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COMOÇÃO NACIONAL "A mãe culpava o irmão da Sophia pelas agressões", diz pai da criança Jean Ocampo diz que quando questionava machucados, mulher dizia que eram de quedas e causados pelo irmão, de 4 anos 15 FEV 2023 • POR Glaucea Vaccari e Ketlen Gomes • 12h07
Jean Ocampo diz que agora quer justiça e ajudar outras famílias a não passarem pelo mesmo   Foto: Marcelo Victor / Correio do Estado

Opai da menina Sophia Ocampo, de 2 anos, morta após ser espancada pela mãe, Stephanie de Jesus da Silva, 24, e pelo padrasto, Christian Campoçano Leitheim, 25, disse que a mulher culpava o irmão da criança pelos ferimentos.

Em audiência pública na Câmara Municipal, nesta quarta-feira (15), Jean disse que a mulher esperava os ferimentos da menina cicatrizarem para entregá-la a ele.

"Era sempre assim, quando a neném estava machucada, ela [a mãe] sumia. Aí quando passava os hematomas, ela aparecia querendo dinheiro", disse Jean.

Ainda segundo ele, quando ele questionava Stephanie sobre as marcas, ela culpava o irmão da criança, um menino de 4 anos, pelos machucados.

"Quando ela vinha com a coloração [dos machucados] já quase cicatrizada, dizia que ela caia o tempo inteiro e, com marcas de mordida, ela falava que era o outro menino [filho de Stephanie] que tinha lá na casa e era um pouco mais velho do que ela", afirmou.

"Então, sempre era culpa do menino, sempre era eles brincando, sempre era uma queda", acrescentou.

Ainda muito abalado pelo caso, Jean conta que o foco agora é buscar justiça por Sophia e ajudar para que outras pessoas não passem pelo mesmo.

"Em relação a tudo, não vai trazer minha filha de volta. Mas o que a gente quer é que outros pais não passam pelo que a gente passou", conta.

"Esse mal, a morte da Sophia eu não carrego nas minhas mãos, porque eu tenho, no meu coração, que o que eu pude fazer para ter a minha filha comigo viva, eu fiz, eu fiz a minha parte como pai, mas eu sou limitado".

Ele critica o fato de ter tentado diversos meios legais para tentar impedir que o caso chegasse a tal gravidade, tanto fazendo boletins de ocorrência devido à suspeita de que a filha era agredida, quanto pedindo a guarda dela na justiça.

Além disso, ele também cita possível omissão da rede de saúde, porque a menina tem histórico de 30 entradas em unidades de saúde e o caso nunca foi reportado.

Sobre estes casos, ele critica a burocracia, pois, pela demora, a menina morreu enquanto o processo ainda tramitava.

Ele disse ainda que apresentou diversos documentos para obtenção da guarda e acredita que houve "homofobia velada" para a não concessão, pelo fato dele ser casado com outro homem.

"Nós estamos buscando justiça pela Sofia e nós queremos que venha ter uma facilidade de acesso em relação aos órgãos que protegem a criança. Porque é muito difícil, você vai num lugar, aí você é encaminhado para outro. Então que todos falem uma só voz, que todos tenham um objetivo só, que é é proteção à criança", pediu.

Caso Sophia

Sophia morreu no dia 26 de janeiro de 2023. Ela foi levada pela mãe até uma unidade de saúde, onde foi constatado que ela já estava morta há cerca de 7 horas e com ferimentos que indicavam que ela foi agredida e abusada sexualmente.

Christian Campoçano Leitheim, 25, e Stephanie de Jesus da Silva, 24, padrasto e mãe da menina, respectivamente, se tornaram réus por homicídio triplamente qualificado, por motivo fútil, contra menor de 14 anos e meio cruel, sendo que o padrasto também é denunciado pelo crime de estupro de vulnerável. 

A mãe também acumula a denúncia de homicídio doloso por omissão, já que só encaminhou a menina à Unidade de Pronto Atendimento aproximadamente sete horas após sua morte. 

Antes de morrer, a criança deu 30 entradas em unidades de saúde devido à agressões que sofria.

Após o crime, a mãe e o padrasto ainda combinaram uma versão para dar à polícia.

Audiência

A audiência foi convocada pela Comissão Permanente de Segurança Pública, composta pelos vereadores Tiago Vargas (Presidente), Coronel Villasanti, Valdir Gomes e Ayrton Araújo, para debater sobre a Rede de Proteção à Crianças e Adolescentes em situação de risco.

Conforme Vilassanti, o objetivo é ouvir todas as entidades e verificar os procedimentos da atual rede de atendimento e proteção à criança e adolescente.

"É preciso identificar se o sistema atual possui falhas e saná-las o mais rápido possível, para que não ocorra mais casos como o da menina Sophia que perdeu a vida com apenas dois anos e meio”, disse Villasanti.