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Custo da passagem é o maior problema do transporte coletivo, indica pesquisa

Levantamento IPR/Correio do Estado mostra insatisfação da população com alto preço da passagem e superlotação dos ônibus

14 FEV 2023 • POR Eduardo miranda • 09h00
Usuários do transporte público enfrentam ônibus superlotados todos os dias em Campo Grande   Gerson Oliveira

O custo da passagem é o principal problema do transporte público de Campo Grande, aponta levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas Resultado (IPR), a pedido do Correio do Estado.

A insatisfação do usuário do transporte coletivo com o custo da passagem de ônibus urbano em Campo Grande vem à tona na semana em que a prefeitura da Capital deve anunciar o novo valor da passagem. 

Ontem, a administração municipal chegou a convidar a imprensa para anunciar o novo valor da passagem, que atualmente é de R$ 4,40. Mas, faltando menos de meia hora para o evento, cancelou o anúncio, que seria feito pela prefeita Adriane Lopes (Patriota). 

A pesquisa IPR/Correio do Estado foi realizada entre os dias 24 e 28 de janeiro, com 402 entrevistados. A margem de erro é de 4,9 pontos porcentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%.

A PESQUISA

De acordo com o levantamento, 37,56% dos moradores de Campo Grande com mais de 16 anos consideram o custo da passagem o principal problema no transporte público da cidade. A superlotação vem logo em seguida, com 33,08%. 

A lentidão é o terceiro maior problema do transporte coletivo da Capital, conforme a pesquisa IPR: o problema foi apontado por 6,47% dos entrevistados. 

Em seguida aparecem desconforto (2,49%), motoristas mal-educados (1,49%), assédio sexual dentro dos ônibus (0,5%), insegurança (0,25%) e mudar a gestão do transporte público (0,25%).

Uma parcela dos entrevistados (9,7%) disse que todos os quesitos citados são problemas do sistema de transporte coletivo da Capital. Os que não quiseram ou não souberam responder representam 8,21%.

INDEFINIÇÃO

O resultado da pesquisa vem em um momento em que a prefeitura retarda ao máximo o anúncio do reajuste da tarifa de ônibus ao público. O novo valor seria divulgado ontem, mas foi adiado por tempo indeterminado. 

No mês passado, ficou definido que a tarifa técnica do transporte coletivo (o valor em que também são considerados os subsídios) será de R$ 5,80. Isso significa que a próxima tarifa cobrada nas catracas ficará entre R$ 4,40 (valor atual) e R$ 5,80 (tarifa técnica). 

Ontem, a Prefeitura de Campo Grande conseguiu o que precisava para definir a tarifa: o valor que o governo de Mato Grosso do Sul repassará como subsídio. Serão R$ 10 milhões. 

O valor foi definido em reunião na manhã desta segunda-feira entre Adriane Lopes e o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB). A Prefeitura de Campo Grande já mantém, desde o ano passado, R$ 12 milhões anuais como subsídio ao transporte coletivo, valor que não foi reajustado para este ano. 

INSEGURANÇA FINANCEIRA

Enquanto a nova tarifa não é definida, o Consórcio Guaicurus tenta na Justiça reequilibrar o contrato de concessão.

Ontem, o Correio do Estado mostrou, com exclusividade, que o instituto de perícia designado pelo Poder Judiciário apontou que não há necessidade de estabelecer reequilíbrio econômico-financeiro no contrato de concessão do transporte coletivo de Campo Grande. 

A conclusão foi da empresa Vinícius Coutinho Consultoria e Perícia, designada pela 1ª Vara de Fazenda Pública da Capital, em processo movido pelo Consórcio Guaicurus para produção antecipada de provas, cujo objetivo era ingressar com um possível pedido de reequilíbrio do contrato.

Mesmo com uma receita bruta inferior à projetada, a taxa de retorno do investimento (calculada sobre o patrimônio líquido do concessionário) foi de 21,75%, porcentual ainda muito superior à projeção de 12,24% estabelecida no contrato de 2012, indicou a perícia. 

Os números de 2019, ano da propositura da ação, mostram que as reclamações do Consórcio Guaicurus alegadas na petição inicial para produção antecipada de provas eram bem mais enfáticas que a realidade em si. 

A perícia, porém, reconhece a queda de renda do Consórcio Guaicurus na operação entre os anos de 2012 (início da concessão) e 2019 (ano em que a ação foi ajuizada). Esta queda, porém, não foi suficiente para fazer com que a renda auferida pelo Consórcio Guaicurus ficasse aquém da taxa de retorno prevista em contrato. 

OUTRO LADO

Nesta segunda, André Borges, advogado do Consórcio Guaicurus, informou ao Correio do Estado que a perícia avaliou apenas um aspecto do contrato de concessão: a taxa interna de retorno (TIR).

“No parecer do assistente técnico, que logo apresentaremos, demonstraremos que a avaliação precisa ser ampliada, para apanhar o efetivo prejuízo da concessionária”, afirmou o advogado. 

“O consórcio não busca nada que seja ilegal ou abusado. Apenas uma abordagem técnica e juridicamente adequada do contrato de concessão, que está defasado, bastante, no aspecto econômico. O que, por exemplo, impede investimentos”, concluiu.

Saiba: No mês passado, ficou definido que a tarifa técnica do transporte coletivo (o valor em que também são considerados os subsídios) será de R$ 5,80. Isso significa que a próxima tarifa cobrada nas catracas ficará entre R$ 4,40 (valor atual) e R$ 5,80 (tarifa técnica).