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NO ESTADO Mesmo sem reajuste, litro da gasolina atinge preço recorde e chega a R$ 7,09 O mercado aponta que a defasagem entre o valor internacional e o praticado pela Petrobras é de até 30%, o que deve resultar em nova alta 10 MAI 2022 • POR Súzan Benites • 08h30

O último reajuste de preços na gasolina foi registrado há quase 60 dias. Mesmo sem novos valores anunciados pela Petrobras, nos postos de combustíveis de Mato Grosso do Sul o litro atinge valor recorde, de R$ 7,09, variando entre R$ 6,87 e R$ 7,89.  

Conforme dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), este é o maior valor para o litro do combustível desde o início da série histórica, que começou em 2001.  

Com isso, a população busca alternativas, como o parcelamento dos combustíveis no cartão de crédito ou mesmo a troca por outros meios de transporte (leia mais na página 6).  

Na comparação com o mesmo mês do ano passado, o aumento é de 24,82%, ou de R$ 1,41. E um novo reajuste deve ser anunciado nos próximos dias. 

Analistas financeiros apontam que há uma defasagem entre os preços praticados no mercado internacional e os comercializados pela estatal.  

Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), com o dólar valorizado e os preços de referência dos combustíveis em patamares elevados no exterior, as defasagens médias estão em 21% (R$ 1,27 por litro) e da gasolina, em 17% (R$ 0,78 por litro). 

Outros agentes do mercado apontam que a defasagem do preço da gasolina já chega a 30%.

Para o diesel, no entanto, a estatal já anunciou um reajuste de 8,8%, que passa a valer a partir de hoje (10). Nos postos de combustíveis do Estado, o litro do óleo diesel também figura com o maior valor já praticado, sendo comercializado a R$ 6,57, indo de R$ 6,12 a R$ 7,03.

O mestre em Economia Eugênio Pavão explica que a defasagem apresentada diz respeito à tentativa do governo de controlar os preços internos, evitando maior pressão sobre a inflação.

“Como a gasolina pesa muito mais do que o gás e o diesel no índice de preços [inflação], a melhor alternativa é a alta desses outros derivados. Entretanto, a alta da gasolina é inevitável pelo limite de preços dos demais derivados”.

“Desta forma, a alta da gasolina será escalonada com o diesel e o gás, fazendo com que o consumidor pague mais até que haja uma mudança do padrão de reajustes escolhido”, analisa.

O economista Márcio Coutinho ainda pondera que a demanda também impacta no aumento dos preços.

“É uma consequência da oferta e demanda. Em 2020, houve uma retração econômica, uma redução na extração de petróleo, e a demanda foi maior do que a produção, o que consequentemente forçou o preço desde então. Associado a isso temos o preço internacional”.  

De acordo com o doutor em Economia Michel Constantino, o mercado exterior deteriorou-se com a continuidade da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, diminuindo a oferta de petróleo pelo mundo e pressionando os preços do barril.  

“Para que os distribuidores mantenham estoques, é necessário ter um valor de venda que valha a pena comprar do exterior e da Petrobras”, diz Constantino.  

LUCRO

A estatal divulgou na semana passada o balanço positivo do primeiro trimestre do ano, de R$ 44,5 bilhões em lucro líquido. O valor é 3.718% maior do que o arrecadado no mesmo período do ano passado, que foi de R$ 1,167 bilhão.  

Segundo a Petrobras, 80% dos ganhos do período foram provenientes das atividades de exploração e produção de petróleo e 20% de todos os demais segmentos.

“A política de preços adotada pelo Brasil, de paridade com o mercado internacional, é o que explica esse lucro da empresa, com a compra e venda de produtos derivados do petróleo”, afirma Pavão.

O lucro bilionário passa a ser dividido entre os acionistas e, de acordo com os analistas, o governo federal detém boa parte desses recursos.  

“Dividendos são lucros pagos aos acionistas, como o maior acionista é o governo, há uma proposta no Senado para usar esse lucro para custear esses aumentos”, explica Constantino.

Tanto em sua live semanal quanto em evento realizado no sábado (7), o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi contrário aos novos aumentos nos preços.

“Eles sabem que o Brasil não aguenta mais um reajuste de combustível em uma empresa que fatura dezenas de bilhões de reais por ano às custas do nosso povo brasileiro”, disse o presidente.  

Bolsonaro disse não entender como a Petrobras, mesmo conseguindo esse desempenho, segue aumentando os preços dos combustíveis. 

Segundo ele, considerando a atual margem de lucro, a empresa teria capacidade de aguentar um longo período sem promover novos reajustes.

Em entrevista ao jornal O Globo, o presidente da estatal, José Mauro Coelho, disse que a Petrobras não é insensível à sociedade brasileira, principalmente em momentos atípicos, como com o conflito no leste europeu.  

“Que afeta os mercados de energia, em especial, o diesel. E a Petrobras, preocupada com isso, vem acompanhando os preços de mercado, não repassando essa volatilidade de imediato, mas, claro, em determinado momento reajustes devem ser feitos para que a gente mantenha a saúde financeira da companhia”.

PARIDADE

Para definir o preço dos combustíveis, a estatal segue a política de paridade internacional (PPI), estratégia que faz com que o preço da gasolina e do óleo diesel acompanhe a variação do valor do barril de petróleo no mercado internacional, bem como a do dólar.

Segundo o economista Renato Gomes, a paridade não deveria ser considerada a única política viável.  

“Uma política de rentabilidade seria alternativa. Caso fosse implementada outra perspectiva na gestão da empresa, não haveria necessidade de se reajustar esses preços, sem comprometer a saúde financeira da empresa”.

Ainda de acordo com Gomes, o mundo tem exemplos de excelentes empresas de petróleo controladas por governos, “muito bem-sucedidas, tais como Aramco [Emirados Árabes] e Equinor [Noruega], mas, em virtude do exemplo do nosso vizinho Venezuela [PDVSA], o presidente tem medo de alterar a política de preços, porque seria muito atacado, e isso teria impacto em parte de sua base de eleitores, que são liberais puristas, que não compreendem a diferença entre setores puramente competitivos e setores oligopolistas”, defende.