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Incêndios pantanal Sindicato pede que pantaneiro seja incluído em discussões sobre o bioma Sindicato Rural de Corumbá quer criar bancada pantaneira entre câmaras municipais e lideranças regionais do Estado para articular medidas de proteção 23 ABR 2021 • POR Ana Karla Flores • 15h25

Sindicato Rural de Corumbá se une à Mato Grosso para reivindicar a representatividade do homem pantaneiro em comissões que discutem normativas ambientais e ações de combate aos incêndios florestais no Pantanal.  

De acordo com o presidente do Sindicato, Luciano Leite, as ações em tramitação no Congresso Nacional não levam em conta as opiniões de quem mora na região há muitos anos. 

“Estão elaborando leis sem escutar o homem pantaneiro, que está há mais de 200 anos no Pantanal e sequer é ouvido ou convidado por algumas organizações, cujas finalidades também desconhecemos”, relata.

Segundo o Sindicato, os pantaneiros querem envolver as câmaras municipais e as lideranças regionais dos municípios de Mato Grosso do Sul situados dentro do bioma, fortalecendo assim um movimento que visa criar uma bancada pantaneira de lideranças políticas já articulada com a União das Câmaras Municipais de Mato Grosso (UCMAT).

O presidente ainda destaca que a população residente do Pantanal está preocupada com as questões de incêndios, cuja incidência pode ser ainda maior do que em 2020, que registrou recorde de queimadas.  

“Queremos participar das discussões e apresentar nossos estudos técnicos, que tem o embasamento e a chancela de uma Embrapa Pantanal, para isso queremos contar com o apoio das nossas lideranças políticas em Brasília”, completou o dirigente.

Ações de combate

Por meio da Comissão Temporária Externa, criada para acompanhar ações de enfrentamento aos incêndios, o Senado e a Câmara dos Deputados fizeram uma série de recomendações no final de 2020. 

Os pedidos foram enviados para órgãos do Judiciário, do Ministério Público e do Legislativo, para apurar as causas dos incêndios ocorridos e criar ações para que a situação não se repita.  

Dentre as recomendações foi imposta a criação de brigadas de incêndio permanentes e a construção de reservatórios de água em áreas estratégicas do bioma. Além da criação do  programa de recuperação de nascentes, cabeceiras e demais áreas críticas da Bacia do Alto Paraguai.

O Observatório Pantanal enviou este mês recomendações ao Congresso Nacional, com pedido de suspensão de licenças para implantação de novas pequenas centrais hidrelétricas na região hidrográfica do Paraguai, a aquisição de equipamentos e aeronaves, treinamento de efetivo das Forças Armadas em técnicas de controle de incêndios florestais, a destinação de recursos orçamentários para a realização de pesquisas, pelas instituições oficiais, sobre prevenção de fogo, recuperação ambiental, recursos hídricos, serviços ecossistêmicos e temas afins no bioma Pantanal.

O documento foi encaminhado a parlamentares e representantes do Executivo, como o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux.

Também foi enviado ao diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre de Souza, e às autoridades regionais, dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, relacionadas à área de combate ao fogo.

Incêndios

O Pantanal deverá passar por mais um período de seca e incêndios este ano, na mesma proporção ou ainda mais intenso do que o de 2020.  

Com exceção de algumas regiões mais baixas em Corumbá, onde as águas dos rios Aquidauana e Miranda inundaram os campos em uma “cheia” rápida, as chuvas de outubro a março na parte alta (ao norte) não foram suficientes para recuperar o ciclo natural das águas.

Onde o fogo mais queimou, entre Corumbá e Poconé (MT), a lenta recuperação dos níveis dos rios ao longo da calha do Rio Paraguai mantém o solo e a vegetação secos.

Nesta região, que compreende grandes extensões de campos e de matas sem a presença do homem e do boi, corredor de uma rede de reservas ambientais que somam 270 mil hectares, o volume de chuvas foi inferior às médias anuais.  

Em 2020, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou recorde no número de queimadas no Pantanal. Ao todo, foram 8.899 focos de incêndios no bioma de Mato Grosso do Sul, entre janeiro e dezembro deste ano.  

Corumbá foi o município com mais incêndios, e notificou 8.105 pontos de calor, 89% do total de queimadas.  

De acordo com Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ), 30% do bioma foi consumido pelo fogo este ano.  

A área queimada representa 4.490 mil hectares em todo o bioma. No Pantanal de Mato Grosso do Sul, o total é de 1.983 hectares e em Mato Grosso foram 2.507 mil hectares destruídos pelo fogo.

O Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul, em parceria com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), criou a Operação Focus para apurar os incêndios nas propriedades locais do Pantanal.  

Um dos objetivos da Operação Focus é identificar a origem dos focos de incêndio e punir os responsáveis nos casos em que a queima da vegetação foi proposital.

Grande  parte dos incêndios registrados no Pantanal, em 2020, tiveram início possivelmente por ações humanas e possuem a probabilidade de ligação com atividades agropastoris, com quase 60% dos focos, conforme aponta levantamento apresentado pelos Ministério Públicos de Mato Grosso (MPMT) e Mato Grosso do Sul (MPMS).