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Política Lula no jogo de 2022 atordoa o centro e acelera candidatura de Doria Ele avalia, segundo aliados, que seu nome precisa estar na praça o mais rapidamente possível 9 MAR 2021 • POR FOLHAPRESS • 15h39

A inesperada possibilidade de uma candidatura ao Planalto de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 caiu como um raio na centro-direita brasileira. 

O efeito mais imediato foi uma aceleração do projeto presidencial do governador João Doria (PSDB-SP).

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Ninguém no mundo político, Supremo Tribunal Federal e PT incluídos, esperava a decisão do ministro Edson Fachin da segunda (8), que devolveu o direito a se candidatar ao petista após anular suas condenações na Operação Lava Jato e transferir os processos de Curitiba para Brasília.

Ainda a ser confirmada, uma candidatura de Lula favorece os planos mais imediatos de Jair Bolsonaro. Acumulando problemas pela má gestão da economia e da pandemia, o presidente tem em Lula seu opositor ideal, por estimular a polarização do eleitorado.

Para o dito centro democrático, um conceito elástico no Brasil de Bolsonaro que vai da centro-esquerda até a direita, com foco na centro-direita, é uma má notícia: em 2018, o agora presidente abocanhou justamente votos do grupo para derrotar o PT no segundo turno.

Fiel a seu estilo, Doria pretende aproveitar a dificuldade e avançar sua candidatura, questionada por partidos centristas e mesmo no PSDB. Ele avalia, segundo aliados, que seu nome precisa estar na praça o mais rapidamente possível.

Inicialmente, o PSDB estudava fazer prévias para tentar dissuadir o dissenso interno, encarnado hoje no governador gaúcho Eduardo Leite, no começo do ano que vem. Nesta terça (9), anunciou que irá realizar a disputa em outubro.

O adiantamento havia sido combinado entre Doria, Leite e o presidente do PSDB, Bruno Araújo, no fim de semana. A surpresa da Fachin adicionou tempestividade ao anúncio.

Com efeito, tanto Doria quanto Leite apresentaram leituras semelhantes aos se manifestar, no Twitter, sobre a decisão acerca de Lula na noite de segunda.

Ambos apontaram que o Brasil precisa superar a dicotomia bolsonarismo-petismo, que de resto substituiu a rivalidade PT-PSDB que regeu o país de 1994 até 2018.

A diferença agora é que se antes os tucanos apontavam o PT como um extremo, agora os dois polos predominantes são acusados disso.

O entorno do governador paulista acredita que seu nome será incontornável e tem um discurso pronto. Doria seria o único com experiência de gestão e trunfos no combate da pandemia, simbolizados na vacina Coronavac que ele patrocinou, além de resultados econômicos superiores aos nacionais em São Paulo.

Maior rival de Bolsonaro, encaixaria seu discurso como antípoda do presidente. Ao mesmo tempo, apresenta credenciais antipetistas em toda sua curta carreira em cargos públicos, iniciada quando ele derrotou o prefeito Fernando Haddad (PT) no primeiro turno em 2016.

Doria mira o que seu grupo político chama de "os 40% nem-nem". No caso, seria a proporção de votos válidos que, estimam, hoje não votariam nem em Lula, nem em Bolsonaro. O resto do eleitorado estaria, nessa avaliação, rachado entre os dois competidores.

Em 2018, uma fração razoável desses 40% migrou para Bolsonaro sob a influência do antipetismo e da antipolítica, mas o desastre sanitário e as dificuldades econômicas os fizeram refluir, na avaliação de tucanos.

Se a eleição fosse hoje, com a pandemia como tema principal, o vice dos sonhos de Doria seria Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), o ex-ministro da Saúde enxotado por Bolsonaro por propor uma abordagem sensata no combate ao começo da pandemia.

Pesquisas internas de partidos mostram que a imagem de Mandetta é muito bem avaliada ainda, embora isso não se traduza em votos em escala nacional -apesar de o DEM, tentando se recompor depois do racha que vai tirar Rodrigo Maia do partido, tentar lançá-lo como presidenciável.

Já apoiadores de Leite no tucanato apontam que o jovem de 35 anos traria ar de novidade à disputa e ressaltam o fato de que ele já chama a atenção de Bolsonaro, que fez insinuações obscenas contra o tucano na segunda.

No campo centrista, figura ainda o apresentador Luciano Huck, ainda sem partido. Ele é visto como titubeante, ainda que tenha sido o primeiro a se manifestar sobre Lula na segunda, dizendo que "figurinha repetida não completa álbum".

O fato de que ele deverá assumir o posto de Fausto Silva como principal apresentador da Rede Globo, num negócio estimado no mercado em R$ 300 milhões por dez anos, fora contratos comerciais ligados só à sua imagem, é visto como determinante.

Um aliado de Huck afirma que ele precisará se decidir logo, sob pena de tentar entrar em campo quando o jogo já estiver avançado. Essa pressão ocorre desde 2018, quando ele desistiu de se candidatar.

Um político simpático ao nome do apresentar, por sua vez, sugere que ele pode esperar até o começo do ano que vem.

Por fim, há o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro, que tem sido considerado carta fora do baralho desde que virou alvo do Supremo por sua atuação na Lava Jato.

Hoje enriquecendo como consultor empresarial, Moro é visto por políticos ligados a Doria mais como um influenciador do que como candidato em si, mas essas coisas sempre podem mudar.

Mais à esquerda, mas fora da órbita de Lula, está Ciro Gomes (PDT). Um dirigente de seu partido afirma que ele será candidato e descarta a viabilidade de uma aliança com o petista, por motivos de traições passadas. Mas ele admite a dificuldade de o ex-ministro avançar sobre votos mais conservadores.

Naturalmente, tudo isso é especulação alimentada pelo imponderável. Lula pode afinal não ser candidato, e Bolsonaro pode acabar implodido caso a situação econômica e sanitária se deteriore de forma significativa.

Entre atores centristas, há uma certeza compartilhada com a reação inicial do mercado a Lula: sua presença na disputa fará Bolsonaro abraçar de vez a agenda populista que já assumiu.

A dúvida é se os efeitos deletérios disso irão explodir no seu colo antes de serem colhidos como votos ou não.

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