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ELEFANTE DE CONCRETO

Morenão "aos cacos" e sem cuidados

UFMS empaca reforma mesmo com R$ 9 milhões parados nos cofres e agora permite shows que danificam estrutura local

2 MAR 2022 • POR Nyelder Rodrigues • 08h30

Por fora uma imponente estrutura, apesar de sua cor acinzentada e já desgastada com o tempo. 

Por dentro, um gigante com vários problemas estruturais e usados ao bel-prazer de seus administradores, sem levar em consideração a real função do espaço que, outrora, foi o maior estádio universitário da América Latina.

O Morenão, palco que tanto encantou nos anos 1970 e 1980 e foi símbolo do avivamento cultural e esportivo dos campo-grandenses – e de uma forma geral dos sul-mato-grossenses –, pede socorro há anos, mas soluções são apresentadas e praticamente nada é executado pelas autoridades.

Administrado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o estádio agora sofre com o desvio de suas funções, passando a receber megashows musicais que deixam para trás um cenário de destruição do gramado e do entorno, os quais deveriam servir à promoção esportiva, real motivo para que aquilo fosse erguido por Pedro Pedrossian há 50 anos e mantido até hoje.

Uma semana e meia após o palco do esporte e do clássico Comerário – que precisou ser adiado pela falta de condições do gramado e do estádio – se tornar o famigerado Boteco do Gusttavo Lima, o local segue sem ter a estrutura totalmente desarmada, mesmo havendo várias partidas agendadas até o fim de abril.  

A tabela com tais duelos está desde janeiro confirmada, sendo assim de conhecimento dos gestores do estádio, mas nem assim a UFMS deixou de agendar para dia 19 de fevereiro o show do sertanejo, assim como o evento protagonizado pelo DJ Vintage Culture, no dia 11 de março.

Em rápida visita da reportagem do Correio do Estado ao estádio na manhã de ontem, facilmente foram encontrados objetos cortantes no gramado, como lacres de latinhas, cacos de vidro e até parafusos.

No mesmo instante, as equipes da Dut’s Produções desmontavam a estrutura, que será erguida novamente ainda este mês, enquanto colaboradores da Federação de Futebol e do Operário, que é mandante de duelo contra o União ABC hoje, faziam um pente fino no gramado, buscando tais objetos que ficaram para trás e tentando tampar o buracos.

Tudo ocorreu sob supervisão dos presidentes Francisco Cezário (FFMS) e Estevão Petrallás (Operário), além de Alberto Pontes, chefe do departamento responsável.

REFORMA QUE NÃO SAI

Prometida ainda em 2016 pelo governo estadual, a reforma do Morenão acabou se concretizando em apenas ações paliativas em 2017, como reparos e pintura que giraram entre R$ 150 mil e R$ 200 mil.

Contudo, a reforma seguiu sendo pleiteada pelos esportistas da cidade, e em 2021 o valor necessário para ela foi repassado para a UFMS, depois de muito estudo das equipes da universidade e do governo do Estado, que fecharam um convênio para tal obra.

Os problemas, porém, não acabaram por aí: o Morenão segue precário, liberado para apenas 7 mil torcedores e sem a possibilidade de receber grandes partidas de futebol.  

Nas cabines de imprensa e setor de cadeiras, o mau cheiro toma conta, já que é notório que a estrutura é a morada de vários morcegos, que aproveitam da fauna e da flora da Cidade Universitária para ali terem uma vida silvestre.

Além disso, os banheiros seguem sem água e com torneiras estragadas e algumas cabines sem luz e até com estruturas elétricas expostas.

Ao todo, o repasse promovido pelo governo estadual para a UFMS ultrapassa à casa dos R$ 9 milhões. 

A liberação aconteceu há quase quatro meses, mas os técnicos responsáveis da UFMS demoraram um mês para irem buscar a minuta do contrato na sede da Agesul, conforme apurado pela reportagem.

Agora, com o dinheiro já em conta, a UFMS segue inerte e sem sequer publicar edital para abrir a licitação da obra. Extraoficialmente, há a informação de que estão esbarrando em questões burocráticas que não são solucionadas, porém, do lado do governo é dito que já estaria tudo certo e o que falta mesmo é vontade de realizar.

O Correio do Estado entrou em contato com a universidade federal por meio telefônico e por e-mail com o departamento de comunicação, mas, após uma semana, não obteve retorno algum da instituição.

Gramado destruído e com vidros e lacres

Um show e um estrago que poucos podiam imaginar: vários cacos de vidro, além de pedaços de plástico, lacres de latas e outros objetos cortantes foram deixados no gramado do Estádio Morenão, colocando em risco os atletas que ali fossem jogar. 

Além disso, caminhões que entraram no campo e a estrutura do palco destruíram parte do gramado, precisando de areia para tampar os buracos ali criados.