Logo Correio do Estado

HISTÓRIA "O que está nos livros pode ser ouvido aqui da boca dele", diz Coronel sobre morador da Capital que combateu na 2º Guerra Mundial Antônio Fermiano completa 98 anos nesta segunda-feira (26) e militares prestaram homenagem 26 OUT 2020 • POR Gabrielle Tavares • 14h29

Regrado, severo, humilde, educado e contador de histórias. Assim é descrito Antônio Fermiano, veterano do Regimento Sampaio da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que combateu na Segunda Guerra Mundial na Itália e que completa 98 anos nesta segunda-feira (26).

Em 23 de novembro de 1944, com seus 21 anos, Fermiano embarcava em um navio com destino à guerra sem saber se iria voltar com vida. 

Ele, e outros 25.334 soldados brasileiros que realizaram o percurso durante o conflito, atravessaram o Oceano Atlântico em uma viagem de 15 dias, com submarinos alemães à espreita para tentar impedir que alcançassem o destino.

Já na Itália, o descendente de escravos teve a oportunidade de lutar, e vencer, os Nazistas do Eixo, liderados por Mussolini. Quando o brasileiro já estava perto de voltar para seu país natal, foi combater na tomada de Montese, município que era o principal objetivo do seu batalhão.

Logo na chegada foram atingidos por intenso fogo de artilharia. Após 3 dias de combate, Montese estava praticamente arrasada, das 1.121 casas da região, 833 haviam sido destruídas.  

A Divisão Brasileira ganhou a batalha, mas perdeu cerca de 430 homens, entre mortos, feridos, soldados aprisionados pelos inimigos e desaparecidos.

Fermiano ficou entre os feridos. Foi atingido em 15 de abril de 1945. Mas soldado não se deixou abalar e se recuperou, motivo que lhe garantiu a condecoração da Medalha Sangue do Brasil. 

A vitória de Montese, somadas às vitórias obtidas pelos Aliados em outras localidades, contribuiu decisivamente para a desarticulação das linhas de defesa alemãs. 

Conquista a ser comemorada junto ao aniversário do atual morador de Campo Grande, que vivenciou cenários que não podem sequer ser imaginados pelas gerações vindouras.

“É uma grande vitória um veterano de guerra que foi ferido em combate sobreviver isso tudo e chegar a esses dias. É História viva. O que os jovens olham atualmente nos livros, está aqui. Você pode chegar aqui e ouvir da boca dele”, declarou o Coronel Wellington, vice-presidente da associação nacional dos veteranos da FEB.

Ele foi licenciado das fileiras do Exército em 18 setembro de 1945 e voltou para o Brasil em 22 agosto do mesmo ano. Após a guerra, em 10 outubro de 1946, ingressou na Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP).  

Passou para a Reserva na década de 1970, como 1º Tenente do Quadro Especial de Oficiais da Polícia Militar (QEOPM) e atualmente é o bombeiro mais idoso ainda vivo daquela corporação.

“Ele gosta muito de contar as histórias que viveu. Tem uma que ele conta que quando os soldados brasileiros chegaram na Itália, estavam sem equipamento nenhum e o exército americano recebeu eles de igual para igual. Foi a primeira vez que eles foram recebidos assim. Eram exércitos Aliados, então eles comiam a mesma comida e usavam os mesmos equipamentos. Ele fala que é uma história para mostrar que até da guerra dá para tirar algo bom”, contou orgulhoso o neto do ex-combatente, Vinicius Fermiano, 23 anos.

Para celebrar a coragem e força de Fermiano ao longo de quase um século, a FEB prestou homenagem em frente a residência do ex-soldado nesta manhã. 

A chuva que atingiu a Capital atrapalhou os planos dos militares, que tiveram que encerrar mais depressa a homenagem, mas não afetou a emoção que atingiu Fermiano ao ver a demonstração de carinho.  

“Fiquei imensamente grato. Eu nunca tinha recebido uma demonstração de amor e carinho como essa, desde quando vim da guerra. Quando cheguei no Brasil só me falaram que pode ir embora e nada mais. Acho que todos os soldados brasileiros mereciam receber homenagem assim também”, ressaltou Antônio Fermiano.

O militar aposentado que conquistou territórios há mais de 70 anos, hoje conquista a simpatia de amigos, vizinhos, familiares e qualquer pessoa que se interessar por suas histórias.  

“Sinto muito orgulho e estou muito feliz de ver que ele está recebendo todo esse reconhecimento, porque ele merece”, finalizou o neto de Fermiano.