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Pandemia

Capital terá UTIs em postos de saúde e "ensaia" reabertura

Em semana de isolamento que chega ao fim, novos leitos em UPAs e vacinação são apostas da Secretaria de Saúde

27 MAR 2021 • POR Bruna Pasche , Eduardo Miranda • 09h00

Em meio aos esforços para reduzir o contágio pelo coronavírus em Campo Grande, que continua com hospitais lotados e na sexta-feira registrou seu recorde diário de mortos (31 vidas perdidas), as autoridades estaduais e municipais continuam apostando na vacinação em massa e em uma última cartada para ampliar leitos: a conversão de duas unidades de pronto atendimento (UPAs) em uma espécie de mini-hospitais.

Se até no domingo – último dia de vigência da semana restritiva, que antecipou quatro feriados e impediu a abertura de serviços considerados não essenciais – o quadro atual for mantido, a tendência das autoridades municipais é de seguir o decreto publicado na quarta-feira (24) pelo governo de Mato Grosso do Sul, que amplia os horários do toque de recolher (das 20h às 5h), sobretudo aos fins de semana (das 16h às 5h).  

Conforme o procurador-geral do município de Campo Grande, Alexandre Ávalo, há duas possibilidades: “A primeira é editar um novo decreto, igual ou mais restritivo. E a segunda é não editar nenhum regramento e permanecer sob a vigência do decreto estadual”, disse no fim da tarde de sexta-feira.

“Para isso, seguiremos avaliando os indicadores técnicos, como taxa de contaminação, taxa de ocupação de leitos, entre outros fatores”, complementou o procurador horas depois de o município ter publicado mais um decreto, que coloca todos os servidores do município – exceto os da saúde, segurança pública, assistência social e de compras e licitações – em teletrabalho (home-office) até o dia 4 de abril, mesmo prazo máximo do decreto estadual.  

A realidade ainda é muito dura, e conforme afirmou o médico infectologista Júlio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz, no início desta semana ao Correio do Estado, os efeitos das medidas restritivas em Campo Grande e em todo o Estado levarão pelo menos 15 dias para resultarem no esvaziamento dos leitos hospitalares e na queda do número de mortos.

Nesta sexta-feira, Mato Grosso do Sul e a Capital renovaram mais um triste recorde: o boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde trouxe 70 óbitos em Mato Grosso do Sul – 31 deles em Campo Grande. Foi o dia mais letal da pandemia de Covid-19 no município e no Estado. O total de mortos passou da marca simbólica de 4 mil: 4.045 ao todo.

O reflexo da alta demanda é um outro recorde dentro do mesmo boletim: foram 1.144 pessoas internadas nos hospitais de todo Mato Grosso do Sul, o maior de toda a pandemia. O número ajuda a explicar a alta demanda por leitos: cada vez que um paciente tem alta ou vai a óbito, muitos outras ocupam aquele lugar.  

Ontem, em todo o Estado, 137 pessoas aguardavam uma vaga hospitalar ou em uma unidade de pronto atendimento. Mais da metade delas são de Campo Grande – 91 pessoas com diagnóstico de Covid-19 que não conseguem internação. Nesta semana, pelo menos nove pessoas morreram em UPAs à espera de leitos na Capital.

A semana de restrições, que termina no domingo, tem a finalidade de atenuar esse drama dos pacientes e reduzir a pressão sobre o sistema de saúde e seus profissionais. 

Por isso, nesta sexta-feira consolidou-se a ação em três frentes: ampliação de leitos, vacinação em massa, além da redução da circulação.

UPAS VIRAM HOSPITAIS

A medida com efeito mais imediato é a ampliação de leitos. O secretário de saúde de Campo Grande, José Mauro Filho, anunciou na noite desta sexta-feira o que pode ser a última ampliação de leitos possível na cidade: a transformação, ainda que provisória, de duas unidades de pronto atendimento (UPAs) dos bairros Vila Almeida e Universitário em pequenos hospitais para tratar pessoas infectadas pelo coronavírus.  

Ele explicou que o Ministério da Saúde vai pagar a diária do leito, possibilitando a habilitação nas UPAs para pacientes intubados. Isso, segundo ele, tira a obrigatoriedade de manter um paciente nas unidades por, no máximo, 24 horas, algo que já não vinha acontecendo havia pelo menos 10 dias.

“Com isso, vamos reforçar os equipamentos, tanto de exames e medicamentos como toda estrutura de oxigênio e fluxo nas unidades, ampliando o atendimento à população. É um mini-hospital mesmo, com toda a estrutura necessária, sendo melhor que locais para atendimento provisório. Estamos em negociação, mas a previsão é de que estejam habilitados nos próximos 10 dias”, explicou o secretário.

Durante a pandemia, Campo Grande ampliou os leitos de UTI de 116 para os atuais 343. “Nós temos feito esses exercícios ao longo desse um ano de pandemia e temos um quantitativo de vidas salvas muito grande”.

Além dos leitos nas UPAS, a Sesau vai ampliar e “comprar” para pacientes do Sistema Único de Saúde mais 10 leitos de UTI e 5 leitos semi-intensivo no Hospital El Kadri.

“Acredito que essa tem sido nossa luta, promover a garantia desse atendimento a todos, frente a uma doença sem precedentes e sem um ordenamento institucional a nível federal. Não tem um regramento. Acredito que essa foi a maior dificuldade de todos os gestores e mesmo diante disso temos tido bons resultados”, concluiu.

MAIS DOSES

A outra frente para desafogar o sistema de saúde (público e privado) e permitir a redução das restrições de circulação é a vacinação em massa, em um ritmo mais intenso. 

A medida foi feita nesta semana: só em Campo Grande, mais de 30 mil pessoas receberam a primeira dose.

A medida é para eliminar uma outra pressão, que vem dos comerciantes e prestadores de serviço que dependem da circulação de pessoas para faturar. 

Na quinta-feira, houve uma carreata com adesão de mais de 2 mil pessoas em seus respectivos automóveis. 

Ela ficou marcada por protestos em frente à prefeitura e à governadoria, e também pela concentração em frente ao Hospital Unimed, unidade privada que tem 50 leitos de UTI ativos, com 58 pessoas internadas.