A pandemia da Covid-19 e os primeiros resultados da força-tarefa criada após a reforma da Previdência pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) fizeram com que os pedidos de aposentadoria disparassem em Mato Grosso do Sul em 2020.
O total de benefícios concedidos nos primeiros seis meses deste ano já é o dobro do ano passado e o maior dos últimos três anos.
A velocidade, que impressiona quando comparada aos últimos anos, se adiciona a um outro detalhe, que torna os números surpreendentes para muitos: todos os benefícios foram concedidos por servidores do INSS que atuam em regime de teletrabalho (home office) desde que as primeiras ações para evitar a disseminação do coronavírus tiveram início – em março.
Entre os meses de janeiro e junho, o INSS concedeu 3.205 aposentadorias por idade em Mato Grosso do Sul.
No mesmo período do ano passado foram 1.650, o que configura um aumento de 94%. No primeiro semestre de 2018, a Previdência Social concedeu 2.505 aposentadorias por idade no Estado.
Olhando o total de aposentadorias concedidas no semestre por uma outra perspectiva, é possível constatar que as 3.205 aposentadorias liberadas neste ano equivalem a 61% do total desse mesmo benefício concedido no ano passado (5.239).
A rapidez na concessão de aposentadorias neste ano é observada se contrastada com a demora provocada entre o segundo semestre de 2019 e janeiro deste ano, quando uma enxurrada de pedidos se acumulou no instituto. A maioria dos pedidos foi feita em razão da reforma da Previdência, promulgada em novembro.
Rapidez
O ano de 2020 tem sido especialmente desafiador para os servidores do INSS.
Mesmo antes da pandemia, eles já trabalhavam em regime de força-tarefa para regularizar milhares de aposentadorias do Brasil inteiro, represadas desde 2019.
Com o coronavírus, mais um motivo para uma nova enxurrada de pedidos, acompanhado de medidas que poderiam atrapalhar o trabalho dos servidores e as pretensões dos que queriam se aposentar: o distanciamento social, os serviços on-line e o teletrabalho.
Um servidor do INSS, que preferiu não revelar a identidade, contou que a boa performance dos últimos quatro meses valoriza ainda mais a categoria.
“De casa, nós atendemos pedidos de todos os estados brasileiros, não somente de Mato Grosso do Sul”, conta.
O motorista de ônibus João Cristóvão Pereira, 66 anos, morador de Porto Murtinho – 450 quilômetros de Campo Grande –, é um dos que conseguiram se aposentar durante a pandemia.
O intervalo entre a solicitação do benefício – feita on-line – e a liberação da aposentadoria foi de 15 dias.
“Eu não imaginava que conseguiria tão rápido assim, a julgar pelos atrasos do ano passado”, comenta.
João Cristóvão, que é microempresário, solicitou aposentadoria depois de ver o faturamento de sua empresa de transporte cair profundamente durante a pandemia.
Motorista de ônibus a vida inteira, suas viagens internacionais entre Porto Murtinho e Paraguai foram impedidas por causa das restrições do país vizinho contra a Covid-19.
“Passei a não ganhar mais nada, e o que é pior: tive de demitir uma funcionária”, relata, lamentando pela demissão da colaboradora.
“Esta aposentadoria, que eu não esperava pedir agora, será a minha fonte de renda, uma vez que não posso mais viver do ônibus”, afirma João Cristóvão.