Eduardo Riedel deixou o governo do Estado na semana passada, no fim do mês de março, para oficializar sua pré-candidatura ao governo de Mato Grosso do Sul pelo PSDB.
Antes disso, porém, ele deixou um legado de sete anos de trabalho na administração de Reinaldo Azambuja (PSDB).
Entre as ações de governo estão várias parcerias público-privadas estabelecidas, como a Infovia Digital, a da Sanesul, pavimentação de rodovias e projetos, como o da energia limpa para administração pública.
Riedel também executou a reta final das obras do Aquário do Pantanal, que teve seu conceito ampliado para Bioparque.
Antes de ingressar de forma intensa na pré-campanha, Eduardo Riedel falou ao Correio do Estado sobre o que fez no governo e sobre seus planos para o futuro, confira.
Perfil - Eduardo Riedel
Eduardo Corrêa Riedel é graduado em Ciências Biológicas pela UFRJ, mestre em Zootecnia pela Unesp e especialista nas áreas de Gestão Empresarial, pela FGV, e Gestão Estratégica, pelo Instituto Francês Insead.
Foi presidente da Famasul e do Conselho Deliberativo do Sebrae e vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
É diretor da Sapé Agropastoril. Foi secretário de Estado de Governo e Gestão Estratégica e secretário de Estado de Infraestrutura por mais de 7 anos.
Como você avalia a aceitação da população pelo Bioparque Pantanal? Gostaríamos também que analisasse o histórico da execução da obra.
É uma história que ainda será contada. Ela foi uma longa história, quase uma novela, muitos problemas de origem, mas, como é perfil do governo que eu participei, de muita responsabilidade no trato da coisa pública.
Eu não vou discutir o mérito da ideia. Quando o André [Puccinelli] teve a ideia, sem dúvida, muita gente aplaudiu, muita gente criticou. O que se discutiu na época foi a prioridade, se poderia ter feito, se não poderia ter feito.
A condução foi muito ruim, tanto é que ficou dez anos como uma obra em andamento. E quando a gente assumiu, não assumimos uma obra para acabar, assumimos um monte de problemas.
Para mim, pessoalmente, ter gerido esse processo da conclusão da obra foi uma experiência muito importante, um desafio: 13 contratos, 13 empresas, cada uma com seu foco, tendo de coordenar essa interação, e isso foi muito legal.
O segundo grande desafio foi começar a pensar no conceito de funcionamento. Nesse período, surgiram outros aquários e houve o amadurecimento da iniciativa privada em relação aos equipamentos de turismo.
A gente começou a pensar, em 2020, o que era originalmente o conceito do Aquário e o que poderia ser diante de toda essa transformação pela qual o turismo passou e vem passando. E aí que ele começou a se transformar em Bioparque.
O que pode significar isso para Mato Grosso do Sul no futuro?
Eu acho que significa, internamente, a transformação da consciência das pessoas em relação a onde nós estamos e o que significa o que nós temos, do ponto de vista ambiental e cultural, do que é o Pantanal para a nossa formação enquanto sociedade e o que é o ativo ambiental Pantanal, em termos de biodiversidade, de formação de cultura, de importância para a vida das pessoas, de uma maneira geral.
A gente vai ter daqui a 10 anos, no Estado, uma nova percepção em relação a isso, porque as crianças que estão na escola hoje, com idade de 14 a 17 anos, terão uma experiência muito concreta sobre o Pantanal. Elas poderão experimentar um conceito tangível e marcante na formação dela em relação ao Pantanal.
Do ponto de vista da ciência e da tecnologia, é uma rede de pesquisa que se forma em torno do tema, isso com a atração de recursos e pesquisadores e acesso de universidades do mundo inteiro para com o Pantanal.
O Aquário é uma atração turística, mas ele está dentro de um monumento arquitetônico. Os grandes ícones urbanos que têm no mundo inteiro, pega o Rio de Janeiro, com o Cristo Redentor, em São Paulo temos o Masp [Museu de Arte de São Paulo], na Avenida Paulista. Ele transcende muito um aquário.
Eu acho que é uma mudança que vai transformar Mato Grosso do Sul e isso remete ao conceito da ideia. Então foi acertada a ideia do André? Assim, claro que vai deixar um legado. Mas houve uma mudança de conceito.
Este novo conceito do Aquário pode aproximar duas narrativas que estão distantes, a do agronegócio e do meio ambiente?
Veja que, no nosso período de governo, desde o início, nós tentamos mostrar pelo exemplo que não há uma divergência de posicionamento, nem dentro do governo nem dentro destes dois setores, que são socioeconômicos.
Quando a gente montou uma estrutura administrativa, em que meio ambiente e desenvolvimento conversam de maneira intrínseca, conversam sob a égide de uma mesma secretaria [Semagro]. Em outros lugares estes setores têm secretarias distintas.
Não se faz desenvolvimento sem discutir meio ambiente, e não se preserva o meio ambiente sem discutir o desenvolvimento.
É inerente à sociedade o desenvolvimento. Isso está posto. Todo mundo vai ter um emprego, vai ter uma renda.
Não se consegue estagnar uma sociedade, ela está em desenvolvimento, e hoje não se consegue mais pensar no desenvolvimento sem práticas de preservação e de eficiência ambiental.
Então, você colocar e empacotar o desenvolvimento com todos esses conceitos é um forte indicador de que aqui no Estado nós temos uma política extremamente assertiva em relação ao desenvolvimento sustentável. E daí a gente traz o Bioparque, neste conceito ampliado.
E quando você coloca sob perspectiva uma visão de estado para 2030, que é o que nós apresentamos na COP26 [Conferência das Nações Unidas para o Clima], que é mitigar totalmente nossas emissões de carbono. Isso não é retórica. Isso é plano de trabalho, factível, direcionado.
Como vai funcionar a parceria público-privada da energia renovável?
Será assim, o Estado consome “X” milhões por ano de conta de energia. Energia gerada em hidrelétricas, termelétricas.
Aí integra a geração do Operador Nacional do Sistema, as distribuidoras – no caso, aqui é a Energisa – controlam o consumo e o Estado paga a energia que consome, e essa conta é alta.
Como vai funcionar o modelo? Vamos à iniciativa privada, perguntamos quem quer construir uma planta de 20 megawatts de produção a partir de energia solar ou qualquer outra fonte renovável, e forneça para o Estado, e essa conta que o Estado paga a Energisa nós pagaremos para o parceiro privado que investiu para gerar esses 20 megawatts.
É um modelo muito similar ao da Infovia então?
Sim, é muito similar à infovia. A diferença é que lá o governo economiza na conta de telefone: R$ 5 milhões por mês.
Nós conseguimos 53% de desconto. Então, em vez de pagar R$ 5 milhões, vamos pagar R$ 2,5 milhões, e eles vão investir R$ 600 milhões em uma rede de fibra óptica.
Só que em vez de falar de “calhambeque”, nós vamos falar de “Ferrari”. Vamos estar com uma rede superveloz, tráfego de dados para escolas, delegacias, hospitais...
Se fala em telemedicina. O que limita a telemedicina? A infraestrutura. Por exemplo: lá em Caarapó, se tirar um raio-x, a imagem já não vem, já há dificuldade. Com a infovia já acabou o problema..
Como a Infovia entra nessa modernização da telecomunicação, como a tecnologia 5G?
A gente viu o governo Bolsonaro agora licitar o 5G, novas antenas, novo formato da comunicação do Brasil está avançando. Mas, para isso ser efetivo, temos de ter as infovias.
Por isso estamos em consonância com toda uma transformação que está em andamento.
Na logística, vimos que o governo de Mato Grosso do Sul avançou muito na pavimentação de rodovias, mas as ações federais, como o acesso à ponte do Rio Paraguai, a BR-419, ou mesmo o destravamento da Malha Oeste, ainda estão em ritmo lento, o que houve?
A gente procura andar em paralelo, e não só isso. A gente procura forçar o governo federal a acelerar os investimentos aqui. Nem sempre a gente tem sucesso.
Essa discussão passa pela pressão política, pela articulação, para demonstrar, que é o que a gente vem fazendo. Isso vale para a BR-419, BR-262, BR-267, BR-163, BR 158, que é a continuidade da MS-306, que a gente está assumindo via leilão, que é um novo trecho da concessão, que é BR-158/MS-112.
Acho que a gente tem de fazer a nossa parte, e em paralelo ir pressionando o governo federal, mostrando a eles que nós temos de evoluir também nesses investimentos em âmbito federal.
E os contratos de gestão, vieram para ficar?
Não vejo como mudar. Seria um retrocesso muito grande se acabassem, mas governante pode muito né?
Se ele adota um modelo que não prioriza o resultado... Mas tem muita gente que gosta da bagunça: quanto maior a confusão, melhor, e usam isso para poder gerir.
Agora, quando o foco está no resultado, você tem metodologia mais do que testada e provada na administração.
Como você avalia o governo do Estado nesta reta final?
É inquestionável todo o processo que foi construído para o resultado. E isso a gente enxerga pelos números.
O Estado que mais investe per capita do Brasil, e isso não é pouca coisa. Aqui é onde mais se investe, porque nós fizemos um dever de casa de enxugar a estrutura meio, para aplicar na estrutura fim.
Por isso a regionalização da saúde, a segurança pública com tudo o que a gente colocou à disposição dela, uma educação que privilegia as escolas reformadas, novas, atuais, modernas. Das 347, o Estado reformou mais de 250.
Uma de suas características como gestor sempre foi ser mais discreto. Como avalia os outros gestores, que parecem estar sempre nas redes, em plena campanha?
As pessoas estão ficando cada vez mais críticas em relação ao processo eleitoral. Elas estão cada vez mais conscientes.
Isso leva cada vez mais a um debate qualificado. Claro que sempre tem essa estrutura: rede social, mídia, que é o parecer ser.
Parecer ser alguma coisa, para poder se vender do ponto de vista eleitoral. Isso é natural da democracia. Mas, por um outro lado, as pessoas estão mais críticas, querendo saber um pouco mais, querendo conhecer um pouco melhor.
A melhor maneira de poder mostrar algo para a população é o resultado. Quando as pessoas sentem que algo mudou na vida delas, é a maneira mais assertiva.
Eu fico muito orgulhoso de ter participado da construção de um programa como o Conta de Energia Zero.
A pessoa beneficiada, às vezes alguém que não tem dinheiro para comprar comida, pode não conhecer toda a profundidade e a estrutura que torna o programa possível, mas ela sente ao notar que a conta dela está paga. Isso é um incentivo. Isso vale para todas as ações da retomada da economia, por exemplo.
O morador de Mato Grosso do Sul está mais seguro após dois anos de pandemia?
Em momento nenhum o sul-mato-grossense foi abandonado, e a transparência na condução foi fundamental. Lá em 2015, éramos nota 1,4 em transparência, depois, nos tornamos nota 10.
Hoje, em 20 dias, o Estado dá resposta para questionamento de qualquer cidadão. A transparência na comunicação é fundamental.
A gestão na pandemia teve no seu âmago, essa capacidade de falar; todo dia estava lá Geraldo [Resende, ex-secretário de Saúde], informando o número de casos, de mortes, de hospitalizados. Eu toda semana estava lá na live do Prosseguir, dando as informações.
As pessoas, ao olhar tudo isso, se situavam e poderiam pensar: “Olha, vou dar um tempo em casa”, ou se sentiam mais seguras para sair.
Brigas e desentendimentos a parte, nós nunca entramos na judicialização, na politização. A comunicação era fundamental e as ações também. Tem de comprar respirador, aumentar leito, ir atrás das vacinas, isso. Não, não entramos em questionamentos. A gente seguiu base científica, e tomamos atitudes que deviam ser tomadas.
O que você acha de discutir costumes e comportamentos individuais nas eleições?
Acho que faz parte. As pessoas têm a curiosidade de saber a opinião. Eu, particularmente, respeito muito as diferenças.
Gênero, religião são questões pessoais. O que não é pessoal é base de valor e caráter. Temos pessoas de caráter e valor de qualquer religião, de qualquer gênero, de qualquer cor e de qualquer raça. Tenho dificuldade de entrar nessa discussão quando ela vai para o lado da conversa fácil.
Sou cristão de formação, sou católico, exerço isso, e exerço principalmente nas atitudes, de se praticar no dia a dia, e não na conversa.
E quem é Eduardo Riedel do cotidiano, das horas de lazer?
Olha, estão sobrando pouquíssimas horas vagas. Eu sou muito família, sou muito de casa. Gosto muito de esporte, de cultura. Gosto de assistir um bom filme e de arte. E nas horas vagas, gosto de esportes em geral, futebol, vôlei, natação, ciclismo, corrida, futevôlei.