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CORREIO B+ "É uma das grandes alegrias do ator, poder viver personagens diferentes na carreira". "Estou absolutamente apaixonado pela folha em branco" 24 SET 2021 • POR Flavia Viana • 05h00

Gustavo Vaz tem 17 anos de carreira. Ele é ator, diretor, dramaturgo, locutor e em 2022 se lança como escritor. 

Dentro da sua vocação um envolvimento levou ao outro. 

“Me formei como ator na Martins Penna em 2004 e, no início da minha carreira, além do teatro também trabalhei em filmes de publicidade, o que naturalmente me levou à locução. Com a criação da ExCompanhia de Teatro em 2012, comecei a desenvolver também a escrita e a direção de cena. Hoje continuo nesse processo de experimentar outros lugares de criação. Sempre aprendo muito ao ocupar funções diferentes”, explica. 

Ele é diretor da ExCompanhia de Teatro, e nele conquistou importantes prêmios como o Prêmio Shell e o Prêmio Cesgranrio.

Gustavo também está no ar com a série 

“Coisa Mais Linda”, na plataforma da Netflix, como Augusto Soares, marido da personagem da atriz Fernanda Vasconcellos. Um homem violento e machista... “Foi um grande prazer e um grande desafio. Tive que observar o machismo arraigado em mim e encarar minhas sombras”, relembra. 

O ator também pode ser visto em “Aruanas”, da Globoplay, como Gregory Melloy, um antropólogo e ativista que se une a ONG Aruanas.

Em 2020, no meio da pandemia, Vaz também criou, escreveu, atuou e produziu a websérie “Se Eu Estivesse Aí” no Gshow, selecionada para festivais no Brasil e no exterior. 

Foi um dos dramaturgos e diretores de “ExReality”, experiência online e em formato inédito apresentada junto ao Teatro Porto Seguro. 

Em seus novos projetos no teatro e na literatura incluem “A Voz de Iara”, espetáculo solo autobiográfico onde escreve e atua, com previsão de estreia para o primeiro semestre de 2022, e seu primeiro livro, um romance, que também deverá ser lançado no primeiro semestre do ano que vem.

“Já comecei a conversar com algumas editoras e espero respostas para entender quando e onde ele será lançado. É minha primeira criação como escritor, mas já sinto que será a primeira de muitas. Estou absolutamente apaixonado pela folha em branco”, explica.

No cinema, Gustavo integra o elenco de duas séries de sucesso e protagoniza dois longas-metragens dirigidos por grandes nomes da área. 

Com direção de Julia Rezende, o ator acaba de estrear no Amazon Prime Vídeo o longa “Depois a Louca Sou Eu”, baseado no livro de Tati Bernardi, onde interpreta Gilberto, um psicanalista ansioso que encontra em Dani, personagem vivida por Débora Falabella, o amor em tempos de angústia.

Ainda no cinema, e depois de integrar o elenco de produções como “Divórcio”, “O Doutrinador” e “Maria do Caritó”, o ator será o protagonista de “O Jardim Secreto de Mariana”, novo filme de Sergio Rezende, que estreia dia 30 de setembro nos cinemas. 

Rodado em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, com cenas gravadas também em Inhotim, Minas Gerais, o filme desenrola o romance entre João (Gustavo Vaz) e Mariana (Andreia Horta). 

Cinco anos depois da separação abrupta, ele decide seguir seu instinto e parte numa longa jornada de bicicleta para tentar convencê-la de que o romance nunca deveria ter acabado. 

O amor, que ainda existe entre os dois, é então posto em xeque. 

“É um filme que fala sobre vida e morte, sobre nossa busca de sentido e sobre o amor como peça fundamental na relação com todas as coisas. É uma obra que olha para o simples e o poético através da força da natureza”, finaliza Gustavo.

O ator conversou com o B+ sobre sua paixão pela profissão, projetos e a estreia do filme “O Jardim Secreto de Mariana” onde é protagonista ao lado da atriz Andreia Horta.

CE - Ator, dramaturgo, diretor, escritor e locutor... Uma coisa te levou a outra na sua vocação?

GV - Sim. Me formei como ator na Martins Penna em 2004 e, no início da minha carreira, além do teatro também trabalhei em filmes de publicidade, o que naturalmente me levou à locução. Com a criação da ExCompanhia de Teatro em 2012, comecei a desenvolver também a escrita e a direção de cena. 

Hoje continuo nesse processo de experimentar outros lugares de criação. Sempre aprendo muito ao ocupar funções diferentes.

CE - Você estreia agora “O Jardim Secreto de Mariana”.  

Conta um pouco da história pra gente?

GV - João e Mariana são apaixonados, mas têm sua relação interrompida por conta de um acontecimento dolorido. 

Cinco anos depois dessa separação, meu personagem decide partir numa longa jornada para tentar reencontrar o amor de Mariana ao mesmo tempo que também começa uma jornada para dentro de si mesmo. 

É um filme que fala sobre vida e morte, sobre nossa busca de sentido e sobre o amor como peça fundamental na relação com todas as coisas. 

É uma obra que olha para o simples e o poético através da força da natureza.

CE - Quem é o Gustavo nesse longa?

GV - Eu interpreto o João, um personagem em crise consigo mesmo e com seu papel de homem diante do mundo. 

Na tentativa de se reaproximar do grande amor da sua vida ele acaba traçando uma jornada existencial sobre o masculino ao ir também em direção à sua essência. 

É um personagem que se transforma durante o filme, o que fez com que meu trabalho de criação fosse muito mais prazeroso e desafiador.

CE - Como é fazer cinema no Brasil?

GV - Um ato de coragem e uma ode à pluralidade da vida nas suas mais diversas manifestações. 

Cinema é uma arte coletiva e que, além de nos fazer sonhar, também nos desperta para o agora. 

Apesar da constante tentativa de destruição do cinema nacional por parte do atual governo, seguimos fortes e cada vez mais vivos.

CE - Na série Coisa Mais Linda da Netflix você interpreta um homem violento e machista, o Augusto.

Você acha que isso é um assunto atual apesar da série se passar em outra década?

GV - Sem dúvida. O fato do personagem e da série terem feito sucesso significa que o assunto infelizmente ainda dialoga com tristes dinâmicas da nossa sociedade. 

Somos um país onde uma em cada quatro mulheres sofreu algum tipo de violência durante a pandemia, por exemplo. Não podemos nos calar diante disso. 

E nós, homens, temos a obrigação de estarmos atentos uns aos outros para não permitirmos que ações desse tipo aconteçam ao nosso redor. 

Não há mais tempo a perder na construção de uma sociedade igualitária e segura que garanta a existência e a liberdade plenas das mulheres.

CE - Como foi construir esse personagem?

GV - Foi um grande prazer e um grande desafio. Tive que observar o machismo arraigado em mim e encarar minhas sombras. 

Fui a encontros educativos com homens enquadrados na lei Maria da Penha. 

Ali, entendi que existem saídas possíveis e reais para o problema da violência contra a mulher, mas que ela só acontecerá se for executada pela via coletiva e com a constante e ressignificada participação masculina em todas as suas etapas.

CE - Outro personagem que você faz na série do GNT, ‘Homens são de Marte é pra lá que eu vou’, você faz par com a Monica Martelli.

Como foi fazer o Léo tão diferente do Augusto?

GV - É uma das grandes alegrias do ator poder viver personagens diferentes na carreira. 

O Léo tinha uma pegada mais tranquila, mais leve, então foi muito bom poder também transitar nessa outra energia. Me diverti muito nas gravações e foi uma felicidade trabalhar ao lado da Mônica.

CE - Quando a gente vai ver você no teatro?

GV - Em breve! Tom na Fazenda deve voltar logo aos teatros e estou aguardando datas e a concretização de alguns desejos para terminar de escrever e começar a ensaiar um espetáculo biográfico sobre minha mãe. Não vejo a hora de pisar num palco novamente. 

Do ano que vem, não passa!

CE - Vai lançar seu primeiro livro?

GV - Também é um desejo para o ano que vem. Já comecei a conversar com algumas editoras e espero respostas para entender quando e onde ele será lançado. 

É minha primeira criação como escritor, mas já sinto que será a primeira de muitas. Estou absolutamente apaixonado pela folha em branco.

CE - Como foi a pandemia pra você Gustavo? E o retorno…

GV - Terrível, dolorida, longa mas, ao mesmo tempo, também se mostrou como um espaço de aprendizado e amadurecimento único. 

Já estou vacinado e aos poucos comecei a sair um pouco de casa, sempre respeitando os protocolos e o uso da máscara. 

Parece que volto mais forte e um homem melhor depois disso tudo. 

Saio com maiores noções de cuidado, empatia e com uma clareza muito maior sobre com quem quero estar e o que é realmente importante pra mim, seja na vida pessoal ou profissional. 

Aproveito para deixar aqui meu carinho e meus sentimentos a todas e todos que perderam algum ente querido durante esse período tenebroso. Que os culpados sejam punidos severamente. Não esperamos menos que isso.

CE - Todo esse processo de isolamento fez o Gustavo pensar em que?

GV - Sempre tive tendências existencialistas no olhar sobre a vida. Na pandemia, tudo ficou mais forte. 

Pensar sobre o sentido das coisas, sobre quem sou no mundo e sobre o que estou deixando como legado foram faróis durante a minha história. 

Disso, surgiu um livro, o novo contato com meu espetáculo biográfico, além de outros projetos. A arte é o lugar onde consigo traduzir tudo o que sinto em expressão estética e poética. 

É assim que tento também contribuir com o mundo ao mesmo tempo em que me aproximo mais e mais da minha essência. 

O isolamento, no fim, me tornou uma pessoa e um artista mais forte.

CE - Pra você o que é viver o agora?

GV - É soltar as margens do rio, respirar fundo e aproveitar a correnteza. 

É estar aberto ao que nos acontece, não definindo as coisas como boas ou ruins, mas como experiências similares. 

É escutar com honestidade o que o outro diz. É cuidar de si para cuidar melhor do mundo. É estar aqui e só aqui, agora.