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Operação La Casa de Papel

Esquema de pirâmide causou R$ 4,1 bilhões de prejuízo em mais de 80 países

Investigação teve início em Dourados e operação desencadeada hoje cumpriu 47 mandados

19 OUT 2022 • POR Glaucea Vaccari • 11h31
Joias, ouro, artigos de luxo, entre outros, estão entre itens apreendidos   Divulgação / Receita Federal

Uma organização criminosa responsável por esquema de pirâmide financeira transnacional, com aplicação de golpes em mais de 80 países, foi desarticulada nesta quarta-feira (19), na Operação La Casa de Papel, desencadeada pela Polícia Federal, Receita Federal e a Agência Nacional de Mineração (ANP).

O grupo criminoso captava recursos de investidores, sob a alegação de gerir aplicações muito rentáveis em setores de minas de diamantes, vinhos, viagens e energia.

No entanto, a quadrilha criou uma criptomoeda própria, sem ter autorização para funcionar como instituição financeira.

Mais de 1,3 milhão de pessoas tiveram prejuízos, estimado em R$ 4,1 bilhões, desde 2019, quando começaram as operações da organização criminosa.

Operação
Pedras preciosas foram apreendidas com o grupo criminoso (Foto: Divulgação)

Na operação desta quarta, mandados expedidos pela 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande foram cumpridos no Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás, Maranhão e Santa Catarina. São seis de prisão preventiva contra os líderes do esquema e 41 mandados de busca e apreensão.

Entre os presos, está o empresário Patrick Abrahão, marido da cantora Perlla, ex-funkeira, que é um dos donos da rede suspeita de aplicar golpes.

Também houve bloqueio de 20 milhões de dólares e sequestro de dinheiro em contas bancárias, imóveis de alto padrão, gado, veículos, ouro, joias, artigos de luxo, mina de esmeraldas, lanchas e criptoativos em posse das pessoas físicas e jurídicas investigadas.

Investigação

As investigações começaram em 2021, na cidade de Dourados, após a prisão em flagrante de dois integrantes do grupo e de um segurança particular, que transportavam 100 mil dólares em esmeraldas, sem a documentação comprobatória da origem legal da pedra preciosa.

Eles estavam seguindo para o Paraguai, com escolta armada, 

As investigações apontaram a existência do esquema e que os envolvidos tinham relação com uma entidade religiosa e, a partir disso, foi possível a identificação de mais envolvidos na organização criminosa.

Além da pirâmide financeira, a quadrilha também praticava crimes contra o sistema financeiro nacional, evasão de divisas, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, usurpação de bens públicos, crime ambiental e estelionato.

Os investigados utilizavam redes sociais, marketing e reuniões em diversos estados e países para captar investidores.

Também havia apoio da igreja que pertencia a um dos suspeitos e que, sozinha, movimentou mais de R$ 15 milhões, sendo utilizada para a ocultação e lavagem de dinheiro.

Para movimentação do dinheiro, também foram utilizadas as contas bancária dos investigados, empresas de fachada, parentes e terceiros ligados ao grupo.

EscreGrupo criou esquema bilionárip de pirâmide financeira (Foto: Divulgaçaõ)

O grupo oferecia pacotes de investimentos, com aportes financeiros que variavam de 15 dólares a 100 mil dólares, com promessa de ganhos diários em percentuais altissímos, que poderiam chegar a 20% ao mês e 300% ao ano.

O lucro seria através de transações no mercado de criptoativos, por supostos traders que seriam responsáveis por multiplicar o valor investido. Eles também incentivavam os investidores a atrair novos clientes, prometendo ganhos sobre os valores investidos pelas novas pessoas atraídaas para o esquema.

Os supostos investimentos também englobavam lucros provenientes de minas de diamantes e esmeraldas, mercado de vinhos, viagens, usina de energia solar e de reciclagem entre outros.

No fim do ano passado, o grupo se sofisticou e lançou duas criptomoedas próprias, sem qualquer base financeira.

Investigação apontou que houve manipulação de mercado para valorizar a criptomoeda artificialmente em 5.500% em 15 horas, com objetivo de manter a pirâmide mais tempo em atividade, já que as moedas digitais foram usadas para pagar os investidores.

Com a valorização rápida, no entanto, as criptomoedas perderam o valor de mercado.

Pelas redes sociais, os supostos empresarios afimarvam que estavam legalizados na Estônia e que eram sócios de duas instituições financeiras, mas as empresas não existiam, além do grupo não ter autorização para captação e gestão dos recursos em qualquer país.

Contra os investigados, havia diversos alertas de órgãos financeiros em países como Espanha e Panamá, pela ausência de autorização para operar e que se tratava de esquema de pirâmide financeira.

Os integrantes do esquema tinham milhões de seguidores nas redes sociais e ostentavam vida luxuosa, atribuindo ao sucesso pessoal e de investimentos.

Esquema de pirâmide causou prejuízo a mais de 1,3 milhão de pessoas em 80 países
Derrocada

Os problemas para a organização começaram quando um dos líderes foi preso, em Cuba.

O grupo passou a impor dificuldades para a realização dos pagamentos aos investidores e, para garantir os lucros próprios, estabeleceram prazos maiores para o resgatem impedindo o saque de valores aportados.

No fim de 2021, os investigadores planejaram um falso ataque hacker, alegando para os investidores um grande prejuízo financeiro devido à suposta ação, e retiveram todo o dinheiro, propondo a suspensão de todos os pagamentos sob o argumento da necessidade de uma auditoria financeira.

Passado um tempo, eles migraram o esquema para uma nova rede, para que os investidores continuassem aportando dinheiro.

Houve ameaças aos clientes de que, quem processasse ou fizesse boletim de ocorrênca, não receberia o valor investido de volta.

Nesse período, as redes sociais do grupo, sites e outras páginas passaram a receber centenas de reclamações de pessoas que buscavam recuperar o dinheiro.

Com a operação desta quarta, a Polícia e Receita buscam desmobilizar toda a organização criminosa, impedindo novos golpes, com a prisão dos líderes e suspensão das atividades das empresas, além de buscar, posteriormente, o ressarcimentos aos lesados.

Os investigados irão responder pela prática dos crimes de organização, crimes contra o sistema financeiro por operar sem autorização, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, usurpação de bem mineral da União Federal, execução de pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, falsidade ideológica e estelionato por meio de fraude eletrônica.

As penas máximas somadas podem chegar a 41 anos de prisão.

A operação recebeu o nome de La Casa de Papel em alusão à série espanhola, devido aos investigadores também terem nacionalidade espanhola e por terem elaborado um bilionário esquema de pirâmide financeira, com seu próprio banco e casa da moeda, com a fabricação das criptmoedas.