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Em MS, assédio eleitoral, casos de racismo e discriminação tornam-se recorrentes

Polícia Civil e Ministério Público conduzem apuração de situações registradas em ao menos seis municípios do Estado

5 NOV 2022 • POR MARIANA MOREIRA • 09h30
Escola em que a adolescente de Corumbá estuda; a jovem gravou um vídeo com falas xenofóbicas e racistas contra grupos que defendem Lula   RODOLFO CÉSAR

A polarização extrema na eleição deste ano, principalmente em torno da definição para presidente, gerou repercussões negativas para o comércio em ao menos seis cidades de MS, além de investigações conduzidas pela Polícia Civil e o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS).

Casos de assédio eleitoral, racismo, discriminação e crime em relações de consumo entraram na lista de apurações e geraram embates.

Os problemas com maior repercussão ganharam notoriedade entre a noite de domingo (30 de outubro), após o resultado do segundo turno da eleição, e esta sexta-feira e foram registrados em Campo Grande, Dourados, Costa Rica, Maracaju, Nova Andradina e Corumbá. 

Em todos esses municípios há relação de denúncias formais feitas à polícia ou diretamente ao Ministério Público para que sejam apurados os fatos. 

Os atos relacionados às reclamações formais estão ligados a pessoas que apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas urnas pelo candidato Luiz Inácio Lula da Silva. 

O resultado apertado das urnas (50,90% para Lula, contra 49,10% para Bolsonaro) fomentou mais ainda os ânimos dos bolsonaristas. A diferença nominal foi de 2.139.645 votos, o que corresponde a menos de 2% do eleitorado que votou neste segundo turno.

Conforme apurado na Polícia Civil, os casos que foram registrados estão sendo investigados e, se houver materialidade, vão ocorrer denúncias ao Ministério Público. Já por parte do órgão fiscalizador, o Núcleo Eleitoral do MPMS está voltado para analisar todas as denúncias que forem feitas, principalmente envolvendo os casos que podem atrapalhar o comércio local. 

“O Ministério Público está analisando caso a caso se há algum crime. Cada pessoa ou comércio atingido pode ingressar diretamente com ação judicial para defender seus direitos, sem prejuízo”, apontou o promotor de Justiça do Núcleo Eleitoral, Moisés Casarotto.

Nessa lista de casos de violência e ataques, o mais recente envolve denúncias ligadas ao diretor clínico do Hospital Regional Francisco Dantas Maniçoba, Ygor José Saraiva, de Nova Andradina. Ele alegou que quem votasse no PT não seria atendido por ele.

“O MPMS instaurou um inquérito civil para apurar a situação. No entanto, não será possível dar detalhes, para não atrapalhar o andamento do caso”, divulgou MPMS.

Ainda foi registrada ocorrência ligada à atitude de um adolescente. Em Corumbá, desde o domingo à noite, o vídeo de uma estudante de escola particular, bolsista, viralizou por conta dos xingamentos proferidos. 

A jovem, de 15 anos, destilou falas de cunho xenofóbico e racista contra grupos sociais e pessoas que foram caracterizadas pelo eleitorado bolsonarista como defensores de Lula e responsáveis por votação que derrotou o presidente nas urnas. “Odeio pobre, nordestino, arrombado tem que morrer”, foi uma das falas da adolescente.

O vídeo da adolescente foi feito em um bar famoso de Corumbá e acabou ganhando várias telas de celulares pela cidade. A repercussão foi tão grande que o colégio onde ela estuda decidiu emitir nota para desvincular a imagem do ocorrido da instituição, que está ligada à Igreja Católica.

“Não apoiamos qualquer ato discriminatório ou xenofobia, repudiamos qualquer ação do tipo. Educação e respeito começam em casa. Cada um é responsável pelo que fala e faz”, detalhou o comunicado do Colégio Salesiano de Santa Tereza, que fica no Centro de Corumbá.

INVESTIGAÇÃO

A Delegacia de Atendimento à Infância, Juventude e Idoso de Corumbá (Daiji) recebeu a denúncia e instaurou ato infracional ligado a racismo. O caso já foi concluído e encaminhado para o Ministério Público local analisar.

Depois do registro policial e da repercussão negativa, a estudante fez um vídeo, de 1 minuto 28 segundos, de retratação e publicou em redes sociais. 

“Venho pedir desculpas, minhas sinceras desculpas a todas as pessoas e a todo mundo que se sentiu ofendido, principalmente aos nordestinos, que eu mencionei. Quero dizer que eu errei, sim, mas somos todos humanos, todo mundo erra. A vida é assim, feita de erros e acertos. [...] Não é essa a educação que eu recebo dentro de casa, tampouco da instituição que foi exposta. Não desejo a morte de ninguém, jamais. Não foi algo do fundo do meu coração que eu quis dizer, foi no calor do momento”, alegou a jovem, que nesta semana não compareceu às aulas.

Além da estudante, um professor do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul em Nova Andradina também foi gravado questionando o processo eleitoral e ressaltando a ditadura militar, o que gerou críticas e nota oficial do órgão. 

Conforme o IFMS, foram iniciados os trâmites para apurar a conduta do professor por meio da Comissão de Ética e do Núcleo de Apoio à Correição.

“Eu tenho 46 anos, lembro pouco da era da ditadura militar, mas meus pais, meus avós, você pergunta para quem quiser da ditadura militar – a entre aspas ditadura militar –, quem trabalhou, quem não fazia bagunça, foram os melhores anos das vidas deles, 90% é a favor”, discursou. (Colaborou Rodolfo César)

Consequências

Conforme apurado pelo Correio do Estado na Polícia Civil, os casos que foram registrados em seis cidades de Mato Grosso do Sul como assédio eleitoral, racismo e xenofobia estão sendo investigados. Se houver materialidade, vão ocorrer denúncias ao Ministério Público.