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Política O pesadelo da acne O pesadelo da acne 30 ABR 2010 • POR • 02h58

Cristina Medeiros

“Olha, eu me sinto às vezes um monstro. Se eu estou numa rodinha de amigos e chegam algumas meninas, elas beijam todos os outros e não me beijam, me acenam com as mãos. Eu acho que elas têm nojo”. Este é apenas um entre os vários depoimentos de adolescentes que fazem parte de um estudo qualitativo e quantitativo sobre acne no Brasil, realizado a pedido da companhia farmacêutica Galderma Brasil. Ninguém gosta de olhar no espelho e se deparar com aquela saliência vermelha horrorosa, principalmente o adolescente, cujo problema não ataca somente a pele, mas também a vaidade e a autoestima.
Considerada uma doença crônica, ela afeta 80% dos adolescentes no mundo, incluindo aí o  Brasil – o que representa 24 milhões de brasileiros nessa fase da vida. Somando-se este número ao dos adultos, chegamos a 40 milhões de pessoas enfrentando o problema no País, segundo dados da empresa franco-suíça de produtos dermatológicos, que investe 20% de seu faturamento em pesquisas e promoveu no Rio de Janeiro o 1° Acne Day, com a presença de médicos brasileiros e de outros países, que promoveram uma ampla discussão sobre a doença.
Entre os participantes está a médica Eva Ritvo, professora do departamento de psiquiatria da Faculdade de Medicina de Miller, da Universidade de Miami, autora do livro “The beauty prescription” (ainda sem tradução para o português), que apresentou estudo inédito sobre “Como o adolescente com acne é visto pela sociedade”. A pesquisa com jovens de diferentes etnias, com e sem acne, mostra o quanto a doença pode influenciar na percepção e formação da imagem desse indivíduo. O estudo realizado nos EUA traça um panorama sobre as dificuldades enfrentadas pelos adolescentes que sofrem de acne.
Segundo os resultados, a sociedade tem a tendência de encarar o jovem com espinhas como tímidos e com menos chances de se sair bem em encontros. O estudo foi feito pela médica, em parceria com a Sociedade Americana de Acne & Rosácea e o patrocínio da Galderma. Os participantes foram convidados a dar suas impressões a respeito de um grupo de adolescentes, com base exclusivamente nas fotos de seus rostos, com pele saudável ou modificada digitalmente para simular a acne.
“A acne é uma doença que atrapalha a atratividade e o desenvolvimento do adolescente. Para eles, a imagem que as pessoas têm de seu exterior exerce enorme impacto em como eles se sentem sobre si mesmos”, disse a psiquiatra Eva Ritvo. Segundo a pesquisa, 64% dos adolescentes com acne já se sentiram constrangidos. Entre eles, 95% afirmaram que o motivo do constrangimento foi causado pela maneira com que as pessoas os observaram.

Constrangimento
Outros dados do estudo revelam que os adultos americanos acreditam que mais da metade (56%) dos adolescentes com acne estão suscetíveis a ser vítimas de constrangimento, em comparação com 29% dos que não têm. Foi registrada também uma percepção negativa para os adolescentes com acne em relação aos que não têm. É comum que a sociedade os considere tímidos (39% contra 37%), nerds (31% contra 17%), solitários (23% contra 13%) e com poucas chances de se tornarem líderes (29% contra 49%).
Já os adolescentes que não têm o problema são vistos de maneira mais receptiva. Eles têm maior probabilidade de serem percebidos como autoconfiantes (42% contra 25% dos jovens sem espinhas), felizes (50% contra 35%), divertidos (40% contra 28%), e inteligentes (44% contra 38%).
“A acne não atinge apenas adolescentes, pode surgir em outras fases da vida; mas nós abrimos uma pequena janela e vimos como ela afeta o surgimento da identidade e da autoestima. A acne, como a obesidade, necessita de reconhecimento: que é uma doença e tem tratamento”, alertou a psiquiatra.
A pesquisa ainda apontou o que pensam os entrevistados sobre a vida afetiva de quem apresenta acne na adolescência. Para 64% dos adultos, os adolescentes com o problema têm menos probabilidade de irem a um encontro no final de semana. Entre os próprios jovens, apenas 36% acham que o adolescente com acne tem chances de ter um encontro no fim de semana. “Os pais têm papel fundamental nesta fase, precisam acompanhar e ajudar a melhorar a autoestima do adolescente. A autoconfiança desempenha papel importante na capacidade do jovem atravessar com sucesso esta fase turbulenta”, completou.