Preso na semana passada na terceira fase da Operação Omertà sob a suspeita de receber R$ 100 mil como propina para ocultar provas de um homicídio e não relacioná-lo à milícia armada investigada pelo Gaeco e Garras, o delegado de Polícia Civil, Marcio Shiro Obara, foi oficialmente afastado de suas funções.
O ato foi publicado na edição desta terça-feira (23) do Diário Oficial junto ao ato que afastou o investigador Célio Monteiro, o Manga Rosa, que teria atuado também no caso para ocultar as provas da morte do policial militar aposentado Ilson Figueiredo. As ações são assinadas pelo corregedor-geral Márcio Custódio.
A duração da medida seguirá o período das restrições impostas pela Justiça aos dois, detidos de forma preventiva por decisão da 7ª Vara Criminal de Campo Grande. Foi determinado o recolhimento das armas, carteira funcional e suspensão de logins e senhas de acesso ao banco de dados da polícia para ambos.
O afastamento acontece nove meses após a primeira denúncia sobre um delegado da área de homicídios receber R$ 100 mil da milícia. A acusação, inicialmente sem nome, foi feita pela esposa de um dos integrantes do grupo investigado na Omertà e chefiado, segundo o Gaeco, por Jamil Name e Jamil Name Filho.
Inserida no inquérito como testemunha, ela afirmou que o dinheiro foi pago em espécie, mas não citou o nome de Obara e nem deu pistas, como citação de características físicas. As suspeitas vieram à público em 27 de setembro de 2019, quando foi deflagrada a primeira fase da Operação Omertà, denominada Armagedom.
Obara é ex-titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios (DEH) e atuava até sua prisão na 2ª DP - que fica na avenida Mascarenhas de Moraes e é responsável pela região norte de Campo Grande. Já Célio seguia trabalhando na DEH. Tanto o delegado como o investigador seguem presos.
Corregedoria sabia de propina
Em outubro do ano passado, o então corregedor-geral da Polícia Civil, o delegado Jairo Mendes, afirmou à reportagem do Correio do Estado que o caso envolvendo o recebimento de R$ 100 mil como propina por um delegado já era de conhecimento da corregedoria, mas não divulgou nomes para, segundo ele, preservar as investigações.
"Não era uma informação nova para nós [da Corregedoria], mas agora com essas evidências podemos reforçar ainda mais nossas investigações", disse em entrevista publicada em 8 de outubro de 2019. Ofício já havia sido enviado à Justiça pedindo acesso às provas.
Porém, mesmo diante dessa afirmação de Mendes, Obara nunca teria sido chamado para prestar esclarecimentos sobre envolvimento com qualquer organização criminosa que fosse, segundo revelou o advogado dele, Ronaldo Franco.
Entre as acusações que recaem sobre Obara, está o recebimento de propina, pagamento de R$ 60 mil para Célio e também o assédio aos delegados Fábio Peró e João Paulo Sartori, do Garras. A defesa nega que ele tenha envolvimento com a citada milícia e tenha cometido os crimes aos quais está sendo alvo de investigação.