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CAMPO GRANDE Manifestantes bolsonaristas desaparecem e reaparecem em 90 minutos de Brasil na copa Avenida Duque de Caxias, palco das manifestações contrárias aos resultados das eleições, se transforma durante a primeira partida do Brasil na Copa do Catar 24 NOV 2022 • POR Elias Luz • 19h44
Manifestantes voltaram à avenida após o término do jogo do Brasil   Foto: Correio do Estado

A Copa do Catar, como em todas as copas do mundo, mexe com o imaginário do brasileiro.

São 26 Estados e um Distrito Federal – e todos loucos for futebol, e por um gol brasileiro.

Mato Grosso do Sul ama futebol, ama ver a seleção brasileira jogando bola.

E hoje não foi diferente: a copa promoveu amplo desfalque nas manifestações contrárias aos resultados das eleições presidenciais em Campo Grande, precisamente na avenida Duque de Caxias.

Faltou gente durante o jogo e chegou muita gente depois da estreia brasuca na copa.

Minutos antes da partida, nem parecia que havia um movimento – há 24 dias - contrário à vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições presidenciais, que culminou com a derrota de Jair Bolsonaro (PL) – o primeiro presidente da redemocratização do Brasil que não conseguiu se reeleger.

Durante a estreia do Brasil na copa, o movimento que pede intervenção federal por militares com a permanência de Bolsonaro no poder, esvaziou-se em Campo Grande e, por 45 minutos, foi dominado pelo empoderamento feminino de maioria, ou seja, quase não havia homens no local. Onde eles estavam? Ninguém sabe.

Sabe-se apenas que a primeira partida da seleção canarinho na copa do mundo estava acontecendo.

A avenida Duque de Caxias tinha trânsito normal e sossegado, com duas vias de pistas livres, mas a cada fechamento de semáforo, manifestantes marchavam com a bandeira do Brasil – tudo isso em frente ao quartel do Comando Militar do Oeste (CMO).

Ao mesmo tempo, quem não estava no semáforo disputava as poucas sombras de um dia de sol intenso, com temperatura elevada e de baixa umidade relativa do ar.

Até mesmo a presença de comerciantes vendendo camisas, bandeiras e bonés havia sido diminuída em grande escala. Na hora do jogo, muitos vendedores desapareceram.

Alguns deles, os poucos remanescentes, até afirmaram que tinham vendido muitas camisas pretas para um grande ato, mas não enxergavam muita gente com elas.

Com a temperatura elevada e um sol escaldante, as camisas pretas ficaram para depois. No mesmo ambiente, muitos carros permaneceram parados e ligados com o ar-condicionado ligado. Famílias inteiras dentro deles e, em outros veículos, grupos de amigos.

Em alguns momentos, portas abriam-se e latas – de cerveja e refrigerantes – voavam.

Os mais educados levavam sacos de lixo na cor preta.

Quando o jogo do Brasil começou, o hino nacional tocou – em frente ao CMO - e as poucas dezenas de manifestantes bolsonaristas que estavam no local ficaram em pé diante do quartel.

Diante deles, apenas jovens soldados cumprindo seu dever, sua escala de trabalho de vigilância.

O cenário permaneceu desta forma até o intervalo do jogo. A partir daí, grupos significativos de bolsonaristas começaram a chegar ao local, e o movimento – em termos quantitativos- enrobusteceu-se. Gritos por nomes de generais foram entoados.

O segundo tempo de Brasil e Sérvia começou, a temperatura se amenizou e dezenas de manifestantes reiniciaram o engrossamento das fileiras pró-bolsonaro.

Cânticos militares eram a trilha sonora. Homens e mulheres usavam vestimentas de estéticas remetentes a tecisos utilizados em fardas militares.  

O clima era de anticopa do mundo, embora fosse notório que os participantes destinavam um olho para a manifestação e outro para o celular.

O jogo estava, literalmente, na mão. As provas ficaram cristalinas quando o Richarlison assinalou os dois tentos nas redes sérvias.

Gritos de alegria suprimidos e sorrisos de alívio com a curta frase imperativa e afrmativa: “é gol”. A partir daí: felicidade contida e novos discursos prontos.

O jogo do Brasil acabou e os discursos de ódio retornaram. Agora, a tônica era o enaltecimento do agronegócio com o clamor de que o Brasil deveria matar o mundo de fome, ou seja, o pedido do orador era claro: “temos o mundo em nossas mãos. Nos recusemos a vender, e eles (o mundo) se ajoelharão diante de nós. Assim vamos mostrar a força do Brasil e dizer que a esquerda brasileira nunca mais chegará ao poder”.

A partir do momento da substituição dos manifestantes, com a saída de mulheres religiosas e a entrada de homens com gritos contra o resultado das eleições, acusações contra tudo e todos se proliferaram.

Desta vez, o orador do trio elétrico disse: “o conceito de bullying foi criado pela esquerda e isso, simplesmente, não existe e – repito - foi algo criado pela esquerda”.

Bullying é uma palavra de origem inglesa que designa atos de agressão e intimidação repetitivos contra um indivíduo que não é aceito por um grupo, normalmente na escola.

Depois deste momento, a equipe do Correio do Estado sofreu bullying e foi convidada a se retirar da avenida Duque de Caxias.

Eram todos, de amarelo, contra um, também de amarelo.

Tudo isso em 90 minutos e acréscimos da partida. Fim de jogo!