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VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO Furtos e colisões ajudam seguros de veículos subirem 30% na Capital De janeiro a julho deste ano, já ocorreram quase 4 mil acidentes nas ruas de Campo Grande; no mesmo período, 1.356 carros foram furtados na cidade 18 AGO 2022 • POR Natália Olliver • 09h30

Ter um seguro para proteger os veículos de furtos, roubos e acidentes tornou-se até 30% mais caro em Campo Grande este ano em comparação com 2021. 

Os dados são resultados de apuração feita pelo Correio do Estado com seguradoras locais.  

Conforme publicado na edição desta quarta-feira (17), o índice de furtos de veículos registrados este ano em Campo Grande é o maior dos últimos 10 anos, com 1.356 casos catalogados até julho, dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).  

Este ano, de janeiro a julho, foram registrados em Campo Grande 3.882 sinistros. E, segundo as operadoras, esta é uma das causas que contribuíram para que houvesse aumento no valor dos seguros.

Entre os principais motivos que levaram os condutores a procurarem pelo serviço oferecido pelas seguradoras também estão os furtos e roubos.

Róger Terra, consultor de seguros na Carandá Corretora e Administradora de Seguros, ressaltou que o aumento na tabela Fipe (criada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e referência utilizada pelas seguradoras como base para negociações de veículos) está exorbitante em 2022 em comparação com o ano anterior e que isso causou diminuição de clientes no âmbito.

“Aqui na corretora tem gente que deixou de fazer renovações porque está muito caro. A média da Fipe subiu de 8% até 25%, dependendo do veículo, isso implicou no aumento do seguro também”, contou o consultor.  

Conforme Terra, para reduzir o valor cobrado pelas seguradoras, alguns clientes optam por seguros personalizados, não mais pelos completos, que incluem garantia de reparo e danos, tanto para terceiros quanto para o próprio carro do condutor.

“Eles fogem do seguro completo e procuram os personalizados, ou só para casos de roubo e furto ou colisões, direcionando a cobertura somente para terceiros. Ou seja, apenas para danos causados pelo condutor em outro veículo”, frisou.

PREÇO

A precificação dos seguros de veículos está ancorada em estatísticas de mercado, feitas de maneira individualizada, uma vez que têm como parâmetro fatores como perfil do cliente, modelo, utilização do veículo, idade, sexo do condutor, número de dependentes, histórico de colisões ou furtos anteriores.  

Para estipular o valor cobrado, Róger Terra destacou que as empresas têm um sistema responsável pela análise de todas as condições mencionadas.  

“Eu lanço o perfil e o veículo em todas as seguradoras, então o sistema lê, compara o valor cobrado nas outras e me dá o preço anual. Posso ter o mesmo modelo de carro ou perfil, mas, por exemplo, se o condutor mudar o CEP, pode ser que mude o valor”, pontuou.

Terra explicou que a mudança de endereço pode contribuir com alterações no preço cobrado em razão do índice de roubos, furtos e acidentes registrados nas regiões.

Além de todos esses elementos, o corretor acrescenta que algumas seguradoras incluem, ainda, a análise de score do cliente (pontuação que indica, com base em dezenas de critérios, se um consumidor é bom ou mau pagador e se ele deve ou não ter acesso ao crédito), ou seja, quanto mais baixo o índice, maior o valor do seguro.  

Terra exemplificou a alteração sentida no setor pelos clientes. Em 2020, o seguro de um veículo do modelo Gol 1.0, geração 5, fabricado em 2014, custava, em abril, R$ 1.492,00. 

Já em 2021, no mesmo período, o valor reduziu R$ 7,00, para 1.485,90. Este ano, o veículo pode estar assistido pela seguradora por R$ 1.992,42, acréscimo de R$ 506,52 sobre o valor de 2021.

De acordo com o corretor, um dos fatores que podem ter contribuído com aumento da tabela Fipe são as peças de reposição, no caso, a ausência delas no mercado automotor.

“Sem exceção, teve aumento na média do valor dos seguros de 25% a 30%, no geral. A tendência era diminuir comparado ao ano anterior, era para ser um aumento mínimo, como é percebido de 2020 para 2021”, finalizou.

CARROS ANTIGOS

Conforme o informado ao Correio do Estado pela Polícia Civil, assaltantes de veículos em Campo Grande preferem carros antigos para praticar o crime de subtração, em razão de possuírem menos sistemas de segurança e serem fáceis de desmanchar.  

Em contrapartida, com o aumento do valor do seguro, condutores de carros mais velhos deixaram de renovar a assistência prestada pelas seguradoras ou mudaram a cobertura do seguro.  

O proprietário da RS Corretora de Seguros, que não quis ter o nome publicado, relatou à reportagem que ainda há procura por seguros de carros antigos, mas o interesse acaba quando o cliente recebe o orçamento do seguro.

“Em virtude do custo desse aumento dos últimos 12 meses, diminui a procura do pessoal. Quanto mais usado e mais antigo é, mais caro é o seguro. Fica inviável. O valor corresponde ao mesmo preço de um carro popular novo, que custa cerca de R$ 70 mil a R$ 75 mil. No caso, esse seguro custaria, em média, de R$ 2.500,00 a R$ 3 mil”, destacou.

FURTOS

Campo Grande teve este ano o maior número de registros de furtos de veículos de toda a série histórica (últimos 10 anos), com1.356 registros, de janeiro a julho. Entre os anos de 2019 e 2020, o índice variou de 1.112 em 2019 para 1.188 no ano seguinte.  

Em 2021, houve queda significativa, com o registro de 977 casos de subtração de veículos. A polícia afirmou que a região mais perigosa da cidade é o entorno da Santa Casa e que carros antigos são os mais furtados.

COLISÕES

Conforme dados da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), o trânsito de Campo Grande já foi responsável pela morte de 54 pessoas, de janeiro a julho deste ano.  

Este mês de agosto já contabiliza três acidentes fatais de trânsito. Ao todo, foram 3.882 sinistros. Dos acidentes com óbitos, de janeiro a julho deste ano, 33 eram de motociclistas.