Flávio Paes
O primeiro Núcleo Industrial de Campo Grande, no Distrito de Indubrasil, passa por processo de favelização, 33 anos depois de sua implantação. Está sitiado por invasões de áreas públicas e particulares. Dentro do seu perímetro de 200 hectares, famílias estão ocupando instalações de empresas fechadas, terrenos onde deveriam estar funcionando indústrias, invasores se estabeleceram, construíram casas, um deles abriu um bar e outro transformou a área numa chácara, onde cria algumas cabeças de gado.
As instalações do que era uma fábrica de soro fisiológico foram invadidas por cinco famílias que fizeram ligações clandestinas de água e luz. Um dos moradores, ex-interno da Colônia Penal, Paulo de Oliveira, mora com a mulher e o irmão no prédio onde era a recepção e os escritórios da empresa. “Estou aqui há oito meses. Isto aqui estava abandonado e era usado por usuários de droga”, assegura. Ele se queixa da perseguição da polícia. “Ontem à noite (quinta-feira passada) eles estiveram aqui dando uma batida. Não acharam nada”, revela. “Vivo de catar material reciclável, não mexo com essas coisas”.
Entre seus vizinhos, José Zito de Cruz, que há dois anos mora com a mulher, Rosa Maria e os enteados, no galpão onde funcionava a fábrica. “Ganho pouco, não tenho condições de pagar aluguel. Enquanto os donos não tiram a gente daqui, vamos levando a vida por aqui mesmo”, explica.
A algumas quadras dali um dos pontos de encontro dos trabalhadores é o bar do José, que depois de ficar desempregado com o fechamento da indústria onde trabalhava, resolveu ficar por ali mesmo. Construiu a casa e transformou num pequeno negócio. “Quando me pedirem para sair, vou embora. Faço a limpeza do terreno e não deixo mais gente invadir”, informa.
A menos de 500 metros do bar, dona Maria, há 20 anos ocupa uma faixa do terreno próximo ao prédio abandonado do moinho de trigo que foi um dos mais modernos do país. Ela construiu uma casa de madeira e tem algumas cabeças de gado. “Entrei aqui com autorização da prefeitura”, avisa.
As invasões também chegaram à via de acesso ao núcleo pelo braço do anel rodoviário que interliga as saídas para Sidrolândia e Aquidauana. Ao longo da faixa direita (sentido Coophavila/Indubrasil) da rodovia centenas de famílias se instalaram. Alcides Costa Leite está ali há 12 anos. Construiu casa e montou restaurante para atender caminhoneiros. A duplicação da pista ou construção de acostamento vai exigir a demolição de algumas casas.