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DEPUTADO FEDERAL Após Polícia Penal se preparar para receber Trutis, deputado é liberado pela Polícia Federal Investigado por forjar atentado contra si, Trutis foi detido com arma irregular, chegou ter custódia requisitada, mas foi liberado pela PF 12 NOV 2020 • POR Eduardo Miranda • 21h38

Durou pouco mais de 12 horas o tempo que o deputado federal Loester Trutis (PSL) passou detido na Superintendência Regional da Polícia Federal de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande.  

Trutis, alvo da Opereação Tracker do Supremo Tribunal Federal (STF) - que investiga atentado em que Trutis declara-se como vítima, mas que ele é um dos suspeitos de ter forjado o suposto crime - foi autuado em flagrante por posse ilegal de arma de fogo, ao ser flagrado com pelo menos três armas em casa (uma seria um fuzil), durante cumprimento de mandado de busca e apreensão por policiais federais.  

A quinta-feira (12) foi longa não somente para o deputado federal, mas também para os policiais federais e até para a Polícia Penal de Mato Grosso do Sul. Os policiais penais chegaram a mobilizar estrutura de guarda e escolta para receber Trutis no Presídio Militar de Campo Grande, local onde o governo de Mato Grosso do Sul reservou vaga para Trutis após ter recebido solicitação da Polícia Federal.  

Ocorre que Trutis não chegou ao presídio. Apesar da prisão em flagrante pelo artigo 16 da lei de armas (10.826 de 2003), a única informação que restou ao início da noite desta quinta-feira era de que Trutis responderia ao crime descrito na lei (posse ilegal ou de arma de fogo ou munição de uso restrito) em liberdade.  

Ainda não há informação se o flagrante de Trutis foi suspenso pelo Poder Judiciário, ou mesmo se a Polícia Federal recuou. O que se sabe é que Trutis passou o dia na Polícia Federal sem que pudesse ir embora de lá voluntariamente (detenção). Até pelo menos o fim da tarde, quando a PF pediu vaga no sistema penitenciário para Trutis, e as autoridades de segurança pública estaduais prontamente atenderam. 

O deputado federal foi procurado pelo Correio do Estado para esclarecer os fatos da operação ainda pela manhã, mas não enviou qualquer resposta.  

Na Polícia Federal, apesar da existência do auto de prisão em flagrante, o termo “prisão” não é usado. No período que antecede as eleições, como o atual, prisões só podem ocorrer em flagrante, caso em que Trutis se enquadraria.  

Na Câmara dos Deputados, a informação é que a comunicação do flagrante de Trutis ainda não chegou. O Supremo Tribunal Federal (STF), que é quem comanda a investigação, ou a Polícia Federal, que atuou no incidente, têm até 24 horas para informar a casa legislativa.  

SUPOSTO ATENTADO

O deputado federal é investigado pelo Supremo Tribunal Federal por falsa comunicação de crime. Ele é suspeito de ter forjado um atentado contra no dia 16 de fevereiro deste ano, quando viajava de Campo Grande para Sidrolândia, com um assessor, em um Toyota Corolla. O carro foi atingido a tiros, não houve feridos, e na ocasião, Trutis foi às redes sociais, onde disse ter sido vítima. Na mesma ocasião, não quis dar entrevistas ou qualquer outro esclarecimento.  

Além de Trutis, o irmão dele, Alberto Carlos Gomes de Souza, e Ciro Nogueira Fidelis - que é candidato a vereador pelo PSL - também são investigados no inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal.  

As armas apreendidas nesta quinta-feira (12) passarão por perícia. A intenção é cruzar os resultados com o exame de balística feito no carro em que Trutis estava no dia do suposto atentado (16 de fevereiro de 2020).  

Na ocasião, Trutis foi às redes sociais para comunicar o incidente. Foi o único meio não Judicial pelo qual ele se pronunciou sobre o assunto. Na época, não quis dar entrevistas à imprensa.  

Os mandados da Operação Tracker, desencadeada nesta quinta-feira (12), foram expedidos pela ministra do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber. Foram dez endereços, nove em Campo Grande e um em Brasília. 

QUEM É TRUTIS?

Loester Trutis sempre foi conhecido por posturas radicais nas redes sociais, que sempre geraram muita polêmica. Foi assim que tornou-se conhecido quando tinha uma lanchonete em Campo Grande, a Trutis Bacon. Na década passada, envolvia-se frequentemente em provocações com várias minorias, sobretudo pessoas que adotam o veganismo como estilo de vida.  

Armamentista, sempre gostou de aparecer nas redes sociais em estandes de tiro, e com armas de grosso calibre em suas mãos. Em meio à radicalização dos discursos nas redes, filiou-se ao PSL e elegeu-se em 2018 na onda bolsonarista. Foi o quinto mais votado, com 56.339 votos, e conquistou um lugar na Câmara dos Deputados.  

Depois de ter tomado posse, em setembro do ano passado, ficou nacionalmente conhecido ao oferecer R$ 100 mil a quem desse informações sobre o suposto mandante da facada no presidente Jair Bolsonaro, aplicada por Adelio Bispo de Oliveira, preso em 6 de setembro 2018, no dia do incidente.  

Neste ano, candidatou-se para prefeito, de forma surpreendente, ao tentar tirar seu correligionário, o vereador Vinícius Siqueira, do páreo. O plano não deu certo. A disputa fratricida no partido foi vencida por Siqueira, apoiado pela direção estadual do partido, da senadora Soraya Thronicke.  

Fora da disputa, Trutis apostava na eleição de Ciro Fidelis (alvo da mesma investigação) para a Câmara de Vereadores, até a Operação Tracker ter sido desencadeada, nesta quinta-feira (12).