A França foi o melhor time da Copa na primeira fase. Não é mais e tem um pecado que pode ser mortal: entra no modo apagão. Uma vez por jogo, tem uma queda de rendimento que permite ao adversário criar chances e ameaçar suas vitórias. Contra Messi, isso pode decidir.
Por outro lado, o time de Didier Deschamps tem enorme consciência tática para impor seu estilo. Sabia necessitar de três aspectos fortes contra o Marrocos.
A saída de bola tinha de ser perfeita. Varane deu o passe para Griezmann se colocar às costas de Mazraoui, enquanto o lateral esquerdo se preocupava com Dembélé. Essa falha, aliada ao erro de posicionamento da defesa, permitiu o gol de Theo Hernández aos 5 minutos.
Também seria necessário pressionar a saída de bola e ter precisão nas faltas e nos escanteios. Um erro grave do técnico marroquino, Walid Regragui, foi começar o jogo com três zagueiros. Equívoco estratégico e também aposta errada num jogador lesionado. O líbero, Saiss, não aguentou mais do que 20 minutos. A entrada do meia Amallah coincidiu com o modo apagão. Marrocos melhorou.
Regragui estava confiante de manhã. Um encontro casual com este colunista no elevador permitiu ouvir do treinador que ele iria vencer: "Não importa a rivalidade. Vamos ganhar". Seu excesso de confiança pode ter causado o vacilo tático. Mesmo assim, o zagueiro El Yamiq deu uma bicicleta na trave no primeiro tempo. O Marrocos quase empatou.
Sua torcida dava show, ora assobiando para amedrontar os ataques da França, ora com coreografias. A torcida árabe se uniu na primeira Copa em um país árabe. À maioria marroquina uniam-se alguns tunisianos e qatarianos.
Das arquibancadas para o campo, a pressão do Marrocos aumentou na segunda etapa, a ponto de se ver até um suspiro assustado do presidente francês, Emmanuel Macron, sentado ao lado de Gianni Infantino, da Fifa.
A França só conseguiu se equilibrar com um pouco de catimba, passes curtos, gastando o tempo. Não é o jogo da França.
Deschamps trocou Dembélé por Muani, o 26º convocado, depois dos cortes de jogadores machucados. Tinha gente dizendo que o técnico deixou de convocar o último nome porque não havia talento para tanto. Estrela é isso. Muani é o líder de passes para gols no Campeonato Alemão. Não é o artilheiro.
Só que a bola sobrou como um presente dentro da pequena área, depois de finalização de Mbappé desviado na defesa.
A França lembra a Alemanha de 1990, que fez a decisão contra a Argentina. Aquele time, dirigido por Franz Beckenbauer, começou goleando Iugoslávia e Emirados Árabes. Dava espetáculo.
Nos mata-matas, tornou-se pragmático, por vezes burocrático. Ganhou da Holanda por 2 a 1, da Tchecoslováquia por 1 a 0, da Inglaterra nos pênaltis.
Chegou à final contra Maradona, com o tornozelo muito machucado, acima do peso, um gênio cansado.
A diferença é que Messi é um gênio. Apenas um gênio.