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amanheceu sem pé

Fundação vai registrar boletim de ocorrência contra vandalismo na estátua de Manoel de Barros

Escultor da obra lamentou ação e disse que se nada for feito o próximo alvo poderá ser a cabeça da estátua

20 ABR 2021 • POR Gabrielle Tavares • 10h23

A Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) divulgou nesta terça-feira (20) que registrará boletim de ocorrência contra o ato de vandalismo na estátua do poeta Manoel de Barros, instalada na avenida Afonso Pena.

O órgão quer que a segurança pública investigue e localize os responsáveis por cerrar o pé esquerdo da escultura. "Será feita também a abertura de procedimento interno para a restauração da estátua”, explica Gustavo Castelo, diretor-presidente da FCMS.

O artista plástico e autor da obra, Ique Woitschach se pronunciou em suas redes sociais sobre o corrido. "Amputaram a arte, amputaram a cultura, mais uma vez. Temos que respirar fundo e reaprender a viver nesse novo mundo que virá. Espero alguma manifestação e atitude urgente do poder público".

Ele disse que a estátua vem sendo vandalizada há pelo menos dois anos, com fissuras nos óculos e amassados na face.

"Estavam usando uma marreta, e a cada visita dos vândalos, mais amassados surgiam, denunciando que os agressores estavam completamente a vontade, com tempo de sobra e sem nenhum tipo de repressão. Agora serraram, mutilaram, amputaram a escultura de forma violenta, cruel e destemida", disse.

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A obra em tamanho real é feita de bronze e foi inaugurada há três anos. Está embaixo de uma das árvores centenárias de Campo Grande, no canteiro central da Avenida Afonso Pena, entre as ruas Rui Barbosa e Pedro Celestino. 

O local de instalação foi decidido depois de um ano da obra concluída, para ser então, o quintal de Manoel de Barros. Ontem (19), amanheceu sem um dos pés.

"E se nenhuma providência for tomada com extrema urgência, a mesma serra elétrica que arrancou o pé, tem capacidade pra arrancar a cabeça se nada for feito", completa Woitschach.

O artista desacredita que o ato tenha sido praticado pelas pessoas em situações de rua da Capital, já que o pé foi arrancado com uma serra elétrica, e que culpar este público "é uma narrativa política covarde".

"Com tudo isso que estamos passando nessa pandemia, que deprime naturalmente, fico ainda mais triste com essa violência, com mais essa demonstração de falta de civilidade, de respeito ao que é público, ao que é de todos nós. Sei que a arte incomoda muito, e estamos vivendo tempos sombrios".

Homenagem

Em 19 de dezembro de 2017, era inaugurada a homenagem ao poeta Manoel de Barros em uma das principais avenidas de Campo Grande, mesmo dia que foi comemorado os 101 anos de nascimento do artista, contemplando também os 40 anos de Mato Grosso do Sul. 

A obra mede 1,38 metro de altura (incluindo o pedestal de fixação da base de concreto) por 1,60 metro de largura. 

Algumas características marcantes do poeta foram eternizadas no bronze, desde o sorriso cativante aos seus trajes simples, as pernas cruzadas, o tênis surrado, ao lado de caramujos e do ninho de pomba, com os quais dialogava e se inspirava entre imagens, lembranças e metáforas.

Com cerca de 400 quilos, a estátua foi feita para retratar um pouco da rotina do artista que nasceu em Cuiabá, mas viveu boa parte de sua vida em solo sul-mato-grossense. 

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