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CONTRA QUEM? No 5.º dia de manifestação, atos antidemocráticos afetam de formas diferentes a população Reunião de pessoas que discordam do resultado das urnas é regada à carne assada e fogos, que alegram uns enquanto prejudica a outros 4 NOV 2022 • POR LEO RIBEIRO E CAUÊ REIS • 12h29
Manifestações entram no 5º de atos anti-democráticos, contra o resultado das urnas
Manifestações entram no 5º de atos anti-democráticos, contra o resultado das urnas   Marcelo Victor/ Correio do Estado

Desde que Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito, manifestantes organizam atos antidemocráticos por todo o Brasil, que contestam o resultado das urnas eletrônicas, como exemplo a concentração organizada há quase uma semana na frente do Comando Militar do Oeste, na Av. Duque de Caxias. 

Num primeiro momento, os bolsonaristas trajados em verde e amarelo - que ocupavam inclusive rodovias estaduais e federais -, esperavam um posicionamento de atual presidente da República, que desse força. 

Jair Bolsonaro se manifestou, pedindo que os motoristas desobstruíssem as rodovias, mesmo após ordem direta do Tribunal Superior Eleitoral que não havia sido cumprida. 

Ainda assim, em Campo Grande, a concentração que acontece em frente ao CMO demonstra que está longe de terminar. Bancada pelo "agro", os manifestantes armaram tendas, trouxeram isopôr e têm assado carnes em churrascos diários. 

Para quem observa de fora, mora nas regiões ou transita pelo local, as opiniões divergem, entre aqueles que apoiam o movimento, e outros que já não aguentam mais o sofrimento enfrentado nos horários de pico. 

Esse movimento tem tido diversos desdobramentos, que vão desde a incerteza da duração das manifestações, até quem apoia e financia os acampamentos antidemocráticos. 

Mais recente, inclusive a figura do vereador de Campo Grande, Sandro Benites (Patriota), foi flagrada em cima do carro de som, em discurso que gerou burburinho na presidência da Casa de Leis. 

"É um negócio que você fez como ato pessoal seu, e não pode incluir a Câmara. Um pensamento golpista seu. A Câmara é um poder legislativo que respeita a democracia, se eu estou aí com um mandato é porquê eu fui eleito e os outros respeitaram minha eleição, como respeitaram a sua também", argumentou o presidente da Casa, Carlos Augusto Borges, em áudio direto ao parlamentar envolvido, obtido pela imprensa. 

E o cidadão?

Moradora de Campo Grande, Flávia, de 26 anos, revela momentos de tensão que enfrentou enquanto transitava pelo local da manifestação. 

Logo na segunda-feira (31), ela revela que buscava um amigo no aeroporto, e que não tinha conhecimento da  manifestação, mesmo com o trânsito lento que, até então, tinha sido confundido com um simples horário de pico. 

"Só percebi o caos que estava quando entrei na duque de caxias e nao tinha como sair. A minha cachorrinha estava comigo, ela ta estava agitada por conta de fogos que estavam soltando mas estávamos longe então ta tudo sob controle", revela Flávia. 

Ela explica que, quando entendeu que se tratava de uma manifestação, já não tinha como sair do tumulto, até a simples ida ao aeroporto tornar-se um momento de terror. 

"Minha cachorrinha começou a passar muito mal... os fogos, as pessoas gritando na janela, as buzinas. Tanto eu quanto ela ficamos desesperadas porque eu entrei numa espécie de crise de pânico, porque estava agressivo e eu não conseguia sair de jeito nenhum", comenta.

Nem mesmo a música conseguiu abafar o som das manifestações, com Flavia e sua cadelinha presas no trânsito por mais de meia-hora. 

Seguir uma ambulância ao meio ao caos foi a solução encontrada por Flávia, que perdeu a avó durante a pandemia, uma semana antes que ela pudesse tomar a vacina contra a Covid-19. 

Tremendo, e preocupada que seu animal de estimação perdesse a vida, passando mal no engarrafamento, ela cita que não foi normal ver pessoas gritando ao lado de sua janela fechada. 

Neste meio, entretanto, há quem goste e apoie, como o caso do guardador de carros Vinicius Alexandre, de 25 anos, que viu o fluxo de veículos aumentar com as manifestações.

Morador do Tijuca, próximo ao trevo do Imbirussu, Jeferson Coene, 33 anos, trabalha no comércio de piscinas e diz que não tem o que reclamar, já que fica ali apenas durante seu expediente. 

"O trânsito pega mais no fim da tarde, hora que o pessoal sai do trabalho fica intensa a situação. Durante o dia é isso aí. Tava uma faixa só. Mas se continuar ou não, não afeta em nada a gente. Nosso público é mais exclusivo", expõe. 

Outro trabalhador da região, João Lima, 55 anos, presta serviços de informática, e reafirma que o trânsito fica lento durante o horário de pico. 

"Tá tranquilo, até porquê o benefício disso daí é maior do que o dano que causa", complementa. 

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