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SAÚDE Vacinação contra a pólio tem menor cobertura da série histórica na Capital Campanha teve 22% de vacinados; ex-adjunta garante que este é o menor índice desde o começo da vacinação contra a doença 1 OUT 2022 • POR Daiany Albuquerque • 08h00

Campo Grande atingiu este ano o menor índice de cobertura vacinal contra a poliomielite de toda a série histórica. Com apenas 22% do público-alvo vacinado, a cidade teve o pior desempenho na imunização da doença da série histórica em que há registro na Secretaria Municipal de Saúde (Sesau).  

Segundo a médica infectologista Ana Lúcia Lyrio, que foi secretária-adjunta da Sesau entre 2009 e 2012, nunca, desde o início da aplicação desta vacina, a Capital teve um índice tão baixo. A campanha foi encerrada nesta sexta-feira (30).

De acordo com os dados da Sesau, nos últimos anos em que a Pasta tem registro, porque segundo a assessoria houve mudança no sistema, não foi possível atingir o índice recomendado pelo Ministério da Saúde, que é de 95%.

“É possível perceber uma queda significativa na cobertura vacinal, sendo a VIP [vacina contra poliomielite ministrada de forma injetável] a que possui a menor cobertura em 2021, com apenas 78,27% das crianças vacinadas. 

Nos anos anteriores, a cobertura também ficou abaixo da meta de 95% estabelecida pelo Ministério da Saúde. Em 2020, a cobertura foi de 82,7%; no ano anterior, 84,6%; em 2018, 85,7% das crianças com menos de 1 ano foram vacinadas; 85,95% em 2017; e 92,8% em 2016”, relata a Sesau.

Este ano, porém, a campanha chegou ao menor índice já registrado, uma vez que apenas 22% das crianças entre 1 e 4 anos receberam uma dose de reforço da vacina. A estimativa é de que esse público seja composto de 57.428 crianças, porém, apenas 12 mil tomaram o imunizante.

“Mesmo com os esforços de conscientização da prefeitura para intensificar a vacinação, por meio da oferta das doses em todas as unidades de saúde, plantões de vacinação aos sábados e feriados e realização de ações itinerantes em shoppings e supermercados da cidade, além da divulgação constante das campanhas, os resultados obtidos ficaram aquém do esperado”, seguiu nota da Pasta.

Conforme Lyrio, Campo Grande nunca registrou um número tão baixo de adesão a esta campanha de vacinação

“Eu posso te garantir que nunca houve um número tão baixo quanto esse. Fui secretária-adjunta de 2009 a 2012 e sempre tivemos os melhores índices nacionais [mesmo antes deste período na Pasta]. O Brasil era referência na vacinação e Campo Grande sempre ultrapassava a meta”, garantiu.

O baixo índice vacinal é um alerta, segundo ela, para a possível volta da doença, que está erradicada no Brasil desde 1994. O último caso no País foi registrado em 1984. A vacinação é a única forma de prevenir a doença viral e que causou epidemias em 1910, 1930, e na década de 1950.  

Segundo dados do Ministério da Saúde, a doença contabilizou mais de 26 mil casos entre os anos de 1968 e 1989 no Brasil.

“Nós temos uma população em que grande parte está vacina, mas, com o passar do tempo, se mantivermos esses dados baixos de vacinação, todos estarão expostos. Essa doença não desapareceu, e quando entrar uma pessoa com ela a população fica exposta. Uma família deixar uma criança sem vacina, exposta, é um absurdo, as pessoas têm de ter bom senso, não misturar política com saúde”, afirmou a médica.

De acordo com Lyrio, vários fatores podem ter contribuído para essa redução tão brusca na procura pelo imunizante em Campo Grande, e uma delas é a onda antivacina, que tem afetado não só o Brasil, mas vários países.  

“São vários motivos, as unidades não oferecerem em horários em que as pessoas que trabalham poderiam procurar, o desinteresse da população, entre vários outros”, declarou.

O pediatra Alberto Jorge Flex Costa frisa também que houve um menor trabalho feito pelo Ministério da Saúde, com baixa divulgação nos meios de comunicação.

“Muitos pais estão totalmente desatentos a essas campanhas, e uma das grandes causas disso é que hoje não existe mais convocação do Ministério da Saúde, anúncio nos meios de comunicação. Antes nós tínhamos uma campanha massiva, com o Zé Gotinha indo aos supermercados, em escolas. E tem o fator da campanha antivacina”, afirma Costa.

DOENÇA

A poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, é uma doença contagiosa aguda, causada por vírus que pode infectar crianças e adultos e, em casos graves, pode acarretar paralisia nos membros inferiores.  

É uma doença contagiosa aguda, causada pelo poliovírus, que pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas doentes. Nos casos graves, em que acontecem as paralisias musculares, os membros inferiores são os mais atingidos.

Recentemente, uma pessoa foi diagnosticada com poliomielite em Nova York, nos Estados Unidos. O paciente adulto foi diagnosticado com a doença em julho deste ano, quase uma década depois do último caso registrado naquele país. Amostras do esgoto de três municípios no estado indicaram que a doença circulava nestes locais desde abril.

Por causa disso, a governadora do estado de Nova York, Kathy Hochul, declarou, no início de setembro deste ano, estado de emergência. A medida é válida até o dia 9 de outubro deste ano.

Com a presença da doença tão próxima do Brasil, o médico vê a possibilidade de ela voltar a entrar no País. “A partir do momento em que o vírus da pólio chega, há um grande perigo de ela se alastrar rapidamente. Como a gente faz parte de um país com baixa cobertura vacinal, essas coberturas estão decrescendo ano a ano, é terreno fértil para a chegada do vírus ao nosso país”, comenta.

“É uma doença grave, que causa sequelas irreversíveis, como a paralisia, e é totalmente prevenível. Como os pais jovens de hoje não viram essas doenças acontecerem, estão relaxados, mas não viram por conta dessas campanhas de vacinação que foram massivas”, completa o pediatra.

Segundo a Sesau, apesar de a campanha ter sido concluída nesta sexta-feira, o imunizante continuará à disposição da população nos postos de saúde de Campo Grande.  

Neste sábado (1º), os pais podem levar as crianças à Unidade Básica de Saúde (UBS) Dona Neta, UBS 26 de Agosto ou Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) Moreninha, das 7h30min às 17h, sem intervalo.

Municípios do interior atingiram a meta

Em todo Mato Grosso do Sul, 55,7% do público-alvo se vacinou contra a poliomielite. Ao todo, a estimativa era de que 173.154 crianças fossem vacinadas, no entanto, até quinta-feira (29), apenas 96.506 haviam procurado os postos de saúde. 

No interior, 19 municípios atingiram ou ultrapassaram a meta: Novo Horizonte do Sul, Eldorado, Glória de Dourados, Selvíria, Antônio João, Vicentina, Paraíso das Águas, Sete Quedas, Corumbá, Santa Rita do Pardo, Tacuru, Caracol, Naviraí, Aral Moreira, Inocência, Rio Negro, Douradina, Ivinhema e Coronel Sapucaia.

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