de coronavírus por meio do sistema drive-thru, no quartel do Corpo de Bombeiros, durante o último feriado prolongado. Em outras cidades, como Campo Grande, Corumbá e Três Lagoas, o serviço foi mantido mesmo nos dias de feriado ou recesso.  

No drive-thru, os bombeiros emprestam a estrutura, mas o controle dos testes é feito pelas autoridades municipais de saúde.  

PERIGO

O Correio do Estado também recebeu denúncias de funcionários públicos e de usuários dos serviços de saúde e assistência social da cidade. Eles se queixam da falta de segurança nestes serviços.

Nas unidades de saúde e em hospitais, não havia a separação devida dos pacientes de Covid-19, enquanto nos centros de referência de assistência social (Cras) não há distribuição de equipamentos de proteção individual, nem tampouco a adoção de qualquer medida de isolamento.  

ORIGENS

No mês passado, o coronavírus teve sua primeira onda de avanço na cidade por meio das aldeias indígenas, onde vivem 20 mil pessoas, e nos grandes frigoríficos da cidade, das multinacionais JBS e BRF. Foram mais de 100 casos em cada um destes setores. As autoridades de saúde, porém, já consideram o brote nas aldeias e nos frigoríficos controlado.