Neymar pode alcançar Pelé como recordista de gols pela seleção brasileira se marcar uma vez contra a Croácia. Harry Kane igualará Rooney e será o maior artilheiro da Inglaterra em todos os tempos se fizer contra a França, que teve Giroud superando o recorde de Henry, contra a Polônia.
A Copa do Mundo ainda tem Messi, Cristiano Ronaldo e teve Luis Suárez, todos detentores do maior número de gols por suas seleções.
A estatística mente, mas também ajuda a pensar.
Por que, atualmente, há tantos recordistas? Em parte, a razão é haver mais jogos de seleções do que no passado. Platini, quarto artilheiro da França, fez 41 gols em 72 jogos. Giroud entrou em campo de "bleu-blanc-rouge" 117 vezes, para fazer 52. Harry Kane é diferente. Anotou 52 em 79 partidas. Entrou em campo 41 vezes a menos do que Wayne Rooney, que tem um mísero gol a mais.
O caso de Pelé e Neymar é o mais fácil de resolver. Ser Rei é passar 75 anos da vida ouvindo que Maradona pode ter sido melhor, Cristiano Ronaldo mais goleador, Di Stéfano mais rápido, Cruyff mais inteligente... A comparação é sempre com Pelé.
Isso, simplesmente, já o torna o melhor de todos os tempos. Coloque-se Pelé num pedestal e discuta-se o que vem abaixo.
Em outros esportes, é óbvia a evolução dos atletas. Jesse Owens correu 100 metros em 10,2 segundos, em 1936. Usain Bolt é o detentor do recorde há 13 anos, com 9,58 segundos.
O progresso das marcas torna quase indiscutível a exuberância maior dos campeões do presente no atletismo, no ciclismo, no automobilismo e na natação.
O advérbio quase está aqui empregado porque é possível debater a melhora dos uniformes, das pistas, dos equipamentos e das piscinas.
No basquete, não foi difícil descobrir Michael Jordan melhor do que Wilt Chamberlain.
O futebol é o esporte mais amado do planeta, e isso faz com que a memória afetiva esteja sempre presente, em qualquer torcedor, em qualquer país apaixonado por uma bola.
Portugal demorou para admitir Cristiano Ronaldo melhor do que Eusébio. Messi fez 94 gols pela Argentina em 169 jogos. Maradona marcou 60 a menos, em 91 partidas. Na média, ninguém tem dúvida de quem é melhor: Messi!
Messi?
Maradona ganhou a Copa e ninguém tira isso dele –nem de quem viu. Messi é o maior jogador a que assisti num estádio, e vi Diego frente a frente, mas não no ápice. Em 1996, Boca x River na Bombonera, Caniggia marcou três gols, e Maradona deu-lhe um beijo na boca. A estrela da partida foi Caniggia, não Diego.
É difícil não ser Peter Pan quando se fala de futebol. A gente não quer crescer nunca, porque aquilo que um menino de 12 anos viu, nunca viu nada igual.
E o que um homem de 53 anos assistiu, ah... tantas vezes foi tão parecido.
Qual é a Copa da sua vida?
O normal é dizer que nunca se esqueceu daquela de quando você tinha entre 8 e 13 anos de idade. A minha é a de 1982, a do Maurício Stycer provavelmente será a de 1970 (ou 1974), a do Juca as de 1958 e 1962, que ouviu pelo rádio. A do Tostão nem precisa perguntar, porque ele ajudou a torná-la inesquecível.
Giroud nunca se esquecerá da partida contra a Polônia, na Copa de 2022, aquela em que se tornou o maior artilheiro da seleção francesa. Ganhando ou perdendo, Neymar e Harry Kane sempre se lembrarão das quartas de final no Qatar.
Pela vitória, pela derrota ou pelo recorde.