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SAÚDE Rol exemplificativo não soluciona demanda para o tratamento do autismo Oferta por terapias concentrada em Campo Grande e falta de polos no interior sobrecarrega sistema da Capital 23 SET 2022 • POR Leo Ribeiro • 15h35

Motivo de festa para qualquer um ligado - não só, mas também - à causa autista, a sanção da lei do rol exemplificativo (que obriga os planos de saúde a arcar com tratamentos que não estejam na lista de referência básica da ANS) está longe de dar fim à alta demanda por terapia na Capital. 

Com essa definição do rol exemplificativo, será necessária comprovação científica ou que o tratamento seja reconhecido por alguma agência estrangeira, para requerer coberturas fora da lista da Agência Nacional de Saúde Suplementar. 

Alexandre Figueiredo, do projeto guardião azul - amigo do autista, aponta que essa é uma importante conquista, sendo necessário agora acompanhar a regulamentação, uma vez que os planos de saúde têm um impacto grande nos tratamentos os autistas.

"A grande maioria das clínicas estão situadas em Campo Grande. E a demanda por profissional especializado é cada vez maior. Porém, no MS inteiro, não temos faculdades de Terapia Ocupacional e Fonoaudiologia, para prover o aprendizado presencial e ampliar a oferta das terapias, principalmente no interior", explica ele

Sobrecarga

Diretora de patrimônio da Associação de Pais e Amigos do Autista de Campo Grande, Flávia Caloni Gomes ressalta que "não temos condição de suprir a demanda local", além de chamar atenção para a falta de capacitação e profissionais da área de fono, comenta que não é rara a necessidade da convocação de profissionais de fora.  

"Então os planos de saúde estão tendo que dar os seus pulos, até porque o repasse para esses profissionais, eles são pequenos, né, e muitos profissionais não ficam no plano".  

Ela não discorda de que a sanção foi fantástica para a causa, mas frisa que a demanda está muito alta, principalmente com relação ao autismo.  

"Nem as clínicas, os planos de saúde e as associações de ações, muito menos o SUS, conseguem atender do jeito que deveria ser o atendimento.

Caloni cita que, sem polos de atendimento nas demais cidades, moradores do interior do Estado, com planos de saúde, vêm até Campo Grande para atendimento, gerando sobrecarga na rede local.  

"Na correria, para tentar alguma coisa para os seus filhos... já chegou à mim uma situação de Três Lagoas, que a mãe vem na quarta-feira de manhã, pega o ônibus, o filho tem atendimento e de noite ela volta".  

Ela diz que Campo Grande não tem conseguido atender os planos de saúde locais, precisando lidar simultaneamente com essa demanda extra e, sendo necessário investimentos dos próprios planos, além de um conjunto de políticas públicas, segundo Flavia, o dinheiro necessário não deve vir tão cedo.  

"Talvez nos próximos anos seja eles acabem esses polos para tentar facilitar, mas é que eu te disse, nós não temos nenhum profissional para atender em Campo Grande", finaliza.

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