Mesmo sem saber, milhares de moradores de Campo Grande estão utilizando a água do Balneário Atlântico para o consumo diário.
O longo período de estiagem tem reduzido, cada vez mais, o volume hídrico dos mananciais e reservas operados pela concessionária Águas Guariroba.
A solução encontrada foi captar água do balneário, uma das principais opções de lazer para os dias quentes antes da pandemia, e fazer o transporte até as estações de tratamento.
O Correio do Estado esteve no local e constatou a estrutura montada para socorrer a cidade após o agravamento na crise de abastecimento, que já atinge diretamente pelo menos 20% da população – mais de 160 mil pessoas.
Além de dezenas de trabalhadores, há banheiros químicos, bombas de drenagem e outros equipamentos.
Na estrada de acesso ao balneário, a 50 metros de distância do lago, carros-pipa fazem fila até serem abastecidos com a água levada por mangueiras de longa extensão.
A capacidade total de toda a frota mobilizada na operação – em torno de 50 caminhões – é de um milhão de litros.
O plano B adotado pela Águas Guariroba para não deixar Campo Grande sem o líquido, embora se apresente como a salvação do momento para a cidade sair do sufoco, joga luzes sobre as dificuldades que a concessionária tem encontrado para cumprir suas obrigações contratuais de prestação de serviços – fornecimento e tratamento dos recursos hídricos – junto ao poder público municipal e à população: interrupções constantes para manutenções de emergência no sistema, reclamações de moradores de diversas regiões e seguidos questionamentos da Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos (Agereg).
Nesta semana, o Correio do Estado constatou que a barragem do Córrego Lageado, uma das captações de água da cidade, praticamente secou.
LICENÇA
Para captação de água no Balneário Atlântico, é necessário que a concessionária obtenha uma licença do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) e forneça condições de trabalho adequadas a suas equipes.
Procurada pelo Correio do Estado, a Águas Guariroba afirma, em nota, que não há possibilidade de racionamento de água em Campo Grande e confirma a extração no balneário Atlântico com o devido conhecimento do Imasul.
“As ações para garantir a segurança operacional durante o período crítico de calor e estiagem”, diz o comunicado, “incluem, de forma temporária, novas fontes de captação de água e utilização de transporte por caminhão-pipa até a Estação de Tratamento de Água (ETA) Guariroba, sendo deliberado por lei em situações de emergência”.
No ano passado, a Águas Guariroba realizou operação semelhante no Balneário Atlântico, porém, a mobilização de caminhões foi bem menor que nos dias atuais.
PRAZO
A Agereg está averiguando a situação sob acompanhamento do prefeito Marcos Trad.
“Conforme determina o contrato, a agência deve dar prazo à concessionária para apresentação do contraditório. Se essas respostas forem inverdadeiras, iremos recorrer à Justiça. A agência deu 24 horas, o menor prazo permitido, para que eles respondam”, afirma Trad.
A concessionária ressalta que, além do clima, a ocorrência de fatores externos como queimadas, oscilações de energia e furtos de cabos nas estações também podem afetar as operações. E informa que tem emitido alertas de pedido de consumo consciente e trabalhado em melhorias e reforços no sistema.