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JUSTIÇA Marquinhos Trad é indiciado por assédio e estupro em inquérito da Polícia Civil Caso foi encerrado ontem pela Delegacia da Mulher de Campo Grande e será encaminhado para o Ministério Público de MS 19 OUT 2022 • POR Daiany Albuquerque, Eduardo Miranda e Alison Silva • 09h33
O ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad na saída da Delegacia da Mulher, após depoimento   Foto: Gerson Oliveira / Correio do Estado

A Polícia Civil indiciou o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD) pelos crimes de estupro, importunação sexual e assédio sexual. A informação foi obtida pela reportagem do Correio do Estado com fontes da polícia.

Os crimes contra a dignidade sexual, apurou o Correio do Estado, foram cometidos contra três mulheres. As denúncias foram feitas em julho deste ano, e os atos sexuais ou tentativa de atos sexuais, em algumas ocasiões, ocorreram no gabinete da Prefeitura de Campo Grande, conforme o relato das vítimas. 

Na manhã ontem, Marquinhos Trad compareceu à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) para prestar depoimento no inquérito que investigava os crimes. 

O depoimento do investigado, conforme o rito dos inquéritos policiais, foi a última fase da investigação. 

Depois de falar à delegada Maíra Pacheco Machado por aproximadamente três horas, Marquinhos Trad atacou o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e evitou falar de fato das acusações. Para ele, o caso foi “armação política”. 

“Uma das maiores armações políticas, institucionais e estatais que este Estado já viu. Infelizmente refletiu nas urnas, e o tempo vai mostrar que foi uma verdadeira crueldade que fizeram. Logo vocês vão ficar sabendo”, comentou, depois de horas de depoimento.

Sobre a investigação, o ex-prefeito disse apenas que seria inocente e preferiu atacar adversários políticos.

O indiciamento ocorre no último dia que a Polícia Civil tinha para encerrar o caso. Em conversa anterior com a reportagem, a delegada responsável chegou a cogitar pedir nova prorrogação das investigações.

Com a decisão de indiciar o ex-prefeito, o caso segue agora para o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), para que ele apresente ou não denúncia no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS).
 
Caso seja denunciado pelo MPMS, Marquinhos será réu por estupro, importunação sexual e assédio sexual.

INVESTIGAÇÃO

Marquinhos Trad começou a ser investigado em julho deste ano, quando três mulheres procuraram a Polícia Civil para se queixarem dos abusos que teriam sido praticados por ele enquanto ocupava o cargo de prefeito de Campo Grande. 

No depoimento, elas afirmaram que o ex-prefeito prometia emprego em troca de relações sexuais.

Em dois casos houve relação sexual consentida com as mulheres. Mas em um deles uma das mulheres ficou assustada ao ver o ex-prefeito seminu no banheiro. Este caso foi tratado como tentativa de estupro na ocasião. 

Durante a investigação, mais de 13 mulheres procuraram a Polícia Civil para se queixar de episódios abusivos envolvendo o ex-prefeito. 

Ao todo, Marquinhos Trad foi denunciado por 16 mulheres por assédio sexual, tentativa de estupro e favorecimento à prostituição, entretanto, no mês passado, a defesa do ex-prefeito já havia conseguido desqualificar como vítimas 10 mulheres, restando ainda seis em investigação.

No início deste mês, porém, Trad conseguiu uma vitória parcial na Justiça de Mato Grosso do Sul. A 3ª Câmara Criminal do TJMS concedeu habeas corpus e trancamento do inquérito policial em relação a três vítimas. 

Segundo o relator do último habeas corpus, desembargador Luiz Claudio Bonassini da Silva, da 3ª Câmara Criminal do TJMS, o relato de três mulheres que se disseram vítimas do ex-prefeito não configurou crime.

“Resta cristalino que, inobstante na percepção de [o nome da vítima será preservado] o paciente tenha expressado uma intenção libidinosa, o que não se discute, o fato é que nenhuma conduta que possa configurar qualquer ato libidinoso, mesmo na forma tentada, foi posta em prática. Mesmo no que toca às mensagens posteriormente remetidas via aplicativo de celular, pelas quais resta clara a efetiva intenção libidinosa, ao receber a resposta firme em sentido contrário, o paciente recuou, sem qualquer insistência. Diante de tais fundamentos, conclui-se que a conduta do paciente em relação a [vítima], conforme as declarações por ela prestadas, e acima transcritas, é penalmente atípica”, afirmou o desembargador sobre um dos casos encerrados.

No entanto, o político ainda era investigado por outros três casos, que resultaram no indiciamento desta terça-feira.

OUTRO INDICIADO

No dia 9 de setembro, Victor Hugo Ribeiro Nogueira, que era servidor comissionado do gabinete de Marquinhos Trad no período em que ele era prefeito, foi indiciado pelos crimes de corrupção ativa de testemunhas, coação no curso do processo e favorecimento à prostituição, tornando-se réu no dia 22 de agosto.

A conexão do caso de Victor Hugo com o caso de Marquinhos é que o ex-servidor teria supostamente coagido uma das vítimas a mudar sua versão em cartório.

* Colaboraram Beatriz Feldens e Alanis Netto